Inglaterra

Da terceira divisão à Premier League em dois anos. Ipswich Town devolve a Kieran McKenna o que a anca lhe tirou

04 mai, 2024 - 19:20 • Inês Braga Sampaio

A história do treinador norte-irlandês mistura o fim de um sonho aos 22 anos, José Mourinho e Solskjaer, um gigante caído e Ed Sheeran. Vinte e dois anos depois, o Ipswich Town está de regresso ao futebol de elite. O obreiro é Kieran McKenna.

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O Ipswich Town carimbou o regresso à Premier League, 22 anos depois, este sábado, com uma vitória sobre o Huddersfield, por 2-0. É o triunfo retumbante de Kieran McKenna, antigo adjunto de José Mourinho, que em dois anos e meio como treinador principal levou os "tractor boys" da terceira à primeira divisão.

Os golos de Wes Burns, aos 27 minutos, e Omari Hutchinson, aos 48, garantiram a subida automática do Ipswich, no segundo lugar do Championship, com 96 pontos. O Leicester City, do internacional português Ricardo Pereira, que se sagrou campeão da II Liga inglesa, tinha sido o primeiro clube a assegurar a promoção.

Kieran McKenna está a viver, como treinador, a glória que a anca lhe tirou como jogador. Até 2009, a carreira do jovem médio prometia. Juntou-se ao Tottenham em 2002, com 16 anos. Capitaneou a Irlanda do Norte no Euro sub-19 de 2005. Jogou pela equipa principal dos Spurs em amigáveis e parecia estar a caminho da estreia oficial. Até que, aos 22 anos, já depois de duas operações e dois anos de reabilitação, foi obrigado a retirar-se do futebol, devido a uma lesão crónica na anca.

O sonho continuava vivo, porém, e se não ia ser de chuteiras calçadas, seria, então, de caderno de notas na mão. Kieran começou a estudar para ser treinador e entrou na academia do Tottenham. Em 2014, esteve quase a assumir o cargo de diretor de formação do Liverpool, mas optou por ficar nos Spurs, que lhe deram o comando da equipa de sub-18. Duas temporadas depois, rumou ao Manchester United, onde subiu de escalão em escalão, até que José Mourinho lhe mudou a carreira.

Com a saída de Rui Faria, em 2018/19, o "Special One" ficou com um adjunto a menos. A escolha recaiu em Kieran McKenna, que passou a sentar-se ao lado do técnico português no banco de suplentes de Old Trafford. Mourinho durou pouco mais tempo, contudo, a sua saída não prejudicou o norte-irlandês, que se manteve na equipa técnica do sucessor, a lenda norueguesa Ole Gunnar Solskjaer.

McKenna com José Mourinho no Manchester United. Foto: Reuters
McKenna com José Mourinho no Manchester United. Foto: Reuters
McKenna com Solskjaer (centro) e Michael Carrick (esquerda) no banco do Manchester United. Foto: PA Images/Reuters
McKenna com Solskjaer (centro) e Michael Carrick (esquerda) no banco do Manchester United. Foto: PA Images/Reuters

Kieran aprendeu com Mourinho e, depois, Solskjaer, até à saída do antigo avançado do United, a meio da época 2021/22. Aí, com 35 anos, decidiu aventurar-se como técnico principal. Rumou ao Ipswich Town, que passava por dificuldades na League One, terceira divisão, e já tinha despedido dois treinadores nessa época.

Longe iam - e ainda vão - os tempos em que o Ipswich Town era um grande de Inglaterra e da Europa. As décadas de 1960, 70 e 80 foram de ouro para os "tractor boys", que nesse período conquistaram uma Liga inglesa (1961/62), uma Taça de Inglaterra (1977/78) e uma Taça UEFA (1980/81). Depois de 17 anos consecutivos no Championship, desceram à League One em 2018/19 e de lá não conseguiam sair.

Em fevereiro de 2021, ao fim de seis meses de negociações com vários potenciais compradores, o clube passou para as mãos de um grupo de investidores de norte-americanos, liderado pelo empresário Brett Johnson, por 17,5 milhões de libras, cerca de 20 milhões de euros. Nesse verão, após uma temporada insatisfatória, saíram 20 jogadores e entraram outros 19. O maior reforço nem joga à bola: o cantor Ed Sheeran, adepto do Ipswich desde pequeno, tornou-se o principal patrocinador da camisola da equipa, o que ajudou o clube a bater recordes de vendas.

Ainda assim, a sorte do Ipswich não mudava. Por mais camisolas que a voz de miúdo de Sheeran vendesse, os resultados continuavam sem aparecer. Isso só se alterou com a entrada de Kieran McKenna para o comando técnico.

Na primeira meia época, terminou a League One na 11.ª posição, mas os donos norte-americanos mantiveram a confiança no norte-irlandês e deram-lhe tempo para trabalhar. A aposta revelou-se acertada: com um futebol ofensivo, a um, dois toques, pressão alta - foi, precisamente, de uma recuperação alta que nasceu o 1-0 ao Huddersfield - e variações rápidas de flanco, o Ipswich terminou a primeira temporada completa de McKenna no segundo lugar e regressou ao Championship, cinco anos depois - foi a primeira subida de divisão do clube no século 21.

A segunda chegou um ano depois, este sábado. Duas subidas em duas épocas e meia, e uma série negativa de 22 anos finalmente terminada: eis o regresso à Premier League. Kieran McKenna devolveu ao Ipswich Town a glória que o tempo apagou e o clube devolveu ao treinador o futebol de topo que a anca lhe tirou.

Para trás, ficam o Huddersfield Town e o Birmingham City, cuja descida à League One ficou selada nesta última jornada da II Liga inglesa. Sobem Leicester City e Ipswich Town, e a elite do futebol inglês volta a ter dois campeões.

Jogadores do Ipswich celebram subida. Foto: Lucy Copsey/Focus Images Ltd/Sipa USA/Reuters
Jogadores do Ipswich celebram subida. Foto: Lucy Copsey/Focus Images Ltd/Sipa USA/Reuters
Jogadores do Ipswich celebram subida. Foto: Action Images/Reuters
Jogadores do Ipswich celebram subida. Foto: Action Images/Reuters

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