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Raio-X ao mercado da cerveja

Portugueses bebem 58 litros de cerveja por ano

19 mai, 2023 - 17:15 • João Carlos Malta

Há cada vez mais mulheres a beber cerveja. Se há 10 anos valiam 25% do total de consumo, os dados da associação Cervejeiros de Portugal, no ano passado calcula-se que valham já 40%.

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No ano passado, em Portugal, cada cidadão bebeu 58 litros de cerveja, um aumento de 20% em relação ao ano anterior, 2021, em que a média foi de 48 litros.

Em média, cada pessoa consumiu seis minis (20 cl) por semana. Em termos europeus, Portugal é o 20.º país com maior consumo de cerveja por habitante, segundo os últimos números do European Beer Trends, de 2021. Estes dados revelam que o país está bem longe do consumo nos países do Norte da Europa e dos países anglo-saxónicos.

Este é apenas um dos números que atestam a recuperação do setor cervejeiro no último ano, após a pandemia da Covid-19.

“O setor cresceu como um todo, cerca de 20% relativamente a 2021. Esta taxa de crescimento foi significativa porque 2021 ainda tinha sido fortemente afetado pela pandemia. O consumo subiu, aliás também superou já o ano de 2019”, diz à Renascença Rui Lopes Ferreira, líder dos Cervejeiros de Portugal e CEO da Super Bock Group.

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"O setor cresceu como um todo, cerca de 20% relativamente a 2021. Esta taxa de crescimento foi significativa porque 2021 ainda tinha sido fortemente afetado pela pandemia", Rui Lopes Pereira, CEO da Cervejeiros de Portugal.

Lopes Ferreira diz que este consumo per capita coloca o país a meio da tabela de consumo a nível europeu, num ranking liderado por países como a República Checa (129 litros por habitante) ou a Áustria (101 litros por habitante), em que o consumo é superior a 100 litros anuais por cada cidadão.

Em 2020, o consumo doméstico em Portugal caiu 15%. Mas em alguns meses do ano, as quebras chegaram a 70%, em particular para as empresas artesanais.

Os cafés, restaurantes e bares estiveram longos períodos encerrados e os portugueses, segundo o setor, gostam de consumir fora de casa. Portugal é o país europeu com maior taxa de consumo de cerveja fora de casa.

Com a reabertura de restaurantes, bares e cafés, “regressou o papel da cerveja como catalisador social”. Estes espaços valem 67% do total do consumo, sendo que o consumo doméstico representa os outros 33%.

“Isto foi muito impulsionado fundamentalmente por dois efeitos: o fim da pandemia e aquele efeito que ficou conhecido como “revenge consuming” − a ansiedade que as pessoas tinham de voltar à vida normal e de voltar a consumir”, começa por analisar o líder associativo.

“Por outro lado, também foi um crescimento impulsionado pelo turismo. Este recuperou os níveis anteriores e, portanto, foi um fator impulsionador do consumo de cerveja e de grande dinâmica de mercado”, concretiza Lopes Ferreira, recentemente empossado como CEO dos Cervejeiros de Portugal, associação que representa o setor, e atualmente com 20 associados.

Mulheres são cada vez mais importantes

A última década fica ainda marcada por uma grande transformação no perfil do consumidor de cerveja em Portugal. As mulheres, que em 2012 eram responsáveis por um quarto do consumo total, aproximaram-se no ano passado da quase da paridade com os homens: valem agora 40% do mercado.

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“Ainda é maioritariamente uma bebida cerveja de consumo masculino. Agora vemos com muita satisfação este alargamento da base de consumo", Rui Lopes Pereira, presidente da Cervejeiros de Portugal.

“Ainda é maioritariamente uma bebida de consumo masculino. Agora vemos com muita satisfação este alargamento da base de consumo e que o público feminino hoje aprecia uma boa cerveja”, enaltece Rui Lopes Ferreira.

A produção de cerveja também subiu 16% em 2022, para um total de 7.787 milhares de hectolitros. Também nesta dimensão, os números já ultrapassam os valores de 2019, último ano comparável antes da pandemia Covid. A cerveja sem álcool, apesar do crescimento em relação a 2021, vale apenas 1,5% do total da produção.

Os últimos números do European Beer Trends, de 2021, colocavam Portugal quase no fim da lista de países europeus na produção de cerveja. Ocupava, nesse ano, o 22.º lugar do ranking.

Produtores são dez vezes mais numa década

A última década marca também uma reconfiguração no mercado nacional ao nível de produtores. Em 2012, eram 10 e, em 2022, passaram a 100. Ou seja, aumentaram 10 vezes numa década. Ainda assim, continuam a valer pouco em termos de mercado, cerca de 0,5% (em volume) do mercado nacional.

Segundo o estudo realizado pela NOVA SBE em 2020, o setor cervejeiro em Portugal era composto por cerca de 100 empresas produtoras – das quais 96 são microcervejeiras – sediadas em 74 localidades, em 22 concelhos portugueses.

O setor, segundo os dados de 2021, emprega cerca de 2.300 pessoas.

Rui Lopes Ferreira considera que o número de produtores já é interessante, mas reconhece que vale pouco em termos de dimensão. Afirma, contudo, que “este fenómeno é muito importante para trazer diversidade e alargar a base de oferta ao consumidor”.

Mas será que os grandes produtores fecham a porta a que os pequenos possam crescer? “Não gostaria de entrar por aí. Não vou abordar questões de competitividade no mercado”, diz o também CEO da Super Bock Group.

Lopes Ferreira refere que a dimensão “de todos estes micro produtores” começa sempre “por ser muito pequena”.

“A capacidade de investimento tem de ir aumentando. Hoje, já há micro produtores com alguma dimensão; podemos discutir se deve ser maior, se deve ser inferior, mas alguns já atingiram dimensões interessante.”

O líder dos Cervejeiros de Portugal diz que este não é um tema que possa ser analisado por um hipotético “fecho de mercado ou domínio do mercado”.

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"[Crescimento de produtores] é muito importante para trazer diversidade e alargar a base de oferta ao consumidor”, Rui Lopes Pereira, CEO da Cervejeiros de Portugal.

E contextualiza: “As empresas maiores ou as grandes empresas, como lhe chama, são empresas com marcas estabelecidas no mercado há dezenas e dezenas de anos.”

“Como também sabemos, a implantação de uma marca não se faz em meia dúzia de anos e, portanto, é difícil pôr a competir marcas que têm uma existência de 80 ou 90 anos e marcas que surgiram há cinco ou seis anos. Portanto, é preciso dar tempo ao tempo”, concretiza.

Em relação ao mercado de exportação, houve uma ligeira quebra, entre 2021 e 2022, de 2%.

Portugal exporta para cerca de 50 países, sendo os seus mercados principais os países europeus onde existe uma emigração portuguesa significativa (França, Alemanha, Luxemburgo, Suíça), mas também fora da Europa. A China, até ao início da pandemia, era um mercado não-europeu com importância crescente.

Em relação a este ano, o presidente dos Cervejeiros de Portugal, Rui Lopes Ferreira, afirma que o setor está preocupado com a evolução do mercado. A inflação a isso obriga.

“O rendimento das famílias, o rendimento disponível do consumidor, tem vindo a contrair por via da inflação e por via das taxas de juro das prestações de compra de casa. Isto é uma realidade que é transversal e, portanto, na medida em que as famílias, os consumidores, atravessam dificuldades, obviamente que nos preocupa a evolução do consumo.”

Lopes Ferreira concretiza que este é “um setor muito dependente do consumo individual”. “Acontece nos momentos de convívio e, portanto, estamos algo expectantes sobre como é que o mercado está a evoluir”, remata.

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