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Crónica

​Santana Lopes: do pêpêdê/pêessedê a Aliado

10 fev, 2019 - 19:40 • Paula Caeiro Varela

A força do líder da Aliança é a sua fraqueza: se, por um lado, traz essa tarimba, também traz para a sua comissão política muitos dos que já estavam com ele no "outro partido"; se tem o reconhecimento e notoriedade que muitos líderes políticos almejam e nunca conquistam, por outro lado esse reconhecimento significa que dificilmente conquista votos fora do eleitorado de sempre, o centro-direita.

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Sejamos claros: um partido novo não é necessariamente um novo partido. A Aliança aí está para prová-lo. Sabemos que é um novo partido político, que realizou este fim de semana o seu primeiro congresso, e que este até foi o primeiro congresso de um partido no Alentejo (alô, PCP??), mas isso não significa automaticamente que estejamos em presença de um partido novo. Ou, se preferirem, ao contrário.

Ou ainda, parafraseando o Presidente da República:

- É um novo partido?

- É!

- É um partido novo?

- Não!

Não, porque novo pressupõe não apenas que acaba de começar, mas também que traz frescura, fulgor, brilho, novidade (lá está, no-vi-da-de!). E convenhamos, um Congresso de um partido novo tem de ter alguma coisa mais diferenciadora do que colocar hinos a concurso, por mais que isso possa ser divertido e foi.

No mais? Bom, tivemos Pedro Santana Lopes, que foge de dizer “Pêpêdê/Pêessedê” como se não devesse ao anterior partido toda a sua carreira política e até a capacidade mediática para fundar um novo. Ele próprio perguntava no encerramento do 1º Congresso da Aliança: que outra força política foi capaz de fazer isto em tão pouco tempo? Pois, provavelmente nenhuma, mas também nenhuma outra traz a presidente o capital de quatro décadas de experiência, de militância política e de exposição mediática que traz Pedro Santana Lopes.

A força do líder da Aliança é a sua fraqueza: se, por um lado, traz essa tarimba, também traz para a sua comissão política muitos dos que já estavam com ele no "outro partido"; se tem o reconhecimento e notoriedade que muitos líderes políticos almejam e nunca conquistam, por outro lado esse reconhecimento significa que dificilmente conquista votos fora do eleitorado de sempre, o centro-direita, tradicionalmente do PSD e do CDS. Mas não é aí que Santana está apostado, porque o que ele diz e repete é que quer ir buscar votos à abstenção, que a Aliança é "um partido às direitas" (saudades, Archie Bunker!), mas onde cabem todos os do centro e até alguns de esquerda moderada.

Não foi um congresso inspirador, para além do fascínio de ver como o político Pedro Santana Lopes, o homem-menino-guerreiro-que-agora-já-é-avô ousou afinal fundar mesmo um partido que - por mais que ele diga que não e que jure que ainda cá estará daqui a décadas - é centrado na sua própria personalidade.

Nem tão pouco o modelo de congresso foi inovador: foi igual aos outros, talvez mais amador nos recursos, mas tão igual aos outros. Os mesmos discursos infinitos até às tantas da manhã que ninguém ouve, os "aliados" - a sério, não estou a inventar, é assim mesmo que se tratam uns aos outros - porque foram lá para ouvir Santana e pouco mais (Martins da Cruz e Paulo Sande mereceram atenção, mas já a apresentação de estatutos por Rosário Águaszzz...) e os jornalistas porque manifestamente não há espaço para gente que só fala para se ouvir a si própria, em lado nenhum.

A Aliança chegou para ficar, bradou Pedro Santana Lopes do palco, com um fundo de um azul impossível de traduzir em palavras. Não digo que não, não digo que não, mas precisa de ser mais do que a nova arena política do líder-fundador confirmado neste congresso de Évora. O que digo é que não entra no jogo como um verdadeiro "outsider" na política. O que digo é que onde os outros novos partidos precisam de um líder forte, este líder precisa de um partido novo, para além de si mesmo.

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