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Líbia

Exército Nacional líbio nega autoria de ataque a centro de migrantes, Guterres pede "investigação independente"

04 jul, 2019 - 00:03 • Redação com Lusa

Pelo menos 6.000 migrantes oriundos de países como Eritreia, Etiópia, Somália e Sudão estão detidos em dezenas de centros de detenção na Líbia, estruturas geridas por milícias locais frequentemente acusadas de tortura e de outros abusos.

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As forças do marechal Khalifa Haftar, que mantém há três meses uma ofensiva para conquistar a capital líbia, negaram quarta-feira qualquer responsabilidade no ataque contra um centro de migrantes nos arredores de Tripoli. A garantia foi dada pelo porta-voz de Haftar, Ahmad al-Mesmari, que acusa os rivais de “encenarem uma conspiração” para lhes atribuir a autoria do ataque.

Os Estados Unidos juntaram-se a outros países e à ONU na condenação do ataque em Tajoura que terá vitimado pelo menos 44 migrantes e provocado mais de 100 feridos. "Essas perdas trágicas e desnecessárias, que atingiram uma das populações mais vulneráveis, ressaltam a necessidade urgente de todas as partes líbias reduzirem a intensidade dos combates em Tripoli e retornarem a um processo político", salientou num comunicado o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Morgan Ortagus.

O Governo de Acordo Nacional, estabelecido em 2015 na capital líbia e reconhecido pela comunidade internacional (incluindo as Nações Unidas), atribui a autoria do ataque ao exército nacional líbio, de Haftar, o homem forte da fação que controla o leste da Líbia e que lançou em abril uma ofensiva contra Tripoli. O Governo com sede em Tripoli já pediu à ONU que investigue este ataque que, segundo as agências internacionais, pode vir a desencadear uma maior pressão do Ocidente em relação a Khalifa Haftar.

Pelo menos 6.000 migrantes oriundos de países como Eritreia, Etiópia, Somália e Sudão estão detidos em dezenas de centros de detenção na Líbia, estruturas geridas por milícias locais frequentemente acusadas de tortura e de outros abusos. A maioria dos migrantes foram detidos pela guarda costeira da Líbia que conta com financiamento e treinamento europeus, quando tentavam atravessar o Mediterrâneo em direção à Europa.

Entretanto, as forças do marechal Haftar atacaram quarta-feira o aeroporto de Mitiga, o único em funcionamento na capital líbia, obrigando à suspensão dos voos. O ataque não causou danos ou mortos, disse à agência de notícias francesa AFP uma fonte de segurança no aeroporto. O porta-voz do marechal Haftar, Ahmad al-Mesmari, no entanto, afirmou que "o centro de comando de ‘drones’ em Mitiga" havia sido destruído durante o ataque.

Guterres pede "investigação independente" sobre ataque aéreo na Líbia

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu quarta-feira uma “investigação independente” sobre as circunstâncias do ataque aéreo que matou 44 migrantes na Líbia. O porta-voz do secretário-geral da ONU, Stéphane Dujarric, disse que para Guterres é fundamental “assegurar que os responsáveis [do ataque] sejam levados perante a justiça”, realçando que a investigação deve ser independente.

O Governo com sede em Tripoli, horas antes, já pedira à ONU que investigue este ataque que, segundo as agências internacionais, pode vir a desencadear uma maior pressão do Ocidente em relação a Khalifa Haftar. O enviado da ONU à Líbia, Ghassan Salame, declarou que este ataque aéreo pode constituir um "crime de guerra", pedindo à comunidade internacional para o condenar.

Nas últimas horas, novas informações sobre o ataque ocorrido na terça-feira à noite têm circulado na Internet e têm sido divulgadas pelas agências internacionais. O ataque atingiu uma oficina de armamento e de veículos e uma espécie de hangar que integra o centro de detenção de Tajoura, nos arredores de Tripoli, onde estavam mais de 100 migrantes, a maioria oriundos do Sudão e de Marrocos, relataram dois migrantes em declarações à agência norte-americana Associated Press (AP).

O ataque está a ser condenado a nível internacional e a suscitar preocupações sobre a política da União Europeia (UE) de estabelecer parcerias com as milícias líbias para evitar que os migrantes atravessem o Mediterrâneo.

A Líbia tornou-se nos últimos anos uma placa giratória para centenas de milhares de migrantes que tentam alcançar a Europa através do Mediterrâneo. A maioria dos migrantes foram detidos pela guarda costeira da Líbia, que conta com financiamento e treinamento europeus, quando tentavam atravessar o Mediterrâneo em direção à Europa. Os centros de detenção são descritos regularmente como espaços onde a comida e outros bens de primeira necessidade são limitados e escassos.

Mas, o país, imerso num caos político e securitário desde a queda do regime de Muammar Kadhafi em 2011 e devido a divisões e lutas internas de influência entre milícias e tribos, tem sido um terreno fértil para as redes de tráfico ilegal de migrantes e de situações de sequestro, tortura e violações em centros de detenção sobrelotados e precários. O Governo de acordo nacional líbio, estabelecido em 2015 na capital líbia e reconhecido pela comunidade internacional (incluindo pelas Nações Unidas), está a atribuir o ataque ao exército nacional líbio liderado pelo marechal Khalifa Haftar, o homem forte da fação que controla o leste da Líbia e que lançou em abril uma ofensiva contra Tripoli.

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