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​Os outros lesados do BES

31 mar, 2017 - 06:47

Os grandes investidores estrangeiros lesados pelo colapso do BES propõem um acordo.

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Os problemas da banca em Portugal não cessam de nos inquietar. Agora não se trata de uma novidade, mas de uma questão que a maioria dos portugueses – não os que trabalham no sector financeiro, claro – poderá ter já esquecido.

Quando o BES colapsou, no verão de 2014, foram passados para o chamado “banco mau” (o BES, formalmente) os activos tóxicos ou de cobrança muito duvidosa, que assim ficaram fora do nascente Novo Banco. Nas no final de 2015 o Banco de Portugal transferiu para esse “banco mau” obrigações chamadas seniores que estavam no Novo Banco. A dívida sénior, também designada não subordinada, é a mais protegida, tendo prioridade no pagamento em caso de incumprimento. Eram obrigações na grande maioria pertencentes a grandes investidores institucionais estrangeiros.

O conjunto dos títulos em causa teria um valor nominal de mais de dois mil milhões de euros, valor que com aquela operação caiu mais de 80%. Os investidores indignaram-se e avançaram para tribunal.

Agora, um grupo que representa dois terços desses investidores institucionais, liderado pela Pimco e pela Black Rock, propôs ao Governo português negociar um acordo. Dizem eles que a medida tomada em Dezembro de 2015 levou a uma subida dos juros da dívida pública portuguesa e dos custos de financiamento dos bancos nacionais. Têm alguma razão. Aliás, segundo a Bloomberg e o Financial Times, citados pelo Jornal de Negócios, este grupo de “lesados do BES” boicotou a recente colocação de 500 milhões de euros de dívida da Caixa Geral de Depósitos (apesar do aliciante juro de 10,7%).

Segundo as mesmas fontes, o ministro das Finanças M. Centeno terá dito em Londres, num encontro com potenciais investidores, que o Governo e o Fundo de Resolução estão a negociar com esses lesados da alta finança um eventual acordo. Depois foi negado existirem negociações – mas talvez pela necessidade de tudo ser feito em segredo. Oxalá se chegue a um acordo equilibrado, tendo em atenção que Portugal precisa de investidores dispostos a comprar dívida pública e privada nacional.

Comentários
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  • MASQUEGRACINHA
    31 mar, 2017 TERRADOMEIO 19:31
    Então o acordo a que chegaram não foi esta espantosa venda do NB, com espantosas condições, a que acabamos de assistir? Podemos andar de bengalinha, mas ainda há olfacto que chegue para distinguir a podridão da "coincidência". Pobre Portugal! Pobres portugueses!
  • Justus
    31 mar, 2017 Espinho 16:53
    Sarsfield Cabral acordou muito tarde e fora de tempo. Agora, quando este governo praticamente resolveu os graves problemas da banca, originados e em grande parte causados pelo governo anterior, é que Sarsfield Cabral se lembra de os vir aflorar! Porque não fez isso quando esses problemas surgiram há dois ou três anos atrás? O que é que escreveu sobre o BPN (Banco do PSD), sobre o colapso do BES, sobre o desgoverno do BANIF, sobre o desmantelamento e endividamento da CGD? Nada, porque não convinha. Depois, vem sempre com as suas constantes insinuações: "diz-se", "consta", "terá dito", "parece", etc., etc. Nunca aponta factos, apenas hipóteses. E está muito condoído com os investidores estrangeiros lesados do BES e nós também estamos. Mas de quem foi a culpa, Sr. Sarsfield? Porque não aponta o dedo aos seus amigos que tomaram decisões completamente erradas, descabidas, insensatas e seguidistas das orientações e interesses externos? E que ridículo escrever que alguns desses investidores se preocupam com a subida dos juros da dívida pública portuguesa e dos custos de financiamento dos bancos nacionais! O que eles se preocupam, e com toda a razão, é em receber os montantes investidos. Tal qual todos os outros investidores, accionistas e demais lesados.
  • Jorge
    31 mar, 2017 Seixal 16:28
    "lesados do BES boicotou a recente colocação de 500 milhões de euros de dívida da Caixa Geral de Depósitos (apesar do aliciante juro de 10,7%)." São pontos de vista diferentes, para mim esta taxa de juro não é aliciante, mas sim, escandalosa, principalmente quando são os clientes da CGD e os contribuintes no geral a pagá-la.

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