19 ago, 2017 - 22:57
O líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, diz que o regresso da prioridade para investimentos em obras públicas preocupa o partido e é um regresso ao "socratismo".
"A periodização das obras públicas como factor de competitividade do país é algo que deixa o PSD manifestamente preocupado. O país estava afinado contra a prioridade das obras públicas. Este é o regresso ao 'socratismo' e esta é a grande novidade e única da entrevista", disse Hugo Soares à agência Lusa.
"Anunciar obras públicas como prioridade para o país é voltar aos tempos do engenheiro Sócrates e nós isso não queremos e creio que o país também não quer", frisou.
Em declarações ao Expresso, o primeiro-ministro disse esperar que, após as eleições autárquicas, se abra "uma segunda parte da legislatura", para a qual é "fundamental" um acordo com o PSD para investimentos em obras públicas.
A grande prioridade para a 'rentrée' é a definição da "estratégia nacional para o Portugal pós-2020", incluindo um novo acordo com a União Europeia para fundos comunitários. O grande objectivo é que o "programa dos grandes investimentos em obras públicas seja aprovado por dois terços na Assembleia da República", afirmou António Costa.
Hugo Soares destacou outra frase de António Costa, na qual o primeiro-ministro diz que vive cada dia como um dia no que diz respeito à governação, considerando-a "manifestamente redutora, porque manifesta uma total visão de falta de estratégia para o país, uma ausência total de uma ideia do país e daquilo que é preciso fazer do ponto de vista estrutural".
Sobre o repto lançado para um possível acordo com o PSD para investimentos em obras públicas, o líder parlamentar do partido da oposição diz que é "conversa fiada", ressalvando que António Costa "não concretiza para que quer os consensos".
"Não há uma ideia de país que perpasse desta entrevista. Há a necessidade de sobreviver ao dia a dia, e isso significa que o primeiro-ministro não tem visão estratégia para o país. O PSD nunca se negou a sentar com o PS", acrescentou.
E Hugo Soares deixou um desafio ao primeiro-ministro: "que se empenhasse em executar o actual quadro" de apoios comunitários.
"Era importante que os milhões de euros que deviam estar a chegar às empresas da execução do actual quadro não estão a chegar por incompetência do Governo", disse.
Catarina Martins. "Toda a gente deve ser convocada para o debate"
Já a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) diz que, mais do que consensos entre o PSD e PS, é preciso que haja um grande debate público sobre os investimentos em infra-estruturas para o qual todos estejam convocados.
"Acho que já estava na altura de nós, no país, compreendermos que a discussão, a análise, o lançamento de grandes projectos, não depende necessariamente dos acordos da direita. Agora que devem ser debatidos e que toda a gente deve ser convocada para o debate, isso seguramente", afirmou Catarina Martins aos jornalistas a propósito de declarações do primeiro-ministro ao Expresso.
"Mais do que consensos entre PSD e PS, o que é preciso é que haja um grande debate público sobre as infra-estruturas e perceber que há sempre alternativas que podem ser debatidas e que devem ser debatidas seriamente", sublinhou a líder do Bloco, durante uma visita à serra do Alvão, em Vila Real, afectada recentemente pelos incêndios.
A coordenadora disse que o BE tem defendido "que os grandes investimentos do Estado devem ser objecto de um grande debate público, de uma grande discussão pública" porque os "investimentos infra-estruturais têm efeitos de décadas no país e têm efeitos em todo o país".
"Está todo o país interessado em saber como se resolve a questão do aeroporto de Lisboa, não é um problema só de Lisboa é um problema de todo o país e é um problema de fundos, deve ser debatido", frisou.
E, acrescentou ainda ter "dúvidas de que um simples consenso entre PS e PSD nos dê as melhores soluções".
Catarina Martins lembrou a construção dos estádios de futebol para o Euro 2004 e que os dois partidos "acordaram um investimento que foi de milhões e que hoje o país não percebe muito bem o que há-de fazer com ele".
"Julgo que o tempo político que nós vivemos hoje demonstra que é sempre bom debatermos alterativas para lá dos acordos do bloco central", sublinhou.
PCP estranha que PS insista com o PSD
Por sua vez, o secretário-geral do PCP classificou o primeiro-ministro como "um homem de grande fezada" por achar que o PSD pode fazer uma "reciclagem", considerando que era "no mínimo estranho" pretender querer contar um partido que abdicou de obras públicas.
"O senhor primeiro-ministro [António Costa], com certeza é um homem de grande fezada, acha que o PSD pode fazer uma reciclagem (...), em relação aos objectivos que têm animado durante a governação dos últimos anos", declarou Jerónimo de Sousa, referindo que o PCP considera de o que é realmente importante é que Portugal se consiga preparar na questão do Portugal 2020 para "ir o mais longe possível".
"Não bastam acordos tácitos", acrescentou Jerónimo de Sousa, relembrando também que a questão dos pactos não "é grande novidade".
"Já foram feitos e refeitos com o PS, PSD e CDS e, no mínimo, é estranho que se possa querer contar com o PSD em relação a problemas de fundo, no plano das estruturas, no plano dos transportes, no plano das obras públicas", disse.
"Acho que essa questão do pacto, o Partido Socialistas continuará a confiar nas boas vontades e na boa disposição do PSD, não percebendo nós, como é que o responsável pela paragem das obras públicas, pela destruição das nossas infra-estruturas, pela sua degradação, é a solução de parceria", completou, elencando o exemplo do IP8 e os problemas em escolas secundárias de Ermesinde (concelho de Valongo), onde "chove há muitos anos" e que o Governo anterior (PSD/CDS-PP) "abdicou" e "ficou indiferente".
"Há grandes anúncios, sempre houve grandes anúncios, mas enquanto não se encontrar o financiamento orçamental bem que podemos ficar pelas boas intenções e é por isso que nós já pensamos no quadro já do próximo Orçamento do Estado e no quadro do Portugal 2020 darmos a nossa contribuição para avançar em relação a problemas estruturais que temos na nossa sociedade.
O secretário-geral do PCP comprometeu-se em Ermesinde, durante o seu discurso numa praça pública, junto à estação de comboios daquela freguesia, que ia lutar pelo "aumento das reformas e das pensões" no próximo Orçamento de Estado.