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Maria de Lurdes Rodrigues

Arranjar "avaria do elevador social" é questão "mais crítica" do novo Governo

22 mar, 2024 - 07:00 • Cristina Nascimento

Antiga ministra da Educação e atual reitora do ISCTE considera que, uma vez resolvido o problema da remuneração dos professores, a prioridade na área da Educação deve ser a aprendizagem dos alunos e a organização das escolas.

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Maria de Lurdes Rodrigues, antiga ministra da Educação e atual reitora do ISCTE, considera que a “questão mais crítica” do próximo Governo é arranjar a chamada “avaria do elevador social”. É o cenário identificado no dia em que o ISCTE realiza o seu Fórum Anual de Políticas Públicas.

Em entrevista à Renascença, Maria de Lurdes Rodrigues lembra que estamos num “novo ciclo político” e que a mobilidade social é a questão mais emergente.

Na leitura da antiga ministra, para o elevador social voltar a funcionar é preciso trabalhar em duas frentes, uma na área da educação, outra na área da economia.

Na área da educação, a antiga responsável por esta pasta considera que “resolvido o problema remuneratório dos professores, é tempo de voltar a concentrar as políticas de educação na organização da escola e na resposta às aprendizagens dos alunos”.

“A covid castigou muito estas gerações de alunos de várias idades que estão na escola e é necessário enfoque das políticas de educação, agora centrado nos alunos, na organização da escola que precisa de funcionar como organização para responder às aprendizagens dos alunos”, reforça.

Na área da economia, Maria de Lurdes Rodrigues defende que são “necessárias políticas económicas que promovam uma economia mais competitiva, mais inovadora, mais preocupada com a valorização do trabalho, com políticas de remuneração que permitam, de facto, recompensar as pessoas que trabalham, que possam encontrar no mercado de trabalho oportunidades de realização profissional”.

Num olhar para o novo cenário político, Maria de Lurdes Rodrigues acredita que, mesmo com uma viragem à direita, há margem para este caminho, uma vez que não foi “uma viragem radical para um neoliberalismo de um Estado mínimo”.

“Toda a campanha do PSD foi baseada na defesa dos serviços públicos”, afirma a reitora, acrescentando que não viu “nenhum dos dois grandes partidos, nem do lado do PS, nem do lado do PSD, nem do lado das forças mais à esquerda, um desejo contrário a esta vontade de reforçar e melhorar a qualidade do Estado social, dos serviços públicos, de melhorar a educação, a saúde”, refere.

Assim, Maria de Lurdes Rodrigues encara o próximo ciclo político como “uma oportunidade de mudança”. Aliás, reforça, “terá de ser uma oportunidade de mudança”.

A reitora do ISCTE considera que os resultados eleitorais revelam “dimensões ideológicas”, mas são “também resultado de muita insatisfação e frustração com aquilo que é uma desigualdade extrema”.

“Há uma excessiva concentração de riqueza, uma excessiva recompensação de algumas dimensões da atividade económica e uma desvalorização daquilo que é o trabalho e isso provoca, evidentemente, frustração e descontentamento e é necessário encontrar uma resposta”, recomenda.

Numa breve retrospetiva para 50 anos de políticas públicas que será feito no Fórum que se realiza esta sexta-feira, com a presença de nomes como o ainda presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, ou o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, Maria de Lurdes Rodrigues, apesar de reconhecer que há objetivos por alcançar, recusa falar num falhanço, mas sim numa permanente atualização de desafios.

“Eu dou muitas vezes o exemplo da educação. Há 50 anos, os problemas eram o analfabetismo e conseguir taxas de escolarização para todos os jovens até aos 15 anos. Eram tempos em que o país ainda era castigado pelo trabalho infantil. Hoje, em matéria de educação, os desafios e a ambição é completamente diferente, é ter uma maior percentagem de jovens a chegar ao ensino superior e a concluir com êxito os seus percursos”, remata.

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