15 jul, 2017 - 01:10 • José Pedro Frazão
Confirmada a saída de Portugal do Procedimento por Défice Excessivo, os temas contenciosos entre Portugal e Bruxelas não vão sair da arena económica. A tese é de Pedro Santana Lopes e António Vitorino no programa Fora da Caixa da Renascença.
"Não se desinstalou a desconfiança e o receio. Tem havido muitos elogios, as autoridades europeias têm reconhecido os bons resultados, mas naturalmente há receio", alerta o antigo primeiro-ministro. Pedro Santana Lopes considera que, para além da questão do défice, o ritmo do crescimento económico é também um ponto muito importante a assegurar por Portugal.
"Temos que corrigir o défice mas também aproveitar este 'vento' de crescimento e 'manter a passada', a ver se crescemos perto de 3%, o que daria uma boa ajuda até para os olhos de Bruxelas", sustenta o antigo chefe de Governo.
Já para António Vitorino, os dois temas de debate com Bruxelas vão passar pela redução da dívida pública e pelo cálculo do défice estrutural.
Neste último ponto, sublinha o ex-comissário europeu, "há uma divergência de fundo entre um conjunto de países do Sul e a Comissão Europeia. Nesse sentido, nunca cumprimos os objectivos de redução de défice estrutural que a Comissão Europeia propõe". No caso da dívida, Portugal tem que tentar convencer Bruxelas da trajectória descendente deste indicador.
Ir além de Bruxelas?
Na questão do défice público, Santana Lopes antecipa um debate interessante no quadro do próximo Orçamento do Estado sobre "até onde vamos baixar o défice orçamental e nomeadamente o debate no seio da maioria sobre qual o caminho certo".
Na opinião do ex-líder social-democrata, as conversas no seio da maioria que apoia o Governo vão reflectir um dilema: "continuar a baixar o défice como Bruxelas quer - ou até mais do que Bruxelas diz - ou defender certas políticas públicas".
O socialista António Vitorino descarta a ideia de um rumo que leve o défice abaixo das exigências de Bruxelas.
"O défice por enquanto está nos 2,1% do PIB, o que não é substancialmente diferente do défice do ano passado. É verdade que o segundo semestre permite sempre algumas melhorias destes números, por força das receitas. Mas a ideia de que vamos além do que a Comissão Europeia pede é prematura nesta fase do 'campeonato", remata o antigo comissário europeu.