04 ago, 2019 - 11:55 • Marta Grosso com Ecclesia
O Papa Francisco enviou uma carta, neste domingo, aos padres de todo o mundo a propósito do momento de tribulação que estão a viver “nos últimos tempos” e que “não deixa indiferentes os presbíteros”.
“Nos últimos tempos, pudemos ouvir mais claramente o clamor – muitas vezes silencioso e silenciado – de irmãos nossos, vítimas de abusos de poder, de consciência e sexuais por parte de ministros ordenados. Sem dúvida, é um período de sofrimento na vida das vítimas, que padeceram diferentes formas de abuso, e também para as suas famílias e para todo o Povo de Deus”, escreve o Papa num texto divulgado pela sala de imprensa da Santa Sé.
No âmbito do 160.º aniversário da morte do Santo Cura d’Ars, padroeiro dos párocos católicos, e num momento de crise provocado pelos sucessivos casos de abusos, Francisco dirige-se a todos quantos, “tantas vezes de forma impercetível e sacrificada, no cansaço ou na fadiga, na doença ou na desolação, assumem a missão como um serviço a Deus e ao seu povo e, mesmo com todas as dificuldades do caminho, escreveis as páginas mais belas da vida sacerdotal”.
“Há algum tempo, manifestava aos bispos italianos a preocupação de que, em várias regiões, os nossos sacerdotes se sentem achincalhados e ‘culpabilizados’ por causa de crimes que não cometeram; dizia-lhes que eles precisam de encontrar no seu bispo a figura do irmão mais velho e o pai que os encoraje nestes tempos difíceis, os estimule e apoie no caminho”, recorda.
“Como irmão mais velho e pai, também eu quero estar perto, em primeiro lugar para vos agradecer em nome do santo Povo fiel de Deus tudo o que ele recebe de vós e, por minha vez, encorajar-vos a relembrar as palavras que o Senhor pronunciou com tanta ternura no dia da nossa Ordenação e que constituem a fonte da nossa alegria: ‘Já não vos chamo servos, (...) a vós chamei-vos amigos’”, prossegue.
O Papa reforça, assim, a intenção de levar a cabo as necessárias para promover “uma cultura baseada no cuidado pastoral, de tal forma que a cultura do abuso não consiga encontrar espaço para se desenvolver e, menos ainda, perpetuar-se”.
“Queremos que a conversão, a transparência, a sinceridade e a solidariedade com as vítimas se tornem na nossa maneira de fazer a história e nos ajudem a estar mais atentos a todos os sofrimentos humanos”, aponta.
Foi o próprio Papa que explicou a carta, neste domingo, durante o seu tradicional encontro com peregrinos, na Praça de São Pedro, ao meio-dia de Roma.
“Quis enviar uma carta aos sacerdotes de todo o mundo para os encorajar na fidelidade à missão para a qual o Senhor os chamou”, disse.
Francisco evocou a figura de São João Maria Vianney, o Cura d’Ars, como “modelo de bondade e caridade para todos os sacerdotes”, desejando que sirva de inspiração para “redescobrir a beleza e a importância do sacerdócio ministerial na sociedade contemporânea”.
A missiva considera que é preciso reconhecer o mal provocado pela crise dos abusos sexuais, sem deixar de reconhecer que “tantos sacerdotes, de maneira constante e íntegra, oferecem tudo o que são e têm pelo bem dos outros”.
“Estou convencido de que, na medida em que formos fiéis à vontade de Deus, os tempos da purificação eclesial que estamos a viver nos tornarão mais alegres e simples e, num futuro não muito distante, serão muito fecundos”, assinala Francisco.
Num texto com cerca de 10 páginas, a carta repete várias vezes a palavra “obrigado” e agradece pela “dedicação e missão” dos sacerdotes católicos, nas várias dimensões do seu ministério.
“Deixemos que seja a gratidão a suscitar o louvor e nos encoraje mais uma vez na missão de ungir os nossos irmãos na esperança; nos encoraje a ser homens que testemunhem com a sua vida a compaixão e misericórdia que só Jesus nos pode dar”, conclui.