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Perguntas e respostas para compreender a Quaresma

06 mar, 2019 - 17:47 • Ponto SJ

Que significa a Quaresma? Que significado tem na vida dos cristãos? E porque é que os católicos se abstêm de comer carne à sexta-feira? O padre Manuel Morujão responde.

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A Quarta-feira de Cinzas marca o início do tempo quaresmal, altura em que os cristãos se preparam para viver a Páscoa. Veja aqui as respostas a várias das questões mais frequentes sobre a Quaresma, com a ajuda do padre jesuíta Manuel Morujão, do site PontoSJ.


Que importância tem a quaresma na vida de um cristão?

A paixão, morte e ressurreição de Cristo são um mistério fundamental da nossa fé como cristãos. Todos os grandes acontecimentos, na vida humana e cristã, devem ser convenientemente preparados para serem plenamente vividos. A quaresma é o tempo litúrgico de preparação da Páscoa.

Que significa quaresma? Porque são 40 dias?

Dizer quaresma é o mesmo que dizer quarentena. São os 40 dias de preparação da celebração da Páscoa, que começam na quarta-feira de cinzas e vão até ao tríduo pascal: quinta, sexta e sábado santo.

O facto de serem 40 dias é muito mais que uma questão de contabilidade. Este número recolhe simbolicamente o significado de Cristo ter passado 40 dias e 40 noites no deserto, em jejum e oração, antes de iniciar a sua vida pública. Também no Antigo Testamento encontramos o mesmo número simbólico de uma preparação séria: 40 anos de travessia do deserto para preparar o povo de Israel a fim de entrar na Terra Prometida; 40 dias que prepararam Moisés e Elias para o encontro com Deus, no Monte Sinai e no Monte Horeb, respetivamente; 40 dias de penitência pregados por Jonas para salvar Nínive.

Porque é que o carnaval vem antes da quaresma?

Tendo a quaresma uma dimensão penitencial, de jejum e abstinência de carne, as festas e folias do carnaval são uma despedida para entrar neste período em que se cultiva a ascese e o sacrifício, como purificação para a celebração da Páscoa. Aliás, a palavra “carnaval” vem do latim: “carne vale”, ou seja, adeus à carne, porque, sobretudo nas sextas feiras, se deixava de comer carne.

A quaresma é um tempo especial de penitência?

O Concílio Vaticano II sublinha dois aspetos principais da quaresma: “recordação ou preparação do Batismo” e penitência: “Inculque‑se nos espíritos, a par com as consequências sociais do pecado, a própria natureza da penitência, que é detestação do pecado por ser ofensa de Deus” (SC 109).

Que penitências são recomendadas na quaresma?

A principal penitência é a conversão de nós mesmos, renunciando ao pecado e a toda a espécie de egoísmo, convertendo‑nos mais a Deus e ao amor fraterno. O nosso Papa Francisco aponta a quaresma como “um caminho de conversão, de luta contra o mal, com as armas da oração, do jejum, da misericórdia”.

Assumir voluntariamente algum sacrifício ou penitência é como que uma ginástica espiritual, ou espiritoterapia, que nos treina para evitar o pecado e exercitar as obras do bem. Por exemplo, privar‑nos de alguns alimentos, particularmente de guloseimas; visitar quem vive na solidão ou está doente; praticar alguma obra de misericórdia; ajudar quem precisa de nós, renunciando a ficarmos centrados no nosso conforto.

Porque é que não se deve comer carne nas sextas-feiras?

É a norma comum a toda a Igreja, da qual naturalmente estão dispensados os idosos, as crianças e os doentes. Trata‑se de concretizar, com uma prática, o espírito de penitência, de conversão, de renúncia ao mal e adesão ao bem.

Este gesto penitencial da tradição da Igreja poderá ser substituído “pela privação de outros alimentos e bebidas, sobretudo mais requintados e dispendiosos ou de especial preferência de cada um”; também pela oração, pela esmola ou outra obra de renúncia e caridade, segundo as normas da Conferência Episcopal Portuguesa (1985.01.28).

Porquê às sextas‑feiras e não noutro dia de semana? Para ser um gesto comunitário de penitência, de conversão, tinha de se escolher um dia, e a sexta-feira é o dia em que Jesus Cristo entregou a sua vida numa cruz para a salvação da humanidade.

Como é que a renúncia aos bens materiais nos pode aproximar mais de Deus?

Partilhar com quem passa necessidade é mais do que um ato de generosidade, é um ato de justiça. Também o jejum deve ter este horizonte de partilha: privamo-nos de algo, em solidariedade com os que experimentam situações de pobreza, oferecendo a nossa contribuição para uma obra social, para as Misericórdias ou a Cáritas…

As dioceses costumam fomentar, em cada quaresma, uma campanha para a entrega do “contributo penitencial” com uma finalidade determinada.

Este artigo foi publicado originalmente no site PontoSJ e é republicado aqui com autorização.

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  • Diogo
    09 mar, 2019 Rio Maior 14:51
    Têm direitos de autor?

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