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DDE, o contaminante que pode gerar obesidade e diabetes

04 ago, 2017 - 11:00

Depois de ingerido têm uma acção similar a algumas das hormonas que o corpo humano produz naturalmente, alterando o equilíbrio hormonal.

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Investigadores do Porto comprovaram que um dos contaminantes presentes em alimentos ricos em gordura pode levar os indivíduos a desenvolverem obesidade, inflamação, diabetes e hipertensão, mesmo quando utilizado em quantidades consideradas seguras pelas entidades europeias de segurança alimentar.

O DDE deriva do pesticida DDT, utilizado para matar o mosquito da malária, cujo uso foi proibido na Europa e nos Estados Unidos entre os anos 70 e os anos 80, segundo um comunicado do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) do Porto, instituição responsável pelo estudo.

Apesar de já não serem utilizados, esses poluentes - conhecidos por poluentes orgânicos persistentes (POPs) -, persistem no solo e na água, contaminando os alimentos que são hoje produzidos e consumidos e afectando, sobretudo, os alimentos ricos em gordura, como as carnes vermelhas, os lacticínios e os peixes gordos".

Depois de ingeridos, têm uma acção similar a algumas das hormonas que o corpo humano produz naturalmente, alterando o equilíbrio hormonal e criando um maior risco de desenvolvimento de obesidade e de outros problemas de saúde, como diabetes, hipertensão, entre outros", lê-se no comunicado.

Esta investigação, realizada com animais, é o segundo estudo de um projecto que tem vindo a ser desenvolvido pelo CINTESIS desde 2010, em colaboração outros parceiros da área da ciência, com o objectivo de avaliar o risco para a saúde humana associado à exposição a contaminantes que persistem no ambiente.

Para saber quais os contaminantes que estão presentes nos humanos, a equipa realizou um primeiro estudo, entre 2010 e 2011, com amostras de tecido adiposo e sangue de indivíduos obesos que foram sujeitos a cirurgia bariátrica no Hospital de São João, do Porto.

Nessa amostra humana, foi possível "confirmar a presença dos contaminantes, mesmo daqueles cujo uso foi já há algumas décadas proibido em Portugal, como é o caso do insecticida DDT", bem como "diversos problemas metabólicos", explicou à Lusa o investigador do CINTESIS Diogo Pestana.

Maior regulação e literacia sobre nutrição

Esses dados, segundo indicou, levaram a concluir que existe uma associação entre a desregulação metabólica e a presença de poluentes no tecido adiposo (gordura), no entanto, só foi possível comprovar a relação no estudo com modelo animal, no qual participou a Universidade de Cambridge, do Reino Unido.

Os resultados do segundo estudo revelaram que os ratos submetidos à ingestão de contaminantes apresentaram maiores índices de hipertensão, diabetes, inflamação e dislipidemia, quando comparados com os ratos não sujeitos à ingestão de DDE.

A líder da equipa de investigação em nutrição do CINTESIS, Conceição Calhau, defende que é necessário haver maior regulação política e literacia sobre nutrição, visto que, actualmente, não é possível definir recomendações precisas sobre padrões de consumo ideais, tendo em conta níveis de contaminação, devido à escassez de dados.

Os poluentes orgânicos persistentes "não são significativamente eliminados do nosso organismo, acumulando-se ao longo dos anos", referiu, acrescentando que estes "provêm de uma grande diversidade de fontes, o que faz com que estejamos constantemente expostos à sua acção, por via oral, inalada e transdérmica [através da pele]".

Comentários
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  • Antonio
    14 nov, 2017 Águeda 10:33
    Este problema da diabetes em parte o comércio é responsável. Basta ver os doces, iogurtes, bebidas, bolachas, etc... e é uma quantidade enormissima de açucar adicionada. As marcas adicionam muito açucar para aumentarem as vendas (É doce e as pessoas compram). O governo faz bem em taxar as bebidas açucaradas, mas ficou aquém. Deveria taxar todos os alimentos que comtêm açucar em proporção e as empresas individualmente também. Tipo taxa do carbono, ser a taxa do açucar. O governo poderia ir mais longe na minha opinião, era fazer o que tem feito com o sal, ou seja, limitar o açucar nos alimentos. Isto tudo para o bem da saude dos Portugueses.

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