A+ / A-

​Escola de Pastores começa em setembro. As inscrições estão abertas

02 ago, 2019 - 00:00 • Liliana Carona

A criação da Escola de Pastores integra-se no projeto “Programa de Valorização da Fileira do Queijo da Região Centro”. Uma ideia pioneira, dirigida sobretudo aos mais jovens, que no final do curso têm à espera uma bolsa de cinco mil euros para começar a atividade de pastor na região.

A+ / A-
​Escola de Pastores começa em setembro. As inscrições estão abertas - reportagem de Liliana Carona
Ouça aqui a reportagem da jornalista Liliana Carona

Estão abertas, até ao próximo dia 23 de agosto, as inscrições para a Escola de Pastores. O início da formação está agendado para 23 de setembro.

A criação da Escola de Pastores integra-se no projeto “Programa de Valorização da Fileira do Queijo da Região Centro”, candidatado aos fundos comunitários CENTRO 2020, cujo objetivo se centra na valorização dos queijos DOP da Região Centro.

A ideia pioneira é dirigida, sobretudo, aos mais jovens, que no final do curso, concluído com sucesso, têm à espera uma bolsa de cinco mil euros para começar a atividade de pastor na região.

Debaixo de um calor intenso, apoiado no cajado, com o casaco quente à pendura no ombro, porque à noite faz frio e o pastor António Santos, não sabe a que hora regressa a casa. “Uma pessoa até desanima com isto, é uma vida muito dura, não vejo ninguém, isto um dia acaba, eu penso que ninguém quer isto. Penso que não haverá ninguém interessado, quem quer esta vida presa, sem folgas nem domingos nem feriados?” questiona acerca da Escola de Pastores, criticando os que não querem trabalho, “querem é o subsídio de desemprego”.

O pastor António Santos, 58 anos, com um rebanho de 200 cabeças de gado em Manteigas, não acredita que a recém-anunciada Escola de Pastores vá ter muitos inscritos. Mas a ideia vingou e as inscrições estão abertas.

Regina Lopes, 48 anos, técnica superior do gabinete de saúde pública e veterinária da Câmara de Gouveia, está envolvida nesta Escola de Pastores e desvenda as disciplinas.

“Esta escola vai ser itinerante, temos uma componente teórica de 110 horas e uma componente prática de 410 horas, com formação em maneio sanitário, maneio reprodutivo, alimentar, pastagens e forragens e silvopastorícia, ovinicultura e caprinicultura e gestão da exploração. Vai-se realizar nas escolas superiores, na ESAV, Escola Superior Agrária de Viseu, e na ESACB, Escola Superior Agrária de Castelo Branco. A parte prática será em Viseu, Oliveira do Hospital e Gouveia”, explica.

Projeto envolve criação de bolsa de terras e valorização de queijo DOP

O projeto parte de um consórcio entre associações de produtores, escolas, os centros de tecnologia e as CIMs, (A Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões, a Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela, a Comunidade Intermunicipal da Beira Baixa e a Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra) e a InovCluster que é a coordenadora, líder do consórcio.

Regina Lopes, a responsável do município de Gouveia, salienta que o denominado “Programa de Valorização da Fileira do Queijo da Região Centro” é um projeto muito vasto, “em que a Escola de Pastores é apenas uma componente. Todo o projeto envolve uma criação de uma bolsa de terras, caracterização dos modelos de produção, a atribuição do vale pastor e a implementação de uma estratégia de promoção e marketing dos DOP da região centro, que é o ponto mais nevrálgico da questão, porque sabem que a qualidade vai ser reconhecida. Este projeto é financiado por fundos comunitários, pelo FEDER, num investimento global de cerca de dois milhões de euros. Não tenho ideia que haja um projeto semelhante no país”, destaca.

O objetivo é, segundo Regina Lopes, valorizar o queijo DOP - denominação de origem protegida -, até porque, no final da formação na Escola de Pastores, há um incentivo à qualidade.

“Que no final desta escola consigamos ter 20 produtores que se liguem futuramente à agricultura, porque atrás desta escola existe uma bolsa, um incentivo, um prémio, cinco mil euros, uma pequena ajuda para o início da atividade. É um prémio com compromissos, o pastor tem que se instalar na área”, esclarece Regina.

A responsável mostra-se otimista relativamente à procura pela Escola de Pastores. “Há muita gente a querer mudar de vida e a virem das cidades para as aldeias, e para quem está no desemprego também pode ser uma opção”, considera, acrescentando que tem havido procura por parte de jovens não naturais de Gouveia, que têm adquirido terrenos para se instalarem.

“Este curso é muito vantajoso, porque vai criar uma mais valia que vai permitir fazer a instalação. Mais qualidade, mais quantidade, para que se produza mais qualidade e quantidade”, defende.

Mas porque é necessária uma Escola de Pastores? Regina insiste: “existem novas tecnologias que são desconhecidas e temos que ir atrás dos fatores positivos. Sabemos que a vida de pastor não é fácil, são 365 dias por ano. Não podemos chegar ao fim de semana e abandonar os animais, mas isto tem que ser compensado de alguma forma. E o ser rentabilizado e valorizado o produto de excelência, vai permitir que o agricultor possa ter uma boa qualidade de vida”, refere.

O objetivo da Escola de Pastores é “valorizar as DOPs da região centro, a DOP Serra da Estrela, Beira Baixa e Rabaçal. “As DOPs foram desacreditadas com diversas fraudes, e o produto final nunca foi valorizado e existe essa necessidade, para que o produtor possa vir a aderir a esta atividade”, valoriza Regina, admitindo que “a Escola de Pastores consiste em formar pessoas, ensinar-lhes o que é a ovinicultura para que possam iniciar atividade nesta atividade agrícola”, conclui.

A Escola de Pastores só começa em setembro. Até lá os mais jovens podem ir tirando notas com quem percebe do ofício.

“Em todo o trabalho é preciso paciência, mas aqui muita paciência é pouca, tem que acordar logo bem cedo para tirar o leite ao gado e não tem horas para chegar a casa para jantar”, alerta o pastor de Manteigas, António Santos, que andou na escola até à 4ª classe.

“Toda a família de pastores, uma tradição muito antiga, mas só eu quis seguir a vocação. Nem nenhum dos cinco filhos está interessado nisto”, lamenta.

A ideia que nasceu de um consórcio entre associações de produtores, escolas, centros de tecnologia e comunidades intermunicipais vai arrancar em setembro. Para mais informações, deve contactar a InovCluster, através do telefone 272 349 100 ou do email geral@inovcluster.pt. Os interessados podem também consultar as informações no site da Câmara de Gouveia.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • João Amorim
    03 ago, 2019 11:20
    Mas que bela ideia para distribuir fundos pelos mesmos, a formação é inútil, no entanto os professores e gestores do dito curso não se coibirão de se fazerem pagar a peso de ouro. Digam lá que não é inteligente ? O curso não serve para nada, os idiotas que se inscreverem levam umas migalhas, os professores, gestores e outros que porventura serão bastante mais que os alunos, esses mantem os seus inúteis postos de trabalho e cobram-se como lordes. Parece o IEFP que os únicos postos de trabalho que criam são os deles mesmos.

Destaques V+