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DA CAPA À CONTRACAPA

A escolha de Ana Gomes. "Merkel para Presidência do Conselho Europeu e Vestager para Comissão"

22 jun, 2019 - 22:49 • José Pedro Frazão

A eurodeputada cessante do PS diz que é tempo de ver uma mulher à frente do executivo comunitário, mas apostaria também na chanceler alemã para suceder a Donald Tusk.

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Da Capa à Contracapa - Brexit e a Europa que temos - 22/06/2019

A par do seu ministro Wolfgang Schauble, Angela Merkel foi a face europeia mais associada ao período de austeridade implementada em Portugal no âmbito do programa de assistência financeira em 2011.

Oito anos depois há uma voz socialista a defender que Merkel seria a melhor solução para Presidente do Conselho no actual impasse nos cargos europeus, caso a chanceler alemã esteja em condições de saúde para exercer a função. De saída do Parlamento Europeu, Ana Gomes preferia António Costa no cargo mas apostaria numa dupla de mulheres nas lideranças em Bruxelas.

" Era Vestager como Presidente da Comissão e Merkel como Presidente do Conselho Europeu. Mas devo dizer que desde que há dias vi a senhora Merkel a tremer e obviamente não foi por falta de um copo de água, percebi que porque é que os meus colegas alemães me garantem que ela não vai ter nenhuma função depois de sair do Governo alemão", confessa a eurodeputada socialista na Renascença.

No programa "Da Capa à Contracapa", Ana Gomes lembrou que não apenas a criticou nalgumas áreas como também a apoiou noutras causas.

" Em relação à actuação dela na crise dos refugiados em 2015 sempre a defendi. Ela é europeísta até porque ela sabe bem o valor da Europa tendo ela vivido fora de um regime democrático, tendo vindo da Alemanha de Leste. Essa experiência foi obviamente marcante", acrescenta Ana Gomes em debate com o antigo ministro social-democrata Miguel Poiares Maduro.

As contas para a presidência da Comissão são também fáceis de fazer para Ana Gomes. Como os socialistas vetam Manfred Weber (do Partido Popular Europeu) e os social-democratas não apoiariam Franz Timmermans (candidato dos socialistas, apoiado pelo PS), a melhor escolha seria a candidata dos liberais e actual comissária da Concorrência Margret Vestager.

"Acho que é altura da Comissão ter uma mulher à frente. Pela experiência que tive no Parlamento Europeu, Vestager é uma mulher cheia de capacidade de decidir. Na minha opinião ela salvou a Comissão Juncker logo no início quando foi disse à Irlanda que fosse buscar o dinheiro da Apple e outras grandes empresas em impostos não cobrados", sustenta Ana Gomes.

A eurodeputada cessante do PS diz que Vestager é "uma mulher pão-pão-queijo-queijo", que é vetada por Macron por ter travado a fusão da Alstom com a Siemens.

Brexit, Boris Johnson e um segundo referendo

No programa semanal da Renascença em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos, o social-democrata Miguel Poiares Maduro confessou que a dupla Vestager-Merkel seria também a única alternativa viável das últimas semanas.

Comentando o impacto do Brexit na União Europeia, o professor do Instituto Europeu de Florença defendeu que a permanência do Reino Unido não é uma carta fora do baralho. Mas avisa para o impacto desse cenário.

"Se o Reino Unido permanecer na União Europeia, não voltamos ao status quo anterior. É um Reino Unido ainda mais dividido, politicamente mais polarizado e tenderá a trazer essa radicalização para a União Europeia, contaminando o seu proprio funciomanento", adverte Poiares Maduro.

O antigo ministro dos Governos de Pedro Passos Coelho antevê uma escala de conflito entre o Parlamento britânico e o provável futuro primeiro-ministro Boris Johnson assim que este assumir o cargo.

"E depois vai haver uma escolha. Ou ele tenta que se chegue a um "hard Brexit" quase como facto consumado, ultrapassando o Parlamento, o que criaria uma crise constitucional porque o princípio mais fundador da democracia britânica é talvez a soberania parlamentar. Não acho que ele vai conseguir fazer isso, nem que acabe por querer correr esse risco. Não conseguindo fazer isso com o Parlamento não o deixando fazer o "hard Brexit" a única alternativa passa por eleições. Essas eleições vão ser em primeiro lugar sobre se deve ou não fazer um segundo Brexit. Existindo um Parlamento com esse capital politico renovado, terá autoridade para voltar a submeter essa questão", prevê Poiares Maduro que partilha com Ana Gomes a preferência por um segundo referendo ao Brexit no Reino Unido.

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