05 out, 2017 - 09:05 • Eunice Lourenço , Paula Caeiro Varela
Com o anúncio de Pedro Passos Coelho de que não se recandidata à liderança do PSD na sequência das eleições autárquicas, o PSD iniciou um processo de sucessão interna em que se começam a contar apoios entre barões e estruturas.
O próximo líder será eleito em eleições directas, previsivelmente no início de Dezembro. Um mês depois deve ter lugar o congresso de consagração do líder e da estratégia para o futuro.
Para já há um candidato certo e outros à espreita, à espera ou a ponderar.
O (in)desejado – Rui Rio
Já foi várias vezes desejado para a liderança do PSD. Uma das vezes foi na sucessão a Luís Filipe Menezes, em 2008, mas não quis deixar o Porto, onde era presidente da Câmara, para liderar um partido profundamente dividido e que vinha de três lideranças curtas e turbulentas: Pedro Santana Lopes, Marques Mendes e Luís Filipe Menezes.
O barrosismo ainda tentava encontrar um novo rosto. Delegações de barões foram ao Porto pedir a Rui Rio que salvasse o partido, mas perante a sua recusa quem acabou por avançar foi Manuela Ferreira Leite e o autarca do porto foi um dos seus vice-presidentes, como tinha sido de Durão Barroso e de Pedro Santana Lopes. Antes, tinha sido secretário-geral do partido na liderança de Marcelo Rebelo de Sousa.
Nascido no Porto, em Agosto de 1957, estudou no Colégio Alemão e na Faculdade de Economia daquela cidade. Entrou para a política no início dos anos 80 via JSD, foi deputado durante várias legislaturas nos anos 90 e, em 2001, foi eleito presidente da Câmara Municipal do Porto, cargo que desempenhou até ao limite de 12 anos.
Saído da câmara retomou, primeiro, a actividade no Millennnium BCP, onde tinha sido bancário, e actualmente desempenha funções em duas empresas de recursos humanos. Por entre a actividade profissional, vai fazendo palestras pelo país, muitas vezes a convite de estruturas do PSD. Passos Coelho chegou a desejá-lo para as presidenciais de 2016, mas também para essa batalha recuou.
Nas suas intervenções, tem insistido num discurso sobre a transparência da vida democrática que considera estar “doente”. Culpa os jornalistas e os juízes por esse enfraquecimento da democracia e defende que a todos devem ser aplicados regime de transparência e fiscalização. Tem um imagem de homem sério, mas também há quem o considere um populista e até um provinciano que não conseguiu ter visão estratégica para o Porto.
Agora, perante a saída de Passos, volta a ser o preferido dos chamados “barões” do PSD que se reuniram com ele em Azeitão a preparar uma candidatura que já não tem margem de recuo. Mas, como já avisou Pedro Santana Lopes, não são os “barões e baronetes” que elegem os presidentes do PSD, são os militantes em voto directo. E, quanto a estruturas do partido, apenas conta com o apoio da distrital de Aveiro.
O sucessor natural – Luis Montenegro
Luís Montenegro, que saiu este Verão da liderança da bancada parlamentar do PSD, contava ter agora dois anos para preparar o seu caminho de sucessor natural de Passos Coelho. Esse caminho implicaria, contudo, um certo afastamento do actual líder de forma a limpar a sua imagem como um dos rostos da política de austeridade, pois presidiu ao grupo parlamentar do PSD durante os anos da troika.
Advogado, começou na política em Espinho, em cargos autárquicos. Chegou ao Parlamento em 2002 e teve, com a liderança de Pedro Passos Coelho uma ascensão meteórica. Em 2010 foi eleito um dos vice-presidente do grupo parlamentar e, no ano seguinte, quando o PSD ganhou as eleições tornou-se presidente da bancada, onde teve a tarefa de defender as politicas do Governo e, nos últimos dois anos, ganhou ainda mais protagonismo ao ser o rosto e a voz alternativos aos de Passos Coelho nos debates quinzenais com António Costa.
Ao longo da sua liderança parlamentar esteve envolvido em várias polémicas, entre as quais uma sobre a sua participação numa loja maçónica e, outra, a questão das viagens de deputados para assistir a jogos da selecção de Portugal no Euro 2016.
Com 44 anos chegou ao limite de mandatos como líder parlamentar (três eleições de dois anos cada) e seria substituído por Hugo Soares. Não esconde a ambição, mas nunca avançaria contra Passos e perspetivava um pousio de dois anos para preparar o seu caminho, até porque sabe bem que quem ficar agora com a liderança tem uma tarefa bem difícil.
Ao longo da campanha eleitoral autárquica, fez quase uma campanha paralela, indo a muitos locais onde Passos não ia. Agora,assume que está a ponderar candidatura e que não dependerá de ninguém, mas na verdade estará a avaliar os apoios que pode ter e a vantagem ou não de avançar, mesmo que seja só para marcar lugar. Mas também pode não avançar por ter medo de ganhar.
O adversário fiel – Paulo Rangel
Foi um dos adversários de Pedro Passos Coelho quando este chegou a presidente do PSD, em 2010. O outro foi José Pedro Aguiar Branco, que viria a ser ministro da Defesa. Nessa eleição directa, Passos ultrapassou os 60 por cento, Rangel teve quase 35 por cento e Aguiar Branco pouco mais de 3 por cento. Mas ambos os derrotados acabariam por estar ao lado do vencedor nas batalhas que se seguiram: Rangel no Parlamento Europeu, Aguiar Branco como ministro da Defesa.
Rangel tinha ganho protagonismo no partido na liderança de Manuela Ferreira Leite, de quem foi líder parlamentar e cabeça de lista às eleições europeias de 2009, mas a sua entrada para a política tinha sido com Rui Rio em 2001, quando foi convidado por PSD e CDS para redigir o programa eleitoral. Até essa altura até era mis próximo do CDS, partido em que chegou a filiar-se sob influência de António Lobo Xavier. Em 2005 formalizou a sua adesão ao PSD, depois de ser eleito deputado. Antes tinha sido secretário de Estado da Justiça no Governo de Santana Lopes.
Nascido em Gaia em 1968, católico, especialista em direito administrativo e ambiental, tem coordenado os deputados do PSD em Bruxelas, onde também é um dos vice-presidentes do grupo parlamentar do PPE, sendo também vice-presidente do partido. Mas esta semana mudou a sua agenda europeia para estar na reunião do Conselho Nacional em que Passos Coelho anunciou que não se recandidata à liderança.
No mesmo dia, saía um artigo seu no diário Público, jornal onde é colunista regular, no qual defendia as suas ideias para o PSD, algumas das quais bem diferentes das de Rui Rio, nomeadamente no que diz respeito à comunicação social e ao poder judicial.
Dentro do Conselho Nacional também fez uma intervenção que foi interpretada como contrária às posições de Rio, ao dizer que é contra um Bloco Central, solução defendida pelo antigo autarca do Porto na sequência das legislativas de 2015. À saída da reunião – onde foi elogiado por Passos Coelho e Marco António Costa – o eurodeputado não recusou uma candidatura à liderança do partido, mas, citando o livro do Eclesiastes, disse que ainda não é tempo para falar de nomes, mas de ideias.
Entre os seus apoiantes de 2010, teve nomes do barrosismo, como Morais Sarmento ou José Luís Arnaut, mas também do cavaquismo, como Pacheco Pereira e a própria Ferreira Leite. Alguns desses nomes – Ferreira Leite e Morais Sarmento – aparecem agora como apoiantes de Rui Rio. Mas a contagem de apoios ainda agora começou.
O clássico – Pedro Santana Lopes
Já foi praticamente tudo o que há para ser na política portuguesa. Deputado, secretário de Estado, ministro, eurodeputado, presidente da câmara, líder do PSD, primeiro-ministro... Só lhe falta mesmo a Presidência da República. Mas, apesar de tal currículo, está sempre pronto para mais uma batalha. Ou, pelo menos, para ponderar, como admite agora com o eventual regresso à liderança do PSD.
Como muitos no partido, não gosta que Rui Rio apareça como um salvador do partido, ainda por cima com a bênção de “barões e baronetes”, como disse na SIC Notícias, onde lembrou ao antigo presidente da Câmara do Porto que quem elege os presidentes do PSD são os militantes em eleições directas.
Aos 61 anos, continua a ser o “menino guerreiro” de que algum PSD desdenha, mas que o seu PPD/PSD ama e aclama em cada congresso. Chegou a ter a morte política declarada quando Jorge Sampaio lhe tirou o tapete em 2004, mas prometeu que iria “andar por aí” e tem cumprido. Ponderou e recusou uma candidatura à Câmara de Lisboa, provavelmente o sítio onde foi mais feliz.
O seu partido já terá sido o mesmo de Rui Rio, mas hoje estão terão concepções diferentes da social-democracia e, embora seja um clássico Santana Lopes ponderar e gostar de manter o partido ou o país em suspenso das suas decisões, terá um gosto especial em dificultar a vida àqueles que ajudaram a derrubá-lo em 2004/2005.
Os "outsiders" – Pedro Duarte e José Eduardo Martins
No congresso de 2016, foram os únicos nomes a subirem ao palco de Espinho para criticarem o caminho traçado por Pedro Passos Coelho e defender uma estratégia diferente. Nas eleições autárquicas deste ano, deram a cara pelas candidaturas de Lisboa (José Eduardo Martins) e do Porto (Pedro Duarte), liderando as listas às respetivas assembleias municipais.
Teresa Leal Coelho e Álvaro Santos Almeida foram os grandes desastres eleitorais da noite de dia 1, os resultados do PSD para ambas as assembleias municipais foram melhores do que para as câmaras, mas ainda assim muito aquém do que é considerado o eleitorado fixo do partido.
São da mesma geração (um tem 47 aos o outro 44) e têm percursos muito semelhantes. Ambos começaram na JSD - onde José Eduardo Martins foi secretário-geral e Pedro Duarte foi presidente -, chegaram por essa via ao Parlamento, foram secretários de Estado e dedicaram-se à vida profissional depois de saírem do Governo.
José Eduardo Martins é advogado na Abreu Associados e também sócio da PIC-NIC Produções, uma empresa que organiza concertos. Pedro Duarte é director de "corporate affairs" da Microsoft Portugal. Mas a política está-lhes no ADN e vão mantendo intervenção, seja em comentários, seja em participações mais locais.