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Manuel Alegre avisa que não há Governo de esquerda sem o PS

30 set, 2019 - 23:36 • Lusa

Histórico socialista criticou ainda Rui Rio e abriu caminho para um discurso de Marta Temido, em que a ministra da Saúde acusou o PSD de querer transformar o setor num "supermercado".

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O ex-candidato presidencial Manuel Alegre considerou esta segunda-feira que não há Governo de esquerda sem o PS e muito menos contra o PS e advertiu que o PS orgulha-se da 'geringonça', mas não precisa de "professores de esquerda".

Manuel Alegre defendeu estas posições no comício socialista de Coimbra, no Pavilhão dos Olivais, num discurso muito aplaudido, que levantou a assistência em alguns momentos, como nas referências ao falecido presidente honorário do PS, António Arnaut.

Numa intervenção com cerca de 20 minutos, o antigo candidato presidencial e dirigente histórico socialista manifestou total apoio à solução de esquerda, elogiou António Costa e até se demarcou do vice-presidente da bancada do PS Carlos Pereira, que classificou o Bloco de Esquerda e o PCP como "empecilhos".

"Não há empecilhos à esquerda. Os empecilhos vieram sempre da direita", contrapôs Manuel Alegre, antes de deixar uma série de críticas dirigidas sobretudo ao Bloco de Esquerda, embora sem mencionar esta força política.

Nesta fase da sua intervenção, Alegre começou por sustentar a tese de que, historicamente, "a força da direita esteve na divisão da esquerda".

Depois, deixou vários avisos: "Não há estabilidade sem um PS forte; não há diálogo nem convergência sem um PS forte; não há solução governativa sem o PS e muito menos contra o PS".

"Mas mais, não há esquerda em Portugal sem o PS ou contra o PS. Fizemos a 'geringonça' e não temos vergonha dela, temos mesmo muito orgulho no que foi feito nestes quatro anos. Não nos arrependemos, mas também não precisamos de professores de esquerda", completou o escritor socialista.

Críticas a Rio animaram o pavilhão

No seu discurso, o dirigente histórico socialista visou também a atuação do presidente do PSD, Rui Rio, a propósito do caso de Tancos.

"Não precisamos de lições de moral de quem há alguns dias criticava a justiça de tabacaria e agora se arvora em justiceiro eleitoralista", afirmou, recebendo muitas palmas.

Falando para o PS, Manuel advogou que o seu partido precisa de ter confiança em si próprio, até porque, "ao contrário do que pensam alguns, a esquerda precisa de um PS forte", que "não ponha em causa os equilíbrios financeiros".

Mário "Centeno só há um - e esse é o nosso. Sei que alguns não gostam [dele] - eu próprio, às vezes, também não, mas não há políticas de esquerda sem rigor nas contas públicas", sustentou Manuel Alegre.

Depois, Manuel Alegre evocou o falecido antigo ministro dos Assuntos Sociais e criado do Serviço Nacional de Saúde (SNS), António Arnaut, sem amigo de longa data em Coimbra.

"Prometemos a António Arnaut que a Lei 48/90 seria revogada e lutaríamos por uma nova Lei de Bases da Saúde. Prometemos e cumprimos", declarou, num discurso que antecedeu o da ministra da Saúde, Marta Temido, cabeça de lista socialista pelo círculo de Coimbra.

Marta Temido acusa PSD de propor uma saúde "de supermercado"

Marta Temido acusou o PSD de querer voltar ao tempo de Durão Barroso na tentativa de privatizar os centros de saúde.

"O PSD de Rui Rio quer mudar nome do Ministério da Saúde para Ministério da Promoção da Saúde e na verdade o que propõe é uma saúde de supermercado", declarou a também ministra da Saúde, durante um comício em Coimbra, acusando ainda o PSD de não estar preocupado com "os portugueses e a sua saúde".

De acordo com Marta Temido, o facto de o PSD defender no seu programa o alargamento do sistema de lista de espera para cirurgias às consultas de especialidade e exames complementares, através da emissão de 'vouchers', significa que "não está preocupado com a eficiência do Serviço Nacional de Saúde (SNS)".

"No meio da retórica, da transparência, da revelação, da criação de valor, lá aparece a ideologia, aparecem os preconceitos ideológicos que afirmam não ter", afirmou, referindo-se ao programa eleitoral do PSD, neste caso, no que respeita ao setor da saúde.

Segundo a socialista, o PSD quer ainda "voltar aos tempos de Durão Barroso e da sua tentativa falhada de privatizar os centros de saúde", defendendo que "não é privatizando, mas gerindo melhor, que se melhora" o Serviço Nacional de Saúde.

"Quando o programa daquele partido [PSD] defende, e estou a citar, a abertura da gestão dos cuidados de saúde primários a entidades privadas não é mais do que voltar à fórmula que teve a oposição de todos os médicos de família e do presidente Jorge Sampaio", frisou.

Regionalização e descentralização

No comício, realizado no Pavilhão dos Olivais, em Coimbra, o presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), Manuel Machado, defendeu que a regionalização é o passo seguinte à descentralização, sugerindo a realização de um novo referendo.

Contudo, defendeu o também presidente da Câmara de Coimbra, uma regionalização "com critério, com democracia, com garantia de que o processo não é para criar mais uns lugares para alguns titulares de cargos políticos", mas sim para as populações "serem melhor servidas".

Apelando à mobilização dos portugueses, acusou o PSD de, nesta campanha, preferir "inventar incidentes oportunistas", em vez de apresentar "propostas de políticas públicas com soluções credíveis".

Pedro Coimbra, candidato pelo círculo eleitoral de Coimbra e presidente da federação distrital do PS, elogiou, por seu turno, o papel de António Costa na "defesa intransigente" do processo de descentralização, o que fez com "coragem e dedicação".

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