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Portuguesa denuncia ataques a voluntários no maior campo de refugiados da Europa

14 ago, 2019 - 17:29 • Ana Catarina André

Dulce Machado tirou o mês de agosto para se dedicar aos que vivem em Moria, na Grécia. Descreve um campo que “é uma vergonha para a Europa” e denuncia as ameaças que a polícia grega tem feito às organizações não-governamentais.

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Dulce Machado chegou ao campo de refugiados de Moria, em Lesbos, na Grécia, no início de agosto. Desde então, a portuguesa tem testemunhado as condições desumanas em que aquelas pessoas vivem e a crescente hostilidade de que os voluntários têm sido alvo.

“Moria é uma vergonha para a Europa. Não é um campo de refugiados. É um campo de concentração”, diz à Renascença a professora, de 42 anos, que dedica o único mês de férias ao trabalho com migrantes. Indignada, decidiu publicar esta quarta-feira um vídeo nas redes sociais em que denuncia “o inferno” que ali existe.

Além das condições de vida dos refugiados – há fome, falta de higiene e de um espaço digno para dormir –, a professora dá conta das dificuldades do que ali fazem voluntariado.

Salam Aldeen, líder da organização não-governamental Team Humanity, com quem Dulce Machado colabora, tem sido recorrentemente ameaçado pelas autoridades, denuncia. Na manhã desta quarta-feira, dia 14, foi detido pela polícia durante algumas horas.

“Disse [aos agentes] que aquilo era ilegal e mandaram-me calar”, conta a docente do ensino básico. “Como não encontraram nenhuma justificação decente para o terem levado, disseram-lhe que tinha a ver com o fogo de artificio que temos aqui para as crianças no Natal e que não se pode usar”, acrescenta.

Nas últimas semanas, o grupo de voluntários tem sido atacado por diversas vezes, a última das quais no domingo. Tudo aconteceu por volta das 21h00, enquanto as refeições da noite eram distribuídas.

“Eram cerca de 200 homens, com pedras, facas, ferros grandes. Partiram um dos carros. Houve pessoas que ficaram feridas. Alguns lutaram com os nossos homens.” A polícia chegou no fim. “Não fez absolutamente nada”, acusa a portuguesa. “Começo a acreditar que não querem as ONGs aqui.”

A juntar à falta de alimentação e higiene, e às ameaças, Dulce Machado é confrontada todos os dias com os relatos de quem ficou marcado pela guerra. “No outro dia, veio ter connosco uma miúda que está de cadeira de rodas porque uma bomba lhe rebentou na perna. Conheci também um menino que não sorri. A última vez que o fez estava com o pai no Afeganistão, no momento em que este foi atacado e morto pelos talibãs”, conta.

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