19 set, 2019 - 16:17 • Sandra Afonso
A carne de vaca não deve ser eliminada da nossa alimentação, mas o seu consumo deve ser reduzido. É o que defende o especialista Rui Rosa Dias, que durante dois anos liderou um estudo sobre tendências agroalimentares em Portugal.
Em entrevista à Renascença, dias depois de a Universidade de Coimbra ter anunciado que vai deixar de servir carne de vaca nas suas 14 cantinas a partir de 2020, o especialista em marketing agroalimentar diz que medidas "radicais" como esta só confundem a opinião pública.
"Não sou favorável a radicalismos", diz sobre a medida que a U. Coimbra pretende implementar com vista a tornar-se neutra em carbono. "Creio que não leva a que o efeito que se pretende surtir, ligado às alterações climáticas e à pegada de carbono, e não clarifica a opinião pública nem ajuda a perceber o que está em jogo. Devemos reduzir o consumo, não banir."
"Menos carne, melhor carne"
Para Rui Rosa Dias, a proibição, a fiscalização e os impostos como meios de combate às alterações climáticas "são sempre medidas radicais e, por isso, poderão não ser compreendidas pela opinião pública nem pelos consumidores".
O truque, defende, é comer "menos carne" mas de melhor qualidade. "A produção intensiva ou super-intensiva, a importação de carne de outras raças e o abastecimento de escolas e mercados por raças que não são nacionais, isso sim, deve ser ponderado e discutido politicamente."
De acordo com o estudo que coordenou, concluído no ano passado, até 2028 Portugal vai reduzir o consumo de carne em 5%, com o país a acompanhar uma tendência mundial sobretudo alimentada pela subida dos preços.
"Aponta-se para um horizonte de dez anos, até 2028, para a redução potencial em Portugal do consumo de carne per capita em 5%, à semelhança dos restantes países europeus", refere o investigador à Renascença. "Porém, a origem da proteína animal poderá ser substituída por insetos", aponta.
Ainda segundo o professor do Instituto Português de Administração e Marketing, banir a carne de vaca não reduz a pegada ecológica, pelo que o foco e a aposta devem estar no consumo de raças nacionais.