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128 mil hectares ardidos. "O eucalipto não tem culpa", diz investigador

08 ago, 2017 - 09:57

Defende que os diplomas aprovados no âmbito da reforma florestal são insuficientes e prevê que continue "a reinar a livre iniciativa", levando a um provável aumento da área de eucaliptal.

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O investigador Ernesto de Deus considera que o eucalipto não tem "culpa" nos incêndios, atribuindo a responsabilidade à falta de gestão e plantação desregulada, considerando que vai continuar "a reinar a livre iniciativa" face às insuficiências da reforma.

"O eucalipto não tem culpa. O problema é a falta de gestão florestal nos eucaliptais e a sua implantação desregulada", disse à agência Lusa o investigador no Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.

Face à predominância de pequenas propriedades, o eucalipto garante um retorno rápido, mas o proprietário acaba por não ter escala "para fazer uma gestão adequada dos eucaliptais", notou Ernesto de Deus.

Para o investigador, os diplomas agora aprovados no âmbito da reforma florestal são insuficientes e prevê que continue "a reinar a livre iniciativa", levando a um provável aumento da área de eucaliptal e à ausência de uma verdadeira gestão das propriedades florestais.

Apesar das regras agora previstas na reforma florestal para arborização e rearborização limitarem as explorações de eucaliptos, Ernesto de Deus considera que "dificilmente ocorrerão mudanças com o impacto desejado".

Para o especialista, a reforma florestal acaba por ser insuficiente na gestão florestal e no cadastro - áreas fundamentais quer para controlar as espécies que são plantadas, quer para garantir que os terrenos florestais são mais resilientes contra fogos.

Na sua opinião falta "coragem política para obrigar os proprietários a cederem a gestão das suas propriedades a uma entidade com capacidade técnica para o fazer em áreas de dimensão compatível com uma verdadeira gestão florestal".

O "caos fundiário"

O novo diploma regulamentador das Zonas de Intervenção Florestal (ZIF) continua "a deixar a cargo dos pequenos proprietários" a implementação do plano de gestão florestal" da ZIF.

"Perante isto, o que se prevê é que as decisões de gestão ou não gestão continuem a ser feitas à escala da micro-propriedade, por centenas de milhares de proprietários de parcelas com áreas da ordem das centenas de metros quadrados como acontece numa boa parte do país, nomeadamente na área de expansão do eucalipto", referiu Ernesto de Deus.

Também na área do cadastro, apesar de terem sido "aprovados incentivos ao registo voluntário, um sistema simplificado de cadastro e um sistema nacional de informação cadastral", isso "não chega", constatou o investigador, que participou no estudo "Incêndios florestais em Portugal: uma análise crítica do pós-2003", que já apontava para a importância do cadastro.

Até agora, sublinhou, só tem havido projetos-piloto, não havendo "nenhuma data nem nenhum orçamento para o arranque decisivo de uma campanha de levantamento cadastral das propriedades do país inteiro".

Face a um "caos fundiário", o investigador não se mostra nada optimista relativamente ao futuro, considerando que vai ser "impossível" fazer cumprir a lei.

Este ano, os incêndios florestais já consumiram mais de 128 mil hectares – a maior área ardida no mesmo período na última década e quase cinco vezes mais do que a média anual dos últimos dez anos.

Só no distrito de Leiria, o mais afectado pelo grande incêndio de Pedrógão Grande, arderam 20.072 hectares de espaços florestais (cerca de 98,6% da área ardida no distrito).

Comentários
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  • João Fernandes
    09 ago, 2017 Porto 23:59
    Pois. Hoje as Universidades vivem dos "serviços" que prestam às empresas. Ou me engano muito ou as empresas de celulose são os principais financiadores da Instituto Superior de Agronomia e em particular deste investigador. Fica bem não morder a mão que nos alimenta.
  • é um fartar
    08 ago, 2017 portugal 17:13
    Claro que o eucalipto não tem culpa, mas que não é coisa boa não, pois tem cá umas raízes que até entram nas rochas e não há nascente de água que lhe resista. Tudo à sua volta se torna infértil. Mas claro, o eucalipto não tem culpa e a culpa também não é dos incendiários, mas dos GOVERNOS QUE TEMOS TIDO, QUE ACABARAM COM OS GUARDAS FLORESTAIS, OS GUADAS RIOS, OS CANTONEIROS, OS VIGILANTES DAS FLORESTAS, para que o dinheiro dos ordenados que pagavam a esta gente fossem sabe lá Deus ou o Diabo para onde, porque tanto dinheiro que é sacado ao povo e ninguém presta contas onde ele é utilizado. Uma coisa todos sabemos: ORDENADOS MONSTRUOSOS COMO NA CAIXA G. DEP., médicos em hospitais públicos, com ordenados escandalosos, enfim, em tudo o que é Estado, é um sacar e ensacar, sabe-se lá para onde, ou melhor, vai-se sabendo e de que maneira .
  • adn
    08 ago, 2017 V.Conde 15:11
    O problema dos incendios, não está verdadeiramente no eucalipto, mas sim nas zonas onde o mesmo é plantado, e na falta de limpeza das matas. O problema real está na limpeza das matas. E é tão fácil a solução deste problema.Basta que o Govêrno ,autorize as Câmaras e Juntas de Freguesia a vigiar e a multar quem não faz limpeza da sua mata. E estas a fazerem limpezas e a cobrar aos proprietários essas despesas.. Poupava-se muito em despesas com meios aéreos e as Câmaras e Juntas teriam mais umas receitas extra.
  • António Costa
    08 ago, 2017 Porto 12:22
    Hoje alcançamos uma vitória estrondosa que passa desapercebido por não se tratar de futebol, NÃO EXISTEM INCENDIOS ATIVOS, não deixamos entrar nenhum golo (do destino), nada acontece por acaso talvez seja o fruto do acompanhamento dos guarda-redes (rendidos pelo infortúnio) acompanhados pelos treinadores (serviços de psiquiatria ou psicólogos).
  • António Costa
    08 ago, 2017 Porto 12:11
    A exploração do gás natural é perigosíssima e exige medidas de segurança excecionais. (Pondo de lado os magnatas que dai usufruem rendimentos sem nunca terem ido ao local) existe a necessidade de laborar no local de forma a poder comercializar essa riqueza, esse ganha pão são as migalhas que o povo come, falar de forma ingénua e desinteressada que não precisamos dessas migalhas no caso do eucalipto é no mínimo redutor.
  • Filipe
    08 ago, 2017 évora 12:00
    Havia um senhor de um programa de comidas na TV que dizia : "BONITO" . Pois é , Portugal está bonito , bonito , porque o Estado substitui as companhias de seguros , não se precisa pagar anualmente um seguro , o que é preciso é arder ... arder ... , e depois vem euros a fundo perdido . Portanto , para quê o negócio da madeira se depois de arder fica tudo pago ?
  • Magalhães
    08 ago, 2017 Algodres 11:45
    Não tem culpa o eucalipto, não tem culpa o Estado (que incentiva, ou incentivou, a plantação sem regra), não tem culpa a proteção cívil e tudo o que a engloba, etc, etc! Resumindo: em Portugal a culpa morre quase sempre solteira, nunca há responsáveis a certos níveis. Na verdade no "negócio chorudo do fogo" todos ganham, excepto os donos dos terrenos (que pelos vistos são também os únicos culpados pelos incêndios)!
  • Lurdes
    08 ago, 2017 Maceira 11:25
    O eucalipto pode até não ter a culpa mas o que é certo é que o eucalipto NÃO PERTENCE NO NOSSO PAÍS. Há um grande abuso de plantação porque é uma árvore que cresce rápido enchendo mais rápido os bolsos dos gananciosos. O eucalipto em excesso provoca a seca, não é segredo para ninguém.
  • rosinda
    08 ago, 2017 palmela 11:23
    Dar-se um incendio e culparem-se as arvores e o pior que pode acontecer naquilo que muita gente ainda teima em chamar de democracia!
  • sandokan
    08 ago, 2017 Leiria 11:16
    Que interessante esta afirmação! convido o investigador a visitar a minha aldeia e mostra-lhe que o eucalipto é o responsável pela desidratação do terreno o que faz com que sem humidade haja maior probabilidade de risco de incêndio. Pois onde Antes era uma ribeira e os terrenos limítrofes estavam alagados com a agua para a plantação da erva da beira e ou arroz. Hoje vamos verificar e aqueles solos estão secos, porquê? Porque nesses terrenos foram plantados eucaliptos e esses mesmos acabaram por tornar aqueles terrenos secos e desidratados. Agora venham cá os srs. investigadores com as suas teorias para defenderem o que não deve ser defendido. A ciência não engana quem engana são os cientistas e ou investigadores. Cmp

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