07 out, 2016 - 14:50
O prémio Nobel da Paz, que foi atribuído esta sexta-feira ao Presidente da Colômbia, é um reconhecimento antecipado do perdão que o povo colombiano terá de oferecer aos guerrilheiros, caso queira ver o fim da guerra.
A presidente executiva da Câmara do Comércio Luso-colombiana, Rosário Marques, considera que se trata de uma justa homenagem a Juan Manuel Santos, mas que caberá ao povo selar definitivamente o acordo de paz. “É um factor extremamente positivo, o reconhecimento do trabalho desenvolvido pelo Presidente e por toda a equipa em prol do processo de paz”, diz à Renascença.
Os colombianos rejeitaram, a 2 de Outubro, o acordo alcançado entre o Governo e as FARC, mas Rosário Marques esclarece que não se tratou de uma rejeição da paz. “Os colombianos querem a paz e o que aconteceu recentemente não foi um não à paz, foi um não a algumas das cláusulas do acordo de paz. Há uma cláusula no acordo que concede a impunidade aos guerrilheiros, incluindo os que cometeram determinados crimes. Obviamente há famílias que sofreram imenso e têm alguma dificuldade em aceitar que os guerrilheiros não sejam levados a tribunal", afirma.
“Isto é um processo, acima de tudo, de perdão, porque se não se perdoar não se consegue começar uma nova época. O guerrilheiro não se vai entregar se souber que vai para a cadeia. É preciso perdoar, começar do zero. É preciso integrar não só as vítimas mas também as que estão na montanha. Muitos deles também são vítimas, são crianças que foram raptadas e levadas para a selva", afirma.
“O Nobel é um reconhecimento do perdão que os colombianos vão ter de aceitar para os guerrilheiros, mas que esteve na origem do não no referendo”, conclui.
Também a actual embaixadora da Colômbia em Portugal, Carmenza Jaramillo, considera que o Nobel é justo e que se trata de um prémio ao esforço não só do Presidente, mas de toda a equipa que trabalhou pela paz.
“É um reconhecimento meritório ao trabalho de um presidente que dedicou tantos anos a encontrar soluções para a paz na Colômbia. O Presidente Santos foi um [político] convicto da necessidade, importância e necessidade de alcançar esta paz que a Colômbia não conhecia há 52 anos. Apesar do resultado do referendo de 2 de Outubro, sentimo-nos muito contentes por ter sido concedido o Nobel da Paz a um homem que o merece", afirma.
O referendo não fará descarrilar o processo, garante Carmenza Jaramillo. “O Presidente foi claro que continuará o processo para alcançar os acordos, e que esse é um processo irreversível. Continuaremos a trabalhar para o alcançar.”