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“Oportunidade de negócio para o Douro”. Creme anti-rugas feito a partir do engaço de uva?

17 jul, 2017 - 12:16 • Olímpia Mairos

Este subproduto, que resulta de cada vindima, apresenta características antibacterianas, anti-inflamatórias e antimicrobianas e pode vir a ser utilizado na indústria cosmética, farmacêutica e até alimentar.

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Há quem lhe chame engaço, mas é também conhecido por canganho. Trata-se de um subproduto que resulta de cada vindima e que os investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro estão a estudar com vista ao seu aproveitamento para as indústrias cosmética, farmacêutica e alimentar.

Actualmente, os produtores de vinho optam por depositar o engaço em aterros, utilizar como fertilizante e até para a alimentação animal. Representa 25% dos resíduos orgânicos da indústria vinícola e está pouco estudado e caracterizado comparativamente com outros subprodutos como as películas, grainhas, borras ou bagaços.

Ana Barros, directora do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) da UTAD não tem “dúvida alguma” de que está aqui “uma oportunidade de negócio para o Douro”.

Os estudos de potencialidade do engaço foram sempre direccionados para uma aplicabilidade na indústria, mas os investigadores da UTAD foram mais longe. Centraram o seu trabalho em sete castas existentes na Região Demarcada do Douro e, segundo Ana Barros, já é possível concluir que este subproduto possui características que “ajudam na actividade antibacteriana, anti-inflamatória e antimicrobiana”.

“Conseguimos verificar que, de facto, as potencialidades deste subproduto são enormes e isso leva-nos a crer que, rapidamente, vamos conseguir ter resultados para podermos aplicar esta matriz quer na indústria cosmética, quer farmacêutica quer alimentar”, avança a investigadora.

O engaço tem uma “actividade antioxidante extremamente elevada”, revela Ana Barros, adiantando que o objectivo é, por exemplo, “desenvolver um creme antirrugas, que acredito que vai ser a grande potencialidade desde subproduto”.

Nesse sentido já foram realizados contactos com uma empresa da região e está a ser preparada uma candidatura a fundos comunitários, porque, segundo a responsável, os testes de cosmética, a nível de segurança e eficácia, “são extremamente dispendiosos”.

Castas com melhores resultados que antibióticos

A parte farmacêutica poderá ser a que vai levar mais tempo a estudar embora a investigação já desenvolvida “leva a crer que a potencialidade de actividade antibacteriana é elevadíssima”.

Foram testadas bactérias isoladas, do foro gastrointestinal, de pacientes do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), com extractos de engaço e verificou-se que “há castas que conseguem ter uma inibição superior aos próprios antibióticos em termos de crescimento microbiano”, refere Ana Barros.

Tratando-se de um produto sazonal, os investigadores estão a analisar o que pode acontecer ao engaço de uva ao longo do armazenamento.

“Temos estudos de três meses em que a composição destes compostos se mantém, não é alterada. Isto é extremamente importante também”, conclui.

A equipa do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) da UTAD, começou a estudar formas de valorização do engaço em 2014. Segundo a responsável, nesse ano só havia, a nível mundial, 59 artigos publicados sobre o engaço. Desde então a equipa do CITAB já publicou 11.

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