27 mai, 2019 • Graça Franco
As europeias não contam para a nota. Ainda bem. Servem só como uma espécie de teste de diagnóstico para as legislativas que hoje começam. Mas, não correram bem. Têm os defeitos dos trabalhos de grupo. São preenchidos a dois e acabam sempre com um aluno prejudicado ou beneficiado pelo parceiro. Marcelo saberá melhor do que ninguém dar notas. Vai retirar conclusões sobre o estado da “turma”. Para já é certo: o número de aulas de apoio e explicações vai aumentar. O professor ficou aterrado com o número de faltosos à primeira chamada.
Uma vergonha. Para cúmulo uma vergonha agravada face à última. Há 5 anos foram mais de 66% os que não apareceram. Agora quase 70 por cento (68,6 para ser exatos). Na Europa o contrário. Vivida a crise de 2009/2014, os 26 ficaram vacinados. Quiseram ter uma palavra a dizer no futuro. Mas a coisa também não correu bem. O centro está velho e precisa de obras de manutenção urgentes. E a extrema-direita continuou a subir um bocadinho menos que o previsto. O Ovo da serpente engorda e o mundo olha para o lado porque afinal não foi tão mau como o esperado. Assim nunca temos o devido sobressalto. No dia seguinte respiramos fundo em vez de tocar os sinos a rebate.
Fixem isto: Le Pen voltou a ganhar, Salvini quase duplicou a votação num ano (17 nas legislativas de 2018 para mais de 30 e apenas 6 nas últimas europeias), na Hungria, Orban (auto suspenso do PPE) saiu reforçado e os populares europeus só não caíram mais com a sua ajuda. Na Bélgica a extrema direita varreu o país como um “tsunami” titulava o Le Soir, na Espanha o Vox entra direto com mais de 3 deputados etc…
E por cá? Depois de quatro anos a mando da troika e outros quatro a refazer-nos dela? Com tudo o que é estrada, chafariz, campo de rega, cursos de formação, apoios ao emprego, combate ao desemprego, fogos, investigação, geração Erasmus, turismo aos magotes, “roaming” gratuito, pesca a mais e pesca a menos, a banca a toque de caixa do BCE e o corrupio de consultores que não nos larga. Depois dos empréstimos a pagar e dos juros a subir e a cair. O ir e vir da Europa de médicos, enfermeiros, arquitetos e afins. Insultos e louvores a Bruxelas. Presidentes da Comissão e do Eurogrupo. Eurocratas a cada canto. O que é que se passou? Nada.
Uns foram para a praia, outros foram para o “shopping” ou mais simplesmente foram para o diabo, com medo que ele saltasse do boletim de voto em forma de sanções contra um défice grande ou pequeno demais. Só não foram votar. Depois de andarem a chorar pelos cantos contra a Europa e a pedir medidas para combater os mandões. Depois de beijarem a mão aos senhores de Merkel por imporem as reformas que urgia tomar. Depois de tudo e do seu contrário. Com a Europa no centro de todas as conversas à mesa do café. Depois, disto tudo, o resultado foi: 29 por cento de portugueses “sobrantes”, que aterraram nas secções de voto quase vazias, fizeram o favor de escolher pelos restantes 70.
E o que escolheram esses módicos 3 milhões e tal de portugueses do bolo de 10,7 milhões inscritos nos cadernos eleitorais? Evoluir na continuidade. Optaram por reforçar o poder da geringonça. De novo “poucochinho”, mas o suficiente para ser vitória para Costa e para Marisa ( que levaram Pedro Marques e Catarina Martins à boleia), um para Bruxelas e a outra para a carruagem do poder desejado. Quanto a Jerónimo não tanto: ou muda de estratégia ou chumba no exame que aí vem. Jerónimo já devia ter idade para não aceitar fazer o trabalho dos outros meninos nem deixar copiar .Mas não resistiu para não ser alvo de bullying. Dos 416 mil votos em 2014 acabou com pouco mais de metade.
Já perdeu a intersindical (superada, na rua, pelos chamados sindicatos inorgânicos que se deixam financiar por capitalistas de bom coração que lhes pagam as greves…). Não tarda, perde a paciência dos jovens que, como João Oliveira, ainda resiste à curiosidade e nem quer ler coisas sobre a Coreia do Norte nem livros de História. A História é fatal para o PCP.
Costa no final da noite apareceu ao lado do senhor triste e apagado que o tem acompanhado nos últimos dias e que ontem estava muito contente porque ia para Bruxelas. Depois apareceu Marisa realmente feliz porque o BE duplicou o número de lugares e aumentou os votos. A Jerónimo de Sousa aconteceu o oposto e percebeu que se continuar a andar a reboque de Costa e do Bloco ainda acaba a perder o Alentejo.
Por último a desgraça da noite. Bem pode a Dra. Manuela Ferreira Leite, somar mandatos e percentagens e números de votantes ( praticamente igual à soma dos dois partidos) e concluir que afinal nada mudou na PAF, mas na verdade mudou tudo.
A PAF acabou. Já não há Passos. As contas estão bem melhor entregues a Centeno que, sendo um ministro da Europa, tanto podia ser um bom ministro à direita como à esquerda. Em rigor, até é melhor à direita com aquela invenção das cativações que dá cabo do Estado máximo, transformando-o em estado ínfimo em três anos.
Depois já não há Portas. Há uma nova líder, diferente, próxima, quase familiar, com um discurso acessível e popular e uma genuína preocupação social. O pior é que ela, que tinha tudo para mudar nas europeias, não mudou nada. Escolheu para candidato Nuno Melo que fez uma campanha sem garra e em guerra permanente. Mal disposto. Longe do povo que suportou a custo. Sem ponta de empatia. Sem trabalho para mostrar ou paciência para o fazer.
O sonho da potencial líder da nova direita acabou submersa na memória do partido do táxi. Pedro Mota Soares e Raquel Vaz Pinto não vão para Bruxelas e é pena. Fazem lá falta. Assunção, se quiser passar no exame das legislativas, vai ter de passar as férias a estudar. E já não tem a ajuda de Mesquita Nunes para mudar de estratégia. Além disso vai ter de jurar a si mesma que nunca mais repete o erro do caso dos “professores”.
E Rio? Não foi desta que aprendeu que quem entra pela garagem arrisca-se a sair pela porta da frente de braços a abanar? O líder social-democrata tem o seu quê de anãozinho rezingão. Admite os erros, promete que vai estudar. Finge que ouve os conselhos dos professores e depois não muda nada. A abstenção foi alta? Vamos corrigir isso. Mas a culpa é de todos.
E já nos esquecíamos do grande ganhador: o PAN. O partido que não teve jornalistas na sede. Os meninos que até nas férias alimentam a tartaruga da sala de aula e cujo nome em rigor ninguém se lembra. Um bilhete inédito e merecido para Bruxelas.
No mais não há grande notícia: na Aliança o acidente de percurso fez o partido meter prego a fundo. Santana não desiste. E se Paulo Sande não vai agora talvez possa ir daqui a tempos para a Assembleia da Républica. O Basta não chegou (ainda bem!) onde queria. Mas o ovo populista tem tempo de chocar até Outubro. O Livre ainda não foi desta, mas também não está fora de corridas. O mais não tem mais história.
E o grande perdedor foi? A Comunicação Social. Como é possível que não nos tenham ouvido? Que tenhamos tentado tanto e falhado na mesma proporção. Pela parte que nos toca fizemos tudo: Metemo-nos à estrada e fomos Europa fora de comboio, com a Inês. Explicamos o que era de onde vinha e como funcionava a Europa. Reportagem, grafismo, jornalismo de dados ( com o Rui Barros), peças curtas, entrevistas longas, resumos de programas, entrevistas a todos ( com a Eunice Lourenço a terminar exausta o corrupio dos 17).
Demos a palavra e a análise da dita. Quem nos ouviu e leu devia saber, devia pensar, devia votar. Mas não foi. Foram antes para a praia, para o shopping, para o diabo com medo que ele saltasse do boletim de voto… enorme falhanço. E logo faltaram à primeira chamada da disciplina que mais interessa: a Europa é tudo, comanda tudo, é ela que interessa para tudo na nossa vida. Como é possível que não tenham percebido uma mensagem tão básica? E nós não a tenhamos sabido passar.