Eleições Legislativas 2024

Debatómetro ⏱️. Custo de vida fora dos debates, Educação foi dos temas menos falados

22 fev, 2024 - 16:20 • Diogo Camilo

Em mais de 16 horas de frente a frente, a Renascença contabilizou 12 horas, 25 minutos e 28 segundos de debate sem intervenções do moderador, acusações ou interrupções. Educação e inflação eram dos problemas que mais preocupavam os portugueses, mas ficaram de fora dos debates.

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O tema do aumento do custo de vida e da inflação é considerado o principal problema da atualidade por mais de metade dos portugueses mas ficou de fora das mais de 16 horas de debates para as legislativas. A Renascença contabilizou os tempos dos 28 frente a frente nas televisões, em que os líderes dos partidos preferiram falar do aumento dos salários ou das pensões ou da redução dos impostos.

Segundo o mais recente Eurobarómetro, divulgado em dezembro do ano passado, 51% dos inquiridos indicaram o custo de vida como um dos principais problemas em Portugal.

Mas, ao assistir a todos os debates televisivos, vemos que o tema não foi abordado diretamente por nenhum líder de partido. Nos três debates entre Partido Socialista, Aliança Democrática e Chega, os partidos que lideram as intenções de voto para as eleições de 10 de março, as menções à inflação foram vagas ou inexistentes, o problema do custo de vida não foi chamado e a pobreza só foi trazida para cima da mesa à boleia de outros temas, como a subida das pensões ou o aumento dos salários.

O que se falou nos debates?

No total de 16 horas, 16 minutos e 55 segundos de debates televisivos que colocaram frente a frente os líderes dos partidos com assento parlamentar, entre 5 e 19 de fevereiro, a Renascença contabilizou 12 horas, 25 minutos e 28 segundos de debate sem intervenções do moderador, acusações ou interrupções. Ou seja, cerca de 76% foi o chamado “tempo útil”.

O tema que ocupou mais tempo foi o do ‘aumento de salários e redução de impostos’ : ao todo, foram 157 minutos e 27 segundos - mais de duas horas e meia.

Foi falado diretamente em 24 dos 28 debates e o líder que mais falou sobre ele foi Rui Rocha, que ocupou mais de 40 minutos dos seus debates com o assunto: quase metade (45%) do tempo útil em que o líder da Iniciativa Liberal falou.

Em média, a subida dos salários e a redução de impostos foi falada por 6 minutos e 20 segundos em cada debate que apareceu, tornando-se no segundo tema com maior tempo médio por debate. Repartindo a contabilização por cada parte, são mais de três minutos sobre o assunto durante um frente a frente.

O segundo tema que mais dominou os debates foi a Saúde, que apareceu por 17 vezes e somou 96 minutos e 37 segundos. Deste tempo, quase 27 minutos foram ocupados por Pedro Nuno Santos: o líder do PS foi quem falou mais sobre saúde - e quase o dobro do tempo que o segundo classificado, neste caso Luís Montenegro (15 minutos e 53 segundos).

Em terceiro, na lista de temas falados nos debates das legislativas, ficou a discussão sobre os cenários de governação. O assunto foi discutido por 19 vezes, mais do que a saúde, mas registou menos tempo: 91 minutos e 45 segundos: em média, quando o assunto foi debatido, os líderes falaram sobre ele 4 minutos e 49 segundos.

Quem falou mais, ironicamente, foi Luís Montenegro. O presidente do PSD e líder da coligação Aliança Democrática passou 23 minutos e 10 segundos a falar sobre o tema, mas não chegou a explicar concisamente se viabiliza, ou não, um governo minoritário de Pedro Nuno Santos, caso o PS surja à frente da AD nas eleições de 10 de março.

A Habitação surge logo atrás, com 87 minutos e 44 segundos de discussão em 16 debates diferentes. Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, foi quem falou mais sobre o tema: 26 minutos e 38 segundos, quase um terço do total de tempo útil que teve (28,8%).

O Ambiente foi o quinto tema mais falado, mas teve muito menos “tempo de antena” e uma particularidade: só foi discutido em sete debates - os sete em que Inês Sousa Real participou. A líder do PAN somou 20 minutos a falar sobre o ambiente: quase metade do total de 46 minutos e 14 segundos que o tema foi discutido em todos os debates.

Noutros temas, Pedro Nuno Santos foi quem falou mais sobre Justiça, Educação e Transportes, enquanto Luís Montenegro foi o líder a falar sobre as Pensões e Reformas dos idosos.

André Ventura, do Chega, foi quem falou mais sobre Corrupção, Forças de Segurança, Imigração e a situação dos Açores, enquanto Inês Sousa Real foi a líder que falou mais sobre a Madeira.

Mariana Mortágua foi quem falou mais sobre Defesa, enquanto Paulo Raimundo, da CDU, é quem lidera a contagem de tempo a falar sobre o cenário internacional e Rui Tavares, do Livre, foi quem falou mais sobre Emprego e Cultura e o único que falou sobre Ciência - apenas 46 segundos.

O que preocupa os portugueses?

A contagem de tempos feita pela Renascença mostra que os debates não estiveram propriamente alinhados com aquilo que são as preocupações dos portugueses: a questão dos impostos e salários foi a mais falada por partidos mas, nem no barómetro da União Europeia, nem nos inquéritos divulgados nas últimas semanas, constava entre os principais problemas apontados.

Segundo o Eurobarómetro do outono de 2023, o último divulgado por Bruxelas em dezembro do ano passado, o aumento do custo de vida e inflação preocupava mais de metade dos portugueses (51%). Nos três debates entre PS, AD e Chega, o problema só foi trazido para cima da mesa à boleia de outros temas, como a subida das pensões ou o aumento dos salários.

No debate entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, o único com duração de uma hora e 15 minutos, as palavras “pobreza”, “custo de vida”, “subida de preços” ou termos como o “IVA Zero” não foram falados. A inflação foi mencionada por duas vezes pelo líder do PS, para falar sobre a medida que pretende controlar a subida das rendas na habitação.

No debate entre Pedro Nuno Santos e André Ventura, “custo de vida”, “subida de preços”, “IVA Zero” e “pobreza” voltaram a não ser falados. O líder do Chega usou a palavra “inflação” uma vez: para referir, erradamente, que o programa do PS incluía uma medida para equiparar a subida das rendas à inflação. A medida anunciada por Pedro Nuno Santos é referente à subida dos salários - e não à inflação.

No debate entre Luís Montenegro e André Ventura, “custo de vida”, “subida de preços”, “IVA Zero” não foram falados, tal como “inflação”. O líder do Chega disse “pobreza” uma vez: quando falava sobre pensões e o líder da AD riu-se ironicamente. “Não se ria dos pobres, não se ria da pobreza. Na noite eleitoral veremos quem ri melhor”, disse.

O mesmo Eurobarómetro colocava a Saúde como segunda prioridade, com 44% dos portugueses a referirem-na como principal problema. A Habitação (21%) surgia em terceiro, com a situação económica (19%) em quarto e só depois os impostos em quinto, com 16%.

O ambiente, que foi o quinto tema mais falado dos debates, era só a 10.ª maior preocupação dos portugueses, enquanto a corrupção e a imigração preocupavam apenas 3% dos portugueses.

Nas últimas sondagens políticas que incluíam esta questão, os principais problemas apontados pelos portugueses foram, por esta ordem, a Saúde, a Educação, a Habitação e o Custo de Vida/Salários.

A Educação, que foi a segunda maior preocupação nas sondagens da Consulmark2 e CESOP/Universidade Católica divulgadas em janeiro, só foi abordada por cinco vezes e a sua discussão durou menos de 18 minutos.

O tema foi o 11.º mais falado: quase o mesmo que as forças de segurança e menos que o ambiente, a corrupção, a justiça ou o cenário internacional, todas elas questões menos apontadas como essenciais pelos portugueses.

A Justiça, sobre a qual não se falou nos primeiros 17 debates, foi introduzida à boleia do caso de corrupção que está a ser investigado na Madeira e acabou a ser discutida em sete dos últimos 10 frente a frente, com mais de 40 minutos de tempo de antena.

A corrupção, que não é considerada como prioritária pelos portugueses segundo as sondagens, foi falada em mais debates com André Ventura do que com todos os outros partidos juntos. Somou 37 minutos de debate e foi discutida mais do dobro das vezes da educação.

O cenário internacional não esteve incluído nos principais debates e só se falou em debates nos quais estiveram Paulo Raimundo e Rui Tavares, mas acabou por somar mais de 32 minutos de discussão.

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