Tem sido a discussão dos últimos tempos, primeiro com a sobrecarga nas urgências, depois com a falta de acesso ao Sofosbuvir, um medicamento que em muitos casos consegue a cura para a hepatite C.
Em ambos os casos a questão foi colocada, do ponto de vista mediático, no nexo de causa-efeito crise-falta de acesso a cuidados de saúde. Procurando ir mais longe na busca de respostas para ambos os casos, o jornalista João Carlos Malta da
Renascença chegou a algumas respostas interessantes:
- Sobre a sobrecarga nas urgências, o director do Hospital de Santo António no Porto
diz que há que introduzir medidas correctivas no sistema de triagem, sobretudo para os doentes "amarelos". Mas diz também: "Estou convencido que, dos casos que morreram, a maioria iria falecer na urgência mais tarde".
- Sobre o caso de Maria Manuela Ferreira, que morreu no Hospital de Santa Maria, aparentemente por não ter tido acesso ao Sofosbuvir, foi a própria farmacêutica que
explicou à Renascença que o medicamento não chegou à doente, não por falta de dinheiro, mas por erros e demoras burocráticas que o mesmo Sollari Allegro,
noutra entrevista à Renascença, diz serem facilmente ultrapassáveis: "Se fosse no meu hospital, não aconteceria seguramente". O processo, afirmou, demora duas semanas e, em casos de risco de vida, faz-se através de contacto directo.
Entretanto, o ministro completou negociações com a farmacêutica e conseguiu tratamento gratuito para 13 mil doentes porque, de facto, o Estado tem recursos limitados e não consegue pagar todos os cuidados de que necessitamos.
Ou seja, bem vistas as coisas, afinal as vidas que se terão perdido nos últimos tempos não podem ser imputadas directamente à falta de dinheiro e à crise, mas à falta de organização e eventual incúria.
Estes são os factos relatados por quem os conhece.
Moral da história: a vida não tem preço, mas afinal tem e às vezes é caro, mas mesmo assim vale a pena negociar para poder pagar.
Complicado? Claro que é, mas este é o dilema que vivemos numa época em que a saúde será cada vez mais cara. Logo, se queremos discutir este assunto o melhor é fazê-lo com responsabilidade e sobretudo sem manipulações, venham elas de onde vierem. No fundo, basta aplicar as regras do jornalismo isento.