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Centro Hospitalar de Leiria será o “primeiro hospital amigo do doente celíaco”

06 jun, 2018 - 16:51

Projeto é apresentado na quinta-feira e pretende ser "pioneiro" e contribuir para que "o ambiente hospitalar seja favorável e de confiança para o doente celíaco".

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O Centro Hospitalar de Leiria apresenta na quinta-feira o projeto "CHL - 1.º Hospital amigo do doente celíaco", iniciativa que visa sensibilizar a comunidade médica para esta patologia e informar a sociedade em geral.

O projeto, que será apresentado no "I Encontro de Doença Celíaca" do Centro Hospitalar de Leiria, que decorre na quinta-feira, pretende ser "pioneiro não só na abordagem da parte do diagnóstico para sensibilizar os profissionais de saúde para um diagnóstico mais fácil e célere", mas também levando a que "o ambiente hospitalar seja favorável e de confiança para o doente celíaco", explicou a nutricionista Ângela Carvalho, salientando a importância de opções de alimentos sem glúten nas máquinas de ‘vending' do hospital.

A ideia do projeto surgiu de Estela Vicente, doente celíaca, que desafiou o hospital a dar atenção a estes utentes. "Sinto necessidade de fazer alguma coisa para que as próximas gerações não tenham de passar por aquilo que passei", explicou.

Estela Vicente foi diagnosticada com a doença celíaca há três anos, depois de muitos anos em sofrimento. "Passei um processo doloroso, longo, e sofri imenso até chegar a este diagnóstico", contou.

Segundo a utente, a "moda" de fazer uma alimentação isenta de glúten tem prejudicado os doentes celíacos. "O glúten está muito vulgarizado e vende. Nós, celíacos, não temos beneficiado absolutamente nada desta publicidade e acabamos por ser discriminados, porque pensam que é um capricho. Cabe-nos desmitificar e fazer com que os outros percebam um bocadinho o que é a doença celíaca".

Não basta comer alimentos isentos de glúten

As dificuldades destes doentes podem ser tão simples como um jantar num restaurante ou em casa de amigos. "Não é comer apenas comida isenta de glúten. Há a contaminação cruzada que tem de ser evitada. O glúten é volátil e basta alguém comer pão ao meu lado que pode contaminar os meus alimentos", explicou Estela Vicente.

Aliás, em casa, nem a torradeira pode partilhar com a família. Por isso, "este projeto inclui também a formação em manipulação de alimentos", acrescentou Ângela Carvalho, revelando que pretendem também criar um grupo de apoio aos doentes celíacos da região de Leiria.

A doença celíaca é uma patologia "autoimune que afeta o intestino delgado, podendo ter também outras manifestações extra digestivas", explicou a gastrenterologista Sandra Barbeiro, especificando que "está relacionada com uma reação ao glúten, que são umas proteínas que estão presentes em alguns alimentos".

Segundo a especialista, a maior parte dos casos "apresenta manifestações típicas como diarreia, dor abdominal e anemia. Nas crianças pode até existir atraso no crescimento". Mas "alguns os sintomas podem ser apenas alterações cutâneas ou alterações analíticas ligeiras e por isso dificulta o diagnóstico".

Sandra Barbeiro admitiu que também existe "alguma falta de conhecimento de outras áreas sem ser a gastrenterologia e em pensar este diagnóstico, o que pode atrasar um bocadinho o diagnóstico".

No serviço de Gastrenterologia do CHL são seguidos entre 40 a 50 doentes celíacos. "Não temos uma noção real do total de utentes. A prevalência da doença celíaca parece ser cerca de 1% da população".

Os doentes celíacos podem vir a sofrer de "subnutrição, doenças ósseas graves, como osteoporose, e a nível intestinal podem desenvolver-se linfomas ou neoplasias do intestino delgado".

Apesar de ser uma doença hereditária, com um "componente genético associado", Sandra Barbeiro alertou que "não é por ser portadora que irá ter a doença".

Por outro lado, "não existem evidências que se exclua o glúten da dieta quando os celíacos ou portadores dos anticorpos estão assintomáticos".

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