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Segundo dia de protestos no Iraque termina com três mortos, incluindo uma criança

02 out, 2019 - 17:04 • Joana Azevedo Viana com Reuters

Manifestantes exigem mudanças e a queda do Governo de Mahdi, que já prometeu aumentar a oferta de emprego.

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Uma criança e dois manifestantes mortos em segundo dia de protestos no Iraque
Uma criança e dois manifestantes mortos em segundo dia de protestos no Iraque

Três pessoas morreram, incluindo uma criança, e pelo menos 115 ficaram feridas no Iraque esta quarta-feira em renovados protestos contra o Governo de Adel Abdul Mahdi.

A instabilidade no país e as crescentes tensões na região estão a provar-se o último prego no caixão do frágil Governo de coligação liderado por Mahdi, que assumiu funções em 2018 após um entendimento entre fações rivais na ausência de maioria absoluta para qualquer dos partidos a votos.

Os protestos eclodiram na terça-feira, motivados pelo elevado desemprego, a corrupção e os fracos serviços públicos, escalando esta quarta-feira sob cânticos como "Queda ao regime", um slogan que remonta à era da Primavera Árabe que estalou em 2011.

"Exigimos uma mudança, queremos a queda de todo o Governo", disse um manifestante em Bagdade, recusando identificar-se por temer represálias.

O Ministério do Interior diz que a criança que perdeu a vida esta quarta-feira morreu depois de um manifestante ter atirado um cocktail molotov contra um carro civil no distrito de Zafaraniya, no sudeste da capital.

A par do menor, um manifestante foi abatido pela polícia na cidade de Nassiriya, após a polícia usar balas reais para dispersar os manifestantes, avançaram fontes do Ministério da Saúde à Reuters. Um segundo manifestante também sucumbiu a ferimentos de balas disparadas pela polícia, avançaram fontes policiais à mesma agência.

Em várias partes de Bagdade, a polícia e o Exército recorreram a balas verdadeiras, canhões de água e gás lacrimogéneo contra centenas de manifestantes. As manifestações têm tomado de conta de várias cidades de norte a sul do país.

Reunião de emergência

Na sequência dos renovados protestos, o primeiro-ministro convocou uma reunião de emergência do seu Conselho de Segurança Nacional, que esta tarde emitiu um comunicado a lamentar as mortes e o elevado balanço de feridos, entre manifestantes e agentes da polícia, e a reafirmar o direito da população a manifestar-se e a expressar-se livremente.

"O Conselho afirma o direito à manifestação, à liberdade de expressão, e reconhece as exigências legítimas dos manifestantes, mas ao mesmo tempo condena os atos de vandalismo que acompanharam os protestos."

No mesmo comunicado, o organismo nacional anunciou que irão ser tomadas medidas adicionais para proteger os cidadãos e propriedades privadas. Entre essas medidas, algumas já em marcha, conta-se o bloqueio de várias estradas que conduzem a Bagdade, incluindo uma ponte que faz a ligação à Zona Verde fortificada, onde estão sediados edifícios governamentais e várias embaixadas.

Ontem, na sequência dos primeiros protestos pacíficos e numa tentativa de acalmar a população, Abdul Mahdi prometeu garantir emprego a jovens recém-licenciados, ordenando o Ministério do Petróleo e outros organismos governamentais a incluírem quotas de 50% para trabalhadores locais através de subcontratos com empresas estrangeiras.

Uma das nações do mundo mais ricas em petróleo, o Iraque sofre há décadas de uma grave estagnação económica, fruto das sanções impostas pela ONU durante vários anos ao regime de Saddam Hussein. Após a invasão do território pelos Estados Unidos, que acabaria por levar à deposição do ditador, o país mergulhou numa guerra civil que, mais tarde, deu lugar a sangrentas batalhas contra o autoproclamado Estado Islâmico, que foi declarado derrotado no país em 2017.

Apesar do fim da guerra, a corrupção continua a ser endémica e serviços básicos como eletricidade e água continuam sem funcionar. A par disso, a falta de emprego e perspetivas continua a castigar a população, sobretudo em Bagdade, que regista o dobro da taxa de desemprego do resto do país.

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