04 abr, 2016 - 16:00
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Manuel Clemente, está preocupado com o estado do país. "Não está superada a crise financeira do final da década anterior, com as respectivas consequências no sector do trabalho e da subsistência de quem não o tem”, afirmou esta segunda-feira.
O também patriarca de Lisboa falava na abertura dos trabalhos da assembleia plenária da CEP, que começa esta segunda-feira, em Fátima, e advertiu para o facto de que ainda "não se integraram devidamente na nossa sociedade os valores civilizacionais básicos de muitas pessoas provenientes de outras partes do mundo, criando-se com um duvidoso 'multiculturalismo' autênticas bolsas de mútua exclusão, propícias a atitudes de grande violência”.
O presidente da CEP mostrou-se preocupado com a situação que se vive na Europa, lamentando que não se tenha ainda encontrado “uma solução capaz para o surto incomum de migrantes e refugiados" que procuram no continente "as condições básicas de vida que a guerra e outras causas negativas destruíram nas suas terras de origem”.
Por isso, “gravíssimos problemas como os fundamentalismos, o terrorismo ou a insegurança interligam-se num fundo comum de desconhecimento e até rejeição dos outros”, quando, salientou, “teríamos todas as possibilidades materiais e mediáticas para estarmos realmente próximos e ser muito mais solidários”.
Eutanásia na agenda
Nesta intervenção, D. Manuel Clemente revelou, ainda, que a questão da eutanásia vai estar, nos próximos dias, na mesa de trabalhos dos bispos, que a rejeitam, e recordou a posição já assumida na recente nota pastoral emitida pelo Conselho Permanente da CEP.
"Não nos alheamos do sofrimento de muitos e da falta de resposta que ainda encontra, por carências de várias ordem, que podem e devem ser colmatadas”, disse o patriarca, acentuando que os bispos estão "convictos de que não se elimina o sofrimento com a morte", porque "com a morte elimina-se a vida da pessoa que sofre”.
Considerando que, com a nota, os bispos quiseram “dar um contributo para esse debate", que se deseja "sereno e humanizador", de modo a que "chame a atenção para o que verdadeiramente está em causa”, Manuel Clemente alertou para "o sério risco de que a morte passe a ser encarada como resposta a essas situações, já que a solução não passaria por um esforço solidário de combate à doença e ao sofrimento, mas pela supressão da vida da pessoa doente e sofredora, pretensamente diminuída na sua dignidade".
Em reflexão nos trabalhos da assembleia plenária da CEP vai também estar a aplicação do documento do Papa "Mitis Iudex Dominus Iesus", sobre o papel dos bispos diocesanos nas causas matrimoniais, e ainda a Exortação Apostólica que Francisco vai emitir, na sexta-feira, na sequência da realização do Sínodo da Família.
Para D. Manuel Clemente, existe “uma perspectivação e um critério imprescindíveis para a acção pastoral no seu conjunto para que cada comunidade se torne família de famílias e estímulo para a sociedade no mesmo sentido”, o que implica “preparação remota e próxima e depois acompanhamento permanente persistente de cada matrimónio e família”.