Fé na universidade: “Já não são só três ou quatro. Há cada vez mais sentido de missão”

O interesse em formar Núcleos de Estudantes Católicos (NEC) nas faculdades de Lisboa tem sido crescente nos últimos anos. Em 2011 havia apenas seis, neste momento já ultrapassam as duas dezenas e o interesse manifestado por cada vez mais universitários faz prever que outros possam surgir onde ainda não existem.

É essa a convicção de Francisco Montellano. Aluno do 4.º ano na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, está na organização do II Encontro NECTalks, onde será também um dos oradores. Em declarações à Renascença diz que o aumento dos Núcleos revela que os estudantes católicos estão a assumir cada vez mais a sua fé no meio académico. “Não é uma fé de sacristia, uma fé de portas fechadas. Há cada vez mais um sentido de missão”, diz.

E não há só mais Núcleos, como cada um deles reúne cada vez mais estudantes, o que para este responsável também mostra que esta presença nas faculdades “já não é uma presença indiferente”. E explica porquê: “já não são apenas três ou quatro amigos de um dado movimento, ou de uma dada paróquia, que se juntam para rezar ou para explorar um ponto qualquer da sua fé que lhes pareça mais fragilizado, ou em que necessitem de mais formação. São pessoas com caminhos diferentes que procuram reunir-se e celebrar a fé no contexto que têm em comum, que é a faculdade”. E acrescenta: “esta é uma iniciativa que convida, que tem um certo magnetismo. Ao vermos outros como nós envolvidos, outros como nós a quererem celebrar a fé, a quererem trazer a fé para o seu meio de formação, vamos também”.

Face ao aumento progressivo dos NEC, e à diversidade de cursos e de pontos de vista, Francisco Montellano diz que “há uma necessidade de unidade, e torna-se cada vez mais necessário que nos congreguemos”. Daí a realização do II Encontro dos Núcleos de Estudantes Católicos de Lisboa, marcado para este sábado. Embora ao longo do ano já haja, em cada um, uma “actividade contínua em cada faculdade”, e os vários núcleos que existem também se reúnam entre si “com bastante regularidade”.

Este responsável lembra, ainda, que o crescimento dos NEC está “directamente relacionado com o grande 'boom' da Missão País”, que ano após ano tem envolvido mais universitários. “Tem sido um aliado fortíssimo. Basta ver que a maioria dos núcleos surgiu de uma experiência de pós-missão, que é sempre intensa e marcante”, conta-nos.

“Vamos uma semana para um local diferente do habitual, mais ou menos desertificado, com mais ou menos necessidade de evangelização, mas onde estamos em comunidade a aprofundar a fé na acção, na oração e na vida comunitária. Quando se volta sente-se que se está unido por algo maior, mais profundo. Por isso os NEC vêm muito daí, desta fecundidade que brota de experiências como a Missão País”. Em 2017 a iniciativa envolveu 2.300 jovens universitários.

Um encontro ao estilo das TED Talks

O II Encontro NECTalks vai decorrer este sábado, às 16h, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Em 2016 tiveram como oradores o patriarca D. Manuel Clemente, o economista João César das Neves e o padre Tolentino Mendonça, entre outros. Mas no painel deste ano todos os participantes são jovens, porque um dos critérios que tiveram na escolha foi o da proximidade. “Escolhemos os temas a pensar num perfil de orador, e depois fomos escolhendo as pessoas. É um cartaz mais jovem, e isso parece-me positivo, porque são mais próximos da nossa realidade concreta, que é a realidade universitária”. Será também uma forma de “mostrar aos jovens que há cada vez mais jovens envolvidos nisto”, sublinha o estudante de medicina.

A iniciativa chama-se NECTalks por decorrer de forma semelhante às conferências TED. Os oradores têm um tempo limite para intervir (7 minutos cada um) e deixar, a quem os vê e ouve, um testemunho inspirador e motivador.

Desta vez todas as intervenções foram pensadas a partir do tema “Da Palavra nasce a fé”, escolhido pela Pastoral Universitária para o actual ano académico, explica-nos Francisco Montellano, que terá a seu cargo o painel “A escola da Palavra”. O escritor Afonso Reis Cabral vai falar sobre a “A arte da Palavra”, a artista plástica Filipa Sáragga sobre “A beleza da Palavra”, o advogado Domingos Freire de Andrade sobre “O dever da Palavra”, a filósofa e professora Isabel Campos sobre “A razão da Palavra”, a enfermeira Matilde Salema sobre “A ousadia da Palavra”, e Lourenço Brito, do Just a Change, sobre “As mãos da Palavra”.

“O silêncio da Palavra” será o mote da intervenção de Madalena, irmã de clausura no mosteiro da Imaculada Conceição de Campo Maior, que gravou o seu testemunho num vídeo que será transmitido durante o encontro.

No final vai ser também divulgada uma mensagem do Presidente da República aos participantes deste NECTalks.