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​Como Salazar escapou a um atentado e o Estado Novo pôs inocentes na prisão

16 nov, 2017 - 16:39

“Matar o Salazar” é o título do novo ensaio do historiador António Araújo. Um texto sobre o atentado falhado de 1937.

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O historiador António Araújo acaba de publicar, pela Tinta-da-China, o ensaio “Matar o Salazar”, que aborda a “história de um atentado falhado” sobre o ditador a 4 de Julho de 1937.

No texto, Araújo realça que o conjunto de homens conhecido como “o grupo do Alto Pina”, apesar de inocente na autoria do atentado efectuado, confessou o crime.

Segundo a Tinta-da-China, esta obra expõe “as fragilidades, mas também a força do Estado Novo e as tensões existentes no país”.

Os inocentes, detidos, não foram “de imediato devolvidos à liberdade, permanecendo na prisão cerca de um ano”, tendo os responsáveis pelo atentado sido capturados mais tarde e levados a Tribunal Militar, onde foram condenados a “pesadas penas de prisão”.

“O autoritarismo favoreceu, em larga medida, que um grupo de inocentes, de poucas ou nenhumas letras, fosse preso e apresentado à imprensa e ao país ultrajado como autor de uma tentativa de atentado contra o chefe do Governo”, afirma o autor, que deixa no ar a questão: “Saber se isto teria sido possível em democracia é um tema que ultrapassa – e em muito – o propósito deste livro”.

O historiador assinala que este imbróglio revela como neste caso concreto as duas forças policiais – a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE), antecessora da PIDE-DGS, e a Polícia de Investigação Criminal (PIC) – demonstraram uma “clara diferença de métodos” e “duas formas muito distintas de apuramento dos factos, uma [a PVDE] baseada na tortura e na coacção, outra [a PIC] visando a reconstrução da realidade dos factos com apoio em testemunhos prestados de modo inteiramente livre”.

Só em 1996 se conheceram os contornos da história da investigação, graças à descoberta, pelo jornalista Valdemar Cruz, do relatório do juiz Alves Monteiro Júnior, que descreve “ao pormenor os métodos que a polícia política [PVDE] utilizava para obter confissões dos presos pertencentes aos estratos sociais mais baixos”.

Por outro lado, evidenciou “um conflito surdo entre dois ministérios – o do Interior e o da Justiça –", e que terá sido “o maior feito político da acção bombista”, segundo um dos verdadeiros implicados na conjura, Emídio Santana (1906-1988).

A tentativa de assassinato do então presidente do Governo, António de Oliveira Salazar, ocorreu no dia 4 de Julho de 1937, quando este saía da viatura oficial para assistir à missa dominical, numa capela particular, em Lisboa.

“O fracasso da tentativa” deveu-se ao amadorismo dos seus autores. “A deficiente instalação” do engenho, uma bomba de dinamite colocada num colector na Avenida Barbosa du Bocage, em Lisboa, fez com que a “explosão, apesar de estrondosa” não tenha causado mortos, e Salazar saído incólume.

À propaganda do regime, segundo o historiador, interessou “acentuar o rotundo fracasso do plano homicida, mas também a absoluta impassibilidade do chefe do Governo perante todas as ameaças, físicas ou políticas, quês e colocassem no seu caminho de edificador do Estado Novo e restaurador do orgulho pátrio”.

Os bispos portugueses emitiram uma carta pastoral, manifestações populares de solidariedade e até as chefias militares foram à assembleia nacional manifestar o seu apoio.

A obra divide-se em cinco partes: contextualização da época; tendências políticas oposicionistas; a divisão entre polícias; os vários ambientes de Lisboa; e o "desfecho".

António Araújo é mestre em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e doutor em História Contemporânea, com uma tese sobre a Capela Rato, onde um grupo de católicos questionou e se opôs à guerra colonial.

É autor, entre outras obras, de "Da Direita à Esquerda - Cultura e Sociedade em Portugal, dos anos 80 à actualidade" (2016).

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  • Osvaldo Amadeu
    17 nov, 2017 Seixal 09:36
    Ja temos muitos livros sobre-salazar caiu da cadeira",Salazar e a Pide -Salazar e a igreja etcetc.Mas quando os historiadores serão mais imparciais e eecreverao livros com este títulos-"Portugal em bancarrota e depois veio o Salazar ",-salazar impediu q Portugal fosse um Gulag russo ",Portugal crescia em 73,10 por cento ao ano",-Portugal nao devia milhões ao estrangeiro, -"Salazar morreu pobre ao invés dos actuais políticos e empresários e bancários ",As dezenas de obras e construções feitas por Salazar sem derrapagem e sem endividamento de biliões ao estrangeiro ",Porque desapareceram os registos criminais ,alguns foran pra Rússia, de muitos q tem a fama de heróis actualmente?-"Porque o joao cravinho nao conseguiu introduzir a lei q obrigava os novos ricos a começar pelos deputados o ônus da prova de provar a sua riqueza?,"-Onde estao as milhares de toneladas de ouro q desapareceu a seguir a revolução?,"Salazar era primeiro ministro,digamos assim,mas o presidente podia deitar abaixo o governo...entao se Salazar era cruel e sanguinário, porque os presidentes nunca deitaram abaixo o governo??"Porque nao ha livros sobre o braço armado do partido comunista?Que inclusive matou GNR pra obter armas? Etc etc....a história tem e tera q ser feita dos dois lados e pra todos...e nao só propagar a ideologia da esquerda ate a exaustão
  • Rita Maria da Cunha
    17 nov, 2017 S. João da Madeira 05:41
    Caro Senhor, Vossa Excelência por Certo , Não Nasceu No Tempo de António de Oliveira Salalar Mas Eu Vivi .e assim Lhe Posso Assegurar Que Nesse Tempo PORTUGAL Estava na Banca Rota , Devido à Primeira Guerra Mundial . Durante o Estado Novo Poderia NÃO HAVER a Liberdade de Hoje Porém Salazar que Foi Para o Governo Nunca Pediu Para ir Para Lá. Salzar era Professor Na Universide de Coimbra, Como Sabe e Visto Portugal Estar , Reirero, Na Banca Rota, Pediram-lhe que fosse a Lisboa a fim de Ver se Lodia Fazer Algo Contra A Miséria à qual o País Tinha Chegado. Salarar Foi a Lisboa e fez Suas Contas que Incluiam Poupança Então ISSO NÃO FOI ACEITE . SALAZAR voltou a Combra e Akgum Rempo Depois, Como NÃO soubessem Como EQUILIBRAR as Finanças de Portugal Foram MAIS UMA VEZ TENTAR que Ele Fosse Para o Governo. Salazar NÃO QUERIA E ARGUMENTOU, Como Justificação : A Debilidade de saúde E as Visitas a Seus Familiares. Mas, apesar disso Tanto Com els Instaram que O Cavalheiro Foi Como .Ministro das Finanças. Em 1926 . Em Poucos Anos E Com Muita Poupança Que Dele Próprio Vinha, Consegui Equibrar-las Depois disso Tornou-se Primeiro Ministro e Foi o Único Que Conseguiu Tornar Portugal NEUTRO na Segunda Guerra Mundial . Havia Pobreza Sim Mas NÃO HAVIA ROUBOS , CONLUIOS POLÍTICOS, e MUITAS OUTRAS COISAS QUE HOJE EXISTEM . Que Interessa a LIBERDADE e MENTIROSA TRANSLARÊNCJA ACTUAL se Sakazar Morreu Pobre e os Políticos de Hoje Enrriquecem à Custa do Govsrno?
  • JChato
    16 nov, 2017 20:54
    Vou comentar a "notícia" mas, ANTES vou "comentar o comentário" postado por ... MENDES! Sr. Mendes, Tenho (quase) 70 anos e, a mim, "não me ensina" o que era a REALIDADE do "Estado Novo"! CONCORDO INTEIRAMENTE com a "crítica" que está implícita na sua referência ao proliferar dos "sem abrigo"! Vou começar por aí! O "regime" em que vivemos é uma partidocracia nojenta a que teimam em chamar DEMOCRACIA! SÓ ISTO E ,,, ESTÁ TUDO DITO! Fica "explicada" a nossa REALIDADE! Mas, vamos lá "falar do Estado Novo"! Não há comparação possível com o que vivemos hoje! Tenha paciência! Não havia "sem abrigos"? E que me conta dos "bairros da lata"? NUNCA VIU? A "maior diferença" em relação ao que "éramos e somos agora" é SÓ UMA! O NUMERO DE LADRÕES E CORRUPTOS! Hoje hã muitos mais! Por enquanto temos Liberdade para "dizer o que pensamos" apesar de, haver "tiques ditaduriais" e "dislates inaceitáveis" em DEMOCRACIA! Quanto a "frases" como "quem se meter com o ps, leva" ou um deputado apelidar de "magrebinos" parte do POVO e por aí adiante numa DEMOCRACIA A SÉRIO, NUNCA MAIS EXERCIAM CARGOS PÚBLICOS! Isto para "não falar" de AMEAÇAS FÍSICAS (via Facebook) e as TENTATIVAS de CALAR quem "critica"! Basta ouvir "gravações" no Youtube e ... não só! SEM JUSTIÇA EFICIENTE E ISENTA (NÃO TEMOS) NUNCA HAVERÁ DEMOCRACIA! Participei, como Oficial do Exército, no 25/Abril e no 25/Novembro! HOJE VIVO UMA DESILUSÃO MAS SEM ARREPENDIMENTO! SOU DEMOCRATA MAS NÃO ME REVEJO EM PARTIDO NENHUM! PONTO FINAL!
  • Araujo
    16 nov, 2017 Cascais 20:14
    Tem a certeza que viveu em Portugal?Mesmo nos paises democraticos e ricos ha pobres e pessoas a viverem na rua.Pode ter a sua opiniao (cousa que o seu amigo salazar nao deixava os outros terem) mas e feio ser mentiroso e faltar ao respeito aos muitos portugueses que emigraram clandestinamente para fugirem a fome e falta de trabalho. Portugal não é perfeito (e onde ha algum pais que o seja?) mas mais vale pobre e livre do que miserável e sem liberdade.A Liberdade não se come mas RESPIRA-SE.
  • A.C.Mendes
    16 nov, 2017 Chaves 19:57
    O autor deste artigo considera atual um atentado ocorrido há 80 anos, omitiu a sua cor política, pois considero o comunismo de então idêntico ao estado islâmico de hoje e PIDE, é a sigla de " Polícia Internacional de Defesa do Estado ",. Haja bom senso para haver respeito.
  • Filipe
    16 nov, 2017 évora 19:13
    Muitos devem estar arrependidos dele ter caído da cadeira , esses tempos já não voltam e os tempos de hoje já nem são nem serão com antes . Ter liberdade para usar a dos outros , é anarquia !
  • Viva o nosso SALAZAR
    16 nov, 2017 lisboa 18:55
    Fazia tanta falta o nosso querido Salazar a Portugal!...
  • Jorge
    16 nov, 2017 Cuba 18:25
    Também é verdade que se o atentado tivesse sucesso Portugal ia à segunda guerra e muitos de nós não estavamos cá!!
  • F Soares
    16 nov, 2017 A da Gorda 18:04
    Ò Mendes a gente sabe que entre1962 2 1972, como referres,, quem não tivesse dinheiro para comprar sapatos e se andasse descalço em Lisboa, era preso.... E era uma altura em que se compravam sapatos a prestações..... . O Mundo é outro e não podes comparar o incomparável . Mas a História , mesmo com estórias é fundamental ! Acorda e deixa de passar tanto tempo frente à TV
  • António Canário
    16 nov, 2017 covilh 17:55
    Oh Mendes. Não vias pobres? Pois não. Éramos todos. Menos uma minoria. Sapatos? Só para ir fazer o exame da 4a classe. As claças eram passajadas. Deves saber o que era isso. Mas tem graça que porpús a Moita Flores fazer um trabalho sobre isto, porque este caso mostra vinhos a denunciarem vizinhos, a policia a prender porque um deles era maçon (ou antes, era pedreiro mas foi apanhado com um orçamento que fez para uns franceses) e o mais dramático para quem passou por isto. Foram tão torturados que além de confessarem o que não tinham feito ainda acusaram outros porque era necessário criar um grupo... Mas não eram maus rapazes. Apenas bons polícias a fazr o seu papel de defesa...

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