24 dez, 2015 - 20:46
O Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, pede, na sua tradicional mensagem de Natal, que cada casa seja “uma casa comum” perante quem, vindo de longe ou esteja próximo, “procura refúgio”
D. Manuel Clemente parte da questão actual dos refugiados para defender a adopção de uma atitude solidária e construtiva, lembrando que aquele cujo nascimento se comemora neste dia também foi refugiado, depois de ter nascido “em circunstâncias que não foram as mais favoráveis”.
“Diz um relato evangélico que não pôde nascer na hospedaria, por não haver lugar, e teve que nascer na manjedoura. Também segundo esses mesmos relatos e tradições cristãs, pouco tempo depois de crescer [essa criança], foi emigrante e refugiada no Egipto, fugindo de uma perseguição”, recorda o Patriarca de Lisboa.
Notando que no momento em que se celebra o Natal “há muitas pessoas, por esse mundo além, que são particularmente atingidas por conflitos de toda a ordem”, D. Manuel defende que os cristãos devem estar “particularmente com eles, comprometidos na melhoria das condições que lhes permitam viver em paz e em segurança, olhando por si e pelos seus”.
A mensagem papal
O Patriarca de Lisboa recorre à mensagem já divulgada pelo Papa para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que se assinala a 17 de Janeiro, destacando quatro pontos do texto de Francisco.
O primeiro ponto é o que define a questão dos refugiados como “um problema estrutural”, por alterar de modo radical o quadro em que todas as partes viviam e por se prolongar no tempo. “Qualquer dia por si só seria de mais”, sublinhou o cardeal Clemente, mas o facto de o drama se prolongar agrava a situação e evidencia a natureza estrutural do fenómeno.
O segundo ponto é aquele em que o Papa sublinha tratar-se de “um problema de todos e da cada um”, ou seja “recíproco”, porque “é de quem chega e de quem cá está”.
“A única saída positiva é crescermos pelo acolhimento, numa humanidade comum”, reforçou D. Manuel Clemente.
O terceiro ponto destacado pelo Patriarca de Lisboa é aquele em que o Papa aponta o cariz intercultural do problema, por força do facto de os que chegam trazerem “hábitos costumes e tradições a que não estávamos habituados”.
É “convivendo e partilhando valores” que quem chega e quem acolhe deve conviver, numa “interculturalidade que não nos desaparte, mas que nos faça crescer em conjunto”.
Finalmente, D. Manuel sublinha o ponto em que a mensagem papal defende o problema só poderá ser resolvido “na origem”, ainda que com “o empenho de toda a humanidade”.
O refugiado “do lado”
Na sua mensagem natalícia, com cerca de sete minutos, o cardeal Clemente deixa ainda um reparo para o facto de a necessidade da solidariedade ser algo próximo de cada um: “Nem sempre são os que vêm de longe que devemos considerar refugiados, porque há muita gente perto de nós – não sei se nas nossas próprias famílias e na nossa vizinhança – que também procura refúgio, procura companhia, procura conforto que não encontra por variadíssimas circunstâncias da sua vida”
“A todos ilumine esta luz de Natal e cresçamos numa solidariedade que possa fazer das nossas casas e da casa de toda a gente verdadeiramente uma casa comum”, remata D. Manuel Clemente.