29 nov, 2018 - 15:45 • Inês Braga Sampaio
Jorge Silvério, psicólogo do desporto, considera que o aparente volte-face no futuro imediato de Rui Vitória no Benfica poderá ter um efeito positivo sobre o rendimento dos jogadores, daqui para a frente.
Em entrevista à Renascença, Jorge Silvério começa por frisar que não se sabe "até que ponto terá havido volte-face ou não, porque às vezes as coisas que passam para fora não correspondem exatamente à realidade". De qualquer modo, o psicólogo desportivo vê Rui Vitória sair reforçado.
"Este episódio pode acabar por ter aqui um impacto que é, no fundo, um reforço do treinador e este manter da confiança. Isto poderá provocar aqui um impacto positivo em termos daquilo que é o grupo de trabalho, saberem que de facto este continua a ser o treinador deles, apesar de tudo aquilo que tem sido dito, e que portanto têm de continuar a trabalhar como têm trabalhado até agora, de maneira a que o Benfica consiga os objetivos a que se propõe", explica Jorge Silvério.
Aliás, o Benfica ainda só perdeu um dos sues objetivos de vista: "Eu diria que, tirando esta saída da Liga dos Campeões para a Liga Europa, os outros objetivos mantêm-se perfeitamente ao alcance da equipa."
Os prós e contras da "chicotada"
Jorge Silvério realça que, "mesmo que tenha havido instabilidade, os jogadores são profissionais". A "chicotada psicológica" não se concretizou, no entanto, essa pode mesmo ter sido a melhor solução.
"Quando formos analisar, há muito poucas 'chicotadas psicológicas' que acabam por ter resultado. Às vezes, o que acontece é a equipa manter o mesmo rendimento em termos de pontos e algumas baixam, até, esse rendimento. As mudanças nunca são boas. Falamos muito em projetos de longo prazo e depois isso acontece por não acontecer. Há casos em que isso se justifica, mas são muito poucos quando olhamos para o nível de despedimentos no futebol", aponta o psicólogo desportivo.
Ainda assim, "não é por acaso que se fala em 'chicotada psicológica'", pelo que Jorge Silvério admite que o impacto também pode ser positivo:
"É como se começasse tudo de novo. Os jogadores que estão a jogar têm de mostrar aquilo que valem e não podem 'facilitar'. Para os jogadores que estão de fora, é uma nova oportunidade para mostrarem o seu valor a um treinador que à partida não terá já imagem construída. Jogadores que já baixaram os braços, perante isto, voltam a ter uma nova vida e voltam a entrar na equipa com níveis de confiança e motivação altos."
Jogadores "cheiram" a fragiliade
A contestação a Rui Vitória e à própria equipa é conhecida e até já foi comentada por alguns jogadores encarnados. Jorge Silvério alerta que os jogadores "não vivem numa bolha", pelo que, hoje em dia, ainda para mais com as redes sociais, "é impossível isolá-los da realidade externa".
"Mas eles têm de lidar com essas críticas como lidam os outros trabalhadores quando são criticados", assinala. "É empenharem-se mais no trabalho, se for possível, e terem a consciência de que estão a fazer tudo aquilo que é possível, portanto tentarem que isso não influencie negativamente a prestação desportiva", acrescenta.
Mais ainda do que da realidade externa, os jogadores têm noção da realidade interna de um clube. Jorge Silvério sublinha que "cada vez mais a estrutura que rodeia uma equipa é extremamente importante".
Os jogadores sabem quando algo está mal. "Não é só o que se passa no relvado que define o rendimento desportivo. Toda a estrutura de apoio é extremamente importante. Se os jogadores perceberem que há fragilidades nessa estrutura, é mais difícil terem um desempenho próximo do máximo que podem conseguir", conclui Jorge Silvério.