29 nov, 2017 - 16:54
Morreu um dos grandes empresários portugueses do Portugal democrático, posterior ao 25 de Abril. De origem humilde, tornou-se um dos homens mais ricos do país.
Nesta terra onde secularmente predomina a dependência em relação ao Estado, nomeadamente da parte de empresários e gestores, Belmiro era um homem ferozmente independente, que quase tinha gosto em colocar o Estado em tribunal. O seu “império” empresarial, que criou milhares de empregos, nada ficou a dever a favores de políticos, bem pelo contrário – basta pensar na OPA lançada em 2006 por Belmiro sobre a PT, frustrada pelo poder político (primeiro-ministro Sócrates). Tivesse ele ganho e a PT não teria chegado à desgraça presente.
Em 1990 surgiu, por iniciativa de destacados jornalistas, um diário que iria dar um impulso decisivo à melhoria da qualidade da Imprensa nacional: o “Público”. Mas esse grupo de jornalistas precisava de apoio empresarial – por isso recorreu a Belmiro de Azevedo, que aceitou.
Ao contrário do que tantas vezes se vê, em Portugal e no mundo, o proprietário do “Público” jamais interferiu na linha editorial do seu jornal. Posso testemunhá-lo pessoalmente, não apenas como leitor do “Público” desde o primeiro número, mas também como director que fui daquele jornal durante breves meses – mas que chegaram para confirmar a nula interferência editorial do seu proprietário.
Creio que esta era uma atitude inteligente de Belmiro de Azevedo. Percebeu que, para o seu jornal ter prestígio e autoridade – como aconteceu –, precisava de o livrar de quaisquer suspeitas de ser um instrumento para os fins empresariais, ou outros, do seu proprietário. Portugal deve a Belmiro de Azevedo ter tantos anos financiado um jornal como o “Público”, sem dele se servir para os seus negócios.