20 out, 2016 - 00:03 • Raquel Abecasis (Renascença) e Vítor Costa (Público)
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O presidente do Fórum da Competitividade diz que não gostava que Portugal tivesse um segundo resgate, mas admite, em entrevista à Renascença e ao “Público” (que pode ouvir na Renascença esta quinta-feira, às 12h00), que estamos presos por “coisas muito ténues” e critica a falta de decisão dos governos. Pedro Ferraz da Costa considera que o “Governo não inspira confiança nenhuma a grande parte dos investidores”.
Portugal está livre de um novo resgate?
Gostaria imenso que não tivéssemos de passar por um segundo resgate.
É um risco?
Neste momento estamos pendurados em coisas muito ténues.
O economista Vítor Bento dizia que estamos a construir uma cabana de palha. Concorda?
Absolutamente. Os políticos de todo o mundo e os europeus em particular conseguiram culpabilizar quase totalmente o sistema financeiro pelas dificuldades que tivemos. E se é verdade que muitos são criticáveis, não tinham o exclusivo da culpa. Vários governantes colaboraram para todas estas bolhas de crédito imobiliárias que houve no mundo numa tentativa que os políticos têm sempre que é: se não lhes posso dar rendimento, pelo menos dou-lhes crédito. Como os políticos acharam que era muito prático dizer que os culpados eram os banqueiros, a opinião pública ficou à espera que os políticos batam nos banqueiros.
Tivemos uma suposta “saída limpa” do resgate e estamos outra vez a falar em casas de “palha” apesar de termos saldos primários positivos no Orçamento do Estado (OE). Os grandes problemas estão na banca?
Os espanhóis fizeram o mesmo tipo de disparates, mas reconheceram que tinham uma bolha imobiliária. Nós não. Têm muita corrupção dentro do sistema, nós também. É preciso resolver, eles resolvem. Nós empurramos com a barriga. Quando tivemos o acordo com a “troika”, a Espanha, que tem mais peso político, resistiu e teve um resgate para o sistema financeiro que foram à volta de 60 mil milhões de euros.
Nós tivemos 12 mil milhões e usámos metade.
É a tal incapacidade de tomar decisões. Os espanhóis, num tempo relativamente curto, sanearam o sistema financeiro. Foi tudo perfeito? Não sei. O resultado foi muito bom e o sistema bancário está a ter um papel importante em relação maior crescimento de Espanha. Todas as pessoas que têm alguma experiência no resgate de países ou de bancos dizem: decida como quiser, mas decida depressa.
Sem acordos para o investimento arriscamos um segundo resgate?
Ninguém sabe quanto tempo é que dura esta política monetária do Banco Central Europeu (BCE). É relativamente evidente que não nos conseguimos financiar nos mercados à taxa de juro que conseguimos obter no BCE. As taxas de juro já estão a subir e subiram mais do que qualquer outro país europeu o que é um sinal de risco.
Ou fazemos alguma coisa rapidamente ou corremos um risco de novo resgate?
A política monetária do senhor Mario Draghi começou acompanhada da afirmação que isto era para comprar tempo para fazer alterações. Não era para ir vivendo.