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Centro de Noite para idosos: “Para que os cuidadores também descansem”

03 jul, 2017 - 18:12 • Ângela Roque e Pedro Filipe Silva

É mais um projecto inovador do Centro Social e Paroquial de Arroios, em Lisboa, a pensar nos mais velhos e em quem deles cuida. O novo serviço vai abrir no próximo sábado, 8 de Julho. A Renascença foi espreitar os preparativos.

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Depois do alargamento do Centro de Dia, que agora também funciona ao sábado, do apoio domiciliário de 24 horas e das Repúblicas Seniores (em que alguns idosos partilham casa e despesas, à semelhança das Repúblicas dos estudantes), o Centro Social e Paroquial de São Jorge de Arroios, em Lisboa, prepara-se para abrir mais um serviço a pensar nos mais idosos e também nas suas famílias.

“É preciso cuidar de quem cuida, permitir que descansem, por exemplo, durante as férias”, diz à Renascença o director do centro, que lamenta que a regra seja, quase sempre, a institucionalização das pessoas: “aqui o nosso objectivo tem sido sempre não criar respostas residenciais permanentes, mas dar respostas às famílias, de forma a que possam ter as suas pessoas mais velhas em casa o maior tempo possível, assim seja essa a sua vontade”.

Em Arroios essas alternativas têm sido criadas. Há 78 idosos no Centro de Dia, e 87 com apoio em casa, e já foram abertas oito Repúblicas Seniores. O novo serviço surgiu para responder às solicitações.

“Temos famílias que há anos não têm férias porque também não têm onde deixar os mais idosos”, explica Pedro Raúl Cardoso.

A ideia do Centro de Noite é, precisamente, a de que quem cuida possa descansar, sem que quem é cuidado deixe de o ser. “É uma forma de o Centro também cuidar de quem cuida, e das pessoas poderem ter uma vida social e poderem ter um descanso, deixando ali os mais idosos”, sublinha o mesmo responsável.

As necessidades são sempre maiores quando chega o Verão: “do mês de Junho ao mês de Setembro é uma altura complicada, porque são meses de férias, quer dos nossos colaboradores, quer dos cuidadores”, e aumentam os pedidos, “muitas vezes até para passarmos a noite em casa das pessoas”, o que “em termos de gestão e organização interna acaba por ser muito confuso”. Mas, como as pessoas nos foram solicitando alternativas, esta “acaba por ser uma boa resposta”, conclui.

Ao todo são seis quartos com 10 camas, onde cada idoso não poderá ficar mais do que três meses. “Porquê 90 noites? Porque não queremos criar uma resposta social permanente, não podemos cativar uma cama durante um ano”.

O centro poderá não servir apenas para pessoas idosas, porque já foram desafiados a receber também pessoas portadoras de deficiência. “E esses também merecem, tal como os seus cuidadores também merecem algum descanso, e portanto esta resposta também pode caminhar para aí”.

“O que estava planeado era abrirmos duas respostas”, conta Pedro Raúl Cardoso. Por um lado o Centro de Noite, no próprio edifício do Centro Social, onde fizeram “um andar só para a dormida”. A outra resposta era abrir noutro espaço “não um lar, mas um hotel para pessoas mais velhas”, mas não foi possível. Para já, no Centro de Noite, “não está previsto o alargamento de mais do que 10 camas, precisamente porque é uma unidade de descanso”. E também não há espaço para mais.

O novo Centro de Noite inaugura sábado, e já tem muita procura: “para Julho ainda temos algumas vagas, e para Setembro também”, mas Agosto está “praticamente lotado”. Cada quarto individual custa 40 euros, o duplo 30, e o triplo 25, despesas a cargo dos próprios utentes ou das suas famílias, já que “esta é uma resposta que não é protocolada com a segurança social”, portanto as pessoas pagam por noite. “Têm sempre garantida a dormida, a ceia, o pequeno-almoço e a higiene da manhã”.

Utentes aplaudem novo serviço

O novo Centro de Noite fica no próprio edifício do Centro Social, onde os gabinetes dos técnicos se transformaram em quartos. É ali que durante as férias Ana Maria Vicente irá deixar a sua mãe, Constança Costa, que está prestes a completar 100 anos: “vai-me ajudar imenso, porque eu sou cuidadora não só dela, como da empregada. Que já é mais do que empregada, é nossa amiga, está connosco há 62 anos. Elas são inseparáveis, e não iam sê-lo agora, nas minhas férias”, conta à reportagem da Renascença.

Um caso diferente é o de Fernanda Costa, de 78 anos, e que já frequenta o Centro de Dia. "Ela está aqui durante o dia. A saída é às 17h00, e a essa hora tenho uma pessoa em casa que a recebe, que está com ela depois a dar o lanche, o jantar, a medicação, e a deitá-la”, explica a filha Paula Figueiredo, que acrescenta: “nós precisamos deste descanso emocional. Eu como cuidadora sofro também bastante com isto tudo, como todos os cuidadores que têm estas pessoas a seu cargo. Isto vai ser muitíssimo bom”. Diz, ainda, que esta é a recompensa que a mãe merece pelo que lhe deu ao longo da vida: “ela sofreu bastante, deu-nos tudo, e agora é a nossa vez de lhe dar a ela. É uma infância, voltamos todos a ser pequeninos. Eles cuidaram de nós, agora somos nós a cuidar deles”.

Também Ana Maria Vicente não esconde a emoção quando fala da vida quase centenária da sua mãe, “uma guerreira” que teve “vários reveses na vida. Eu sou a única filha sobrevivente de quatro”. O que não tem dúvidas é que em breve o novo Centro de Noite em Arroios poderá ser pequeno para as necessidades que há na zona, que tem uma população “muito envelhecida, multicultural, com muitos problemas. Portanto se calhar vão ter de alargar mais”.

Este foi um dos destaques do espaço que às segundas-feiras, depois das 12h15, é dedicado aos temas sociais e relacionados com a vida da Igreja.

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  • Ana Maria Teixeira
    05 jul, 2017 Lisboa 10:46
    Vivo nesta freguesia e sou cuidadora também. Gostei de saber deste acolhimento. No entanto em termos de espaço temos o antigo hospital de Arroios ao abandono há muitos anos sem utilização, que poderia ser o tal hotel para pessoas mais velhas. Obrigada.

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