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Activista Shepard Fairey traz “Printed Matters” a Lisboa

21 jul, 2017 - 07:28

O artista norte-americano, criador do cartaz "Obama Hope", usaria a palavra "Narcisismo" para acompanhar um retrato de Donald Trump.

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Shepard Fairey pintou a esperança em Obama. Agora fez dois murais em Lisboa
Shepard Fairey pintou a esperança em Obama. Agora fez dois murais em Lisboa

O artista norte-americano Shepard Fairey inaugura esta sexta-feira, em Lisboa, “Printed Matters”, exposição que mostra sobretudo peças impressas, técnica que crê “não ter os dias contados”, e cujo conteúdo activista gostava de ver mais vezes nas Artes Visuais.

“Printed Matters” é parte de uma série contínua de exposições que é também o nome do projecto que iniciou em 2010, tendo sido apresentado pela primeira vez em Los Angeles, e que chega à galeria Underdogs. Em cada exposição, o artista vai acrescentando obras inéditas.

Os trabalhos expostos são sobretudo impressões em madeira, papel e metal, mas há também ‘stencils’, que Shepard Fairey usou para pintar nas ruas e que, quando começam “a ficar frágeis”, são reformados “como objectos de arte em molduras”. Em comum têm as cores utilizadas - vermelho, preto, dourado e creme, que o norte-americano começou a usar “por uma questão prática”, embora haja uma série de trabalhos em azul, criados para a exposição "Earth Crisis" ("Crise da Terra") – e o teor activista.

“Estou constantemente a tratar os temas do poder abusivo, da necessidade de questionar a autoridade, do poder abusivo do mercado empresarial, da maneira como as empresas, especialmente nos Estados Unidos, influenciam o governo, da destruição ambiental e das alterações climáticas, da vigilância e da desintegração da comunicação social. Há peças sobre esses temas, não só nesta exposição, mas em todas as que faço e estou sempre a encontrar maneiras novas de os abordar”, contou, em entrevista à agência Lusa, em Lisboa.

Shepard Fairey vê na arte “uma óptima maneira de comunicar”. “Conseguir fazer uma imagem de que estou orgulho e me dá gozo fazer, mas que também diga alguma coisa é importante para mim, porque me permite ter os dois lados da minha personalidade”, referiu.

No âmbito da exposição, Shepard Fairey criou três murais em Lisboa. Um deles, na rua Senhora da Glória, é uma colaboração com Vhils.

“A minha parte do mural, metade do rosto de uma mulher muçulmana, é baseada numa série que fiz chamada ‘Universal Personhood’. Em vários países muçulmanos a mulher não era considerada uma pessoa completa até há pouco tempo, era três quintos de pessoa. A isso juntas que, no mundo ocidental, se acha que se deve ter receio dos árabes e que estes contam como menos. Quero ver ‘Universal Personhood’ [personalidade universal] para todas as mulheres no mundo, independentemente de que zona são, de que religião”, explicou.

Nos outros dois murais surgem figuras fardadas, com armas na mão de onde saem flores - no da rua Natália Correia, na Graça, uma mulher, e na rua José Gomes Ferreira, às Amoreiras, um homem.

Em Lisboa, será possível ver ao vivo, e de forma gratuita, esses trabalhos, entre hoje e 31 de Julho e de 1 a 23 de Setembro. Já os murais pertencem agora à cidade e não têm data prevista para desaparecer.

Trump e o narcisismo

O artista norte-americano usaria a palavra "Narcisismo" para acompanhar um retrato de Donald Trump, presidente de um país para o qual considera ainda haver esperança, apesar de estar num momento “sombrio”.

Seis meses depois de Trump ter sido eleito presidente dos Estados Unidos, sucedendo a Barack Obama, Shepard Fairey contou, em entrevista à agência Lusa, que ainda sente “muita vergonha” de que o país tenha escolhido o empresário milionário como chefe de Estado.

“As coisas estão muito sombrias nos Estados Unidos, neste momento, e eu sinto muita vergonha que, como uma nação, tenhamos elegido Trump. Ele não ganhou o voto popular, mas, baseado na maneira como os distritos funcionam, que é parcialmente a manipulação do sistema, ele foi eleito”, afirmou à Lusa, em Lisboa, onde está a propósito da sua primeira exposição em Portugal.

Uma das obras mais famosas de Shepard Fairey, cujo trabalho tem um cunho activista, é um retrato de Barack Obama (“Obama Hope”), a vermelho, branco e azul, espalhado pelos Estados Unidos em formato de cartaz, durante a campanha das eleições presidenciais de 2008.

Nove anos depois, e apesar do momento “sombrio” que o país atravessa, o artista mantém “esperança [hope]” no país, porque acredita que “as pessoas querem coisas que são diferentes do que o Trump defende”.

Para Shepard Fairey, “a única forma de Trump ter sido eleito, é porque o sistema não está a funcionar para muita gente”. “As pessoas estão desesperadas para tentarem qualquer coisa, mas acho que irão aprender a lição”, disse.

Além disso, “há muita apatia e ignorância nos Estados Unidos, muitas pessoas não votam e também não pesquisam [acerca de] as verdadeiras dinâmicas dos assuntos que têm impacto nas suas vidas”.

Com a arte que cria, Shepard Fairey tenta “constantemente dar um empurrão” ao que considera serem “ideias progressistas” e também de como “é importante olhar para as questões e aprender sobre elas”.

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