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Alterações climáticas. "A tecnologia não vai resolver o problema"

26 out, 2018 - 16:38

Alterações climáticas e alternativas económicas aos combustíveis fósseis foram discutidos no Porto. O painel lançou o aviso: “O relógio está a dar horas" e "a tecnologia oferece oportunidades, mas não podemos dispensar a regulação e as políticas públicas."

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O ex-ministro do Ambiente e antigo deputado do PSD Jorge Moreira da Silva lança o alerta: ou mudamos de comportamento ou podemos passar por cada vez mais dificuldades climáticas. A mensagem foi deixada por Moreira da Silva na Conferência Internacional do Futuro da Mobilidade (CIFMOB), que decorre esta sexta-feira na Alfândega do Porto.

O agora diretor geral de desenvolvimento e cooperação da OCDE, no contexto do tema “A mobilidade em 2050”, mostrou alguns dados sobre como ficará o mundo daqui a 32 anos. De acordo com o especialista, em 2050 seremos cerca de dez mil milhões de pessoas e haverá perto de 2.4 mil milhões de carros, um crescimento de 60%.

A maior consequência deste crescimento é, diz Jorge Moreira da Silva, o crescimento de emissões de carbono. “Estamos na caminhada inexorável para as mudanças climáticas, mas aquilo que estamos a ver já são mudanças climáticas devido ao efeito de estufa”, disse. O antigo deputado salienta que as tempestades cada vez maior já são um resultado das alterações climáticas no planeta.

Moreira da Silva deixou ainda um recado à plateia na Alfândega do Porto e ao decisores políticos: “A tecnologia não vai resolver o problema. A tecnologia oferece-nos um quadro de oportunidades, mas não podemos dispensar a regulação e as políticas públicas. O que fazemos é em nome do bem comum e da próxima geração”

“O planeta ficou em segundo plano”

Álvaro Domingues, geógrafo e professor na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, também se mostrou muito crítico para com a falta de regulação num contexto de transformação ambiental.

“Há claramente uma crise de regulação a nível de mundial. Parece até que o planeta ficou em segundo plano e uma boa parte dos operadores económicos vê os países em desenvolvimento como um tabuleiro de xadrez, pelas suas vantagens económicas. Isto perturba a forma como equacionamos estas questões. Falamos muito de ecologia, mas não falamos de ecologia política”, atira.

Jorge Moreira da Silva também deixou claro que é preciso deixar de pensar em eleições e começar a pensar em responsabilidade.

“O mercado de emissões é uma forma de dizer às empresas que têm de reduzir as emissões, mas podem escolher o momento. O nosso problema não está nesse mercado. A outra parte relativa às emissões está na habitação ou nos transportes públicos e aí perde-se as eleições”, afirmou.

Mudar mentalidades passo a passo

Do outro lado da bancada, Diogo Almeida, responsável de Market Intelligence na direção de Estratégia Corporativa da Galp, concordou que é preciso mudar os hábitos de consumo, mas vincou que os carros elétricos não são o princípio, meio e fim da solução.

“De 100 milhões de barris que consumimos diariamente, 50 são destinados a transportes rodoviários. Metade desses 50 são para transportes pesados que não têm alternativa aos combustíveis fósseis. A mobilidade elétrica não resolve em termos de conveniência ao utilizador”, diz. Diogo Almeida salientou que há outras alternativas, como os combustíveis sintéticos, que podem ajudar a médio-prazo, até haver mais soluções para a mobilidade urbana.

Já António Cunha, antigo reitor da Universidade do Minho, aproveitou para falar da importância do ensino superior em mudar a mentalidade das pessoas para atitudes mais sustentáveis. “A tecnologia é instrumental mas tem de ser dominada. E mais do que preparar os estudantes para estas temáticas específicas, temos de preparar os estudantes para um quadro de mudança muito acelerado”, disse.

O professor catedrático da UMinho alertou dramaticamente que devemos tentar melhorar a qualidade de vida sem aumentar o consumo de recursos do planeta, senão “a continuidade da humanidade como a conhecemos está em riscos”.

Jorge Moreira da Silva acrescentou a sua voz ao tom dramático de António Cunha. “O que conta agora é o que fazemos em casa, dado que as regras já são conhecidas e o relógio está a dar horas”, avisou o diretor geral de desenvolvimento e cooperação da OCDE

A CIFMOB é uma conferência com o tema “A mobilidade em 2050” e foi promovida pela Renascença e pela ZEST.

Comentários
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  • Transparência sim!
    26 out, 2018 Amadora 21:02
    Estamos a caminhar para um segundo "holocausto" pior que o primeiro, pois do primeiro ainda soubemos do segundo tudo deverá ser abafado. Com violações de direitos humanos ninguém se preocupa e há um "circo" constante para enganar as pessoas. É preciso ter muito cuidado com os "bons".

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