01 set, 2017 - 18:45 • Paulo Ribeiro Pinto
O ex-adjunto nacional da Protecção Civil questiona a substituição do comando operacional em cima da época de incêndios.
Marco Martins, que foi convidado da Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide, falou das falhas no SIRESP e na polémica substituição de toda a linha de comando nacional da Protecção Civil e da entrada dos militares no combate aos incêndios.
Marco Martins, adjunto de operações durante quatro anos, foi substituído, tal como toda a linha de comando nacional, poucos meses antes do início da época crítica de incêndios.
Agora nos Bombeiros de Óbidos questiona o momento da decisão para mudar todo o comando operacional da protecção civil.
“Há um conjunto de investimentos por parte do poder político que, de um momento para o outro, porque assim a lei o permite, através de um clique dos dedos, é posto de parte. Agradecem-nos com as formalidades necessárias pelo trabalho desenvolvido e depois vão buscar outras pessoas que têm de fazer exactamente o mesmo percurso que foi feito neste espaço temporal dos quatro anos, que é a comissão de serviço que qualquer um dos elementos da estrutura operacional tem para com efeito”, disse.
Quanto às falhas do SIRESP, apontadas, em parte como responsável pelos grandes incêndios deste Verão, por falta de comunicação entre os operacionais, Marco Martins reconhece que existem, mas não pode o sistema de emergência ser o bode-expiatório para todos os problemas.
“Tem lacunas, tem constrangimentos, tem falhas… tem. Mais do que aquelas que se aceitam nos dias de hoje. Estão identificadas um conjunto de zonas-sombra em que o SIRESP não chega. Agora, não podemos usar o SIRESP como bode expiatório”, refere.
Quanto à entrada de militares no combate aos fogos, Marco Martins afirma que a Protecção Civil já dá formação ao Exército há vários anos. O problema é que depois não têm material para ir para o terreno.
“Os militares recebiam a formação, mas depois não tinham as ferramentas para aplica-las na prática quando se deslocavam para os incêndios florestais. Ou seja, os recursos materiais para eles poderem trabalhar eram muito limitados e não eram satisfatórios para as necessidades. Trabalhei muitas vezes em teatros de operações com militares, que faziam vigilância activa e raras operações rescaldo porque não tinham equipamentos adequados”.
Opinião idêntica tem o vice-presidente da Câmara de Mação, uma das mais atingidas pelos incêndios deste Verão. António Louro diz que é, muitas vezes, constrangedor ver os militares nos incêndios.
“Na realidade, a figura que o exército português tem feito nos fogos chega a ser confrangedora. Não trazem os equipamentos adequados, não estão suficientemente articulados com o dispositivo de combate no terreno, estão a tentar colaborar sem condições para que essa acção possa ter sucesso”, acrescenta.
Para o autarca não se pode fazer a diabolização do eucalipto porque os produtores também precisam de ter lucro com os terrenos. A questão, sublinha António Louro, continua a ser o ordenamento da floresta.