28 jun, 2017 - 16:34
O Ministério Público inglês instaurou processos, esta quarta-feira, contra seis pessoas, a maior parte ex-polícias, a propósito da tragédia de Hillsborough de 1989, em que morreram 96 pessoas.
As vítimas, todas adeptos do Liverpool, morreram num recinto fechado e sobrelotado em Sheffield, no norte de Inglaterra, durante uma meia-final da Taça de Inglaterra entre os "reds" e o Nottingham Forest.
Inicialmente, a polícia britânica culpou adeptos alcoolizados pela tragédia, uma explicação consistentemente rejeitada pelas famílias das vítimas e pela comunidade de Liverpool.
"Decidi que há provas suficientes para acusar criminalmente seis indivíduos", afirmou Sue Hemming, directora da divisão de crimes especiais e anti-terrorismo do Ministério Público britânico, em comunicado.
David Duckenfield, encarregado das operações policiais em Hillsborough no dia do desastre, foi acusado do homicídio involuntário, por negligência, de 95 homens, mulheres e crianças.
Sue Hemming revelou que a acusação alegará que as falhas de Duckenfield no cumprimento das obrigações "foram extraordinariamente más e contribuíram substancialmente para as mortes de cada uma das 96 pessoas que tão trágica e desnecessariamente perderam as suas vidas".
O antigo polícia não foi acusado da morte da 96.ª vítima, que morreu quatro anos após o desastre, devido a limites de tempo legais em voga na altura.
Chefes da polícia e um advogado
Norman Bettison, ex-chefe da polícia, foi acusado de quatro delitos de prevaricação no exercício de funções públicas, por ter alegadamente mentido acerca do seu envolvimento no pós-desastre e da culpabilidade dos adeptos.
Dois outros ex-chefes da polícia, Donald Denton e Alan Foster, foram acusados de obstrução à justiça, devido a alegadas modificações feitas a declarações de testemunhas, usadas na investigação original e na inquérito às mortes de Hillsborough. Um advogado que actuou ao serviço da polícia, Peter Metcalf, também foi acusado de obstrução à justiça.
Graham Mackrell, então secretário e segurança do Sheffield Wednesday, foi acusado de contrariar regras de segurança e de não atender à saúde e segurança das vítimas.
Os arguidos, sem contar com Duckenfield, serão atendidos no tribunal de magistrados de Warrington a 9 de Agosto, para uma primeira audiência.
A situação de Duckenfield é diferente, uma vez que foi acusado privadamente em 1999, tendo o juiz da altura suspendido procedimentos. Os promotores da justiça terão de concorrer a um juiz do Supremo Tribunal para levantar a suspensão e ordenar o avanço do processo instaurado ao ex-polícia.
Barry Devonside, que sobreviveu à tragédia mas perdeu o seu filho Christopher, então de 18 anos, mostrou a sua satisfação com o desfecho. "Tinha medo, tinha tanto medo que nos decepcionassem de novo. É tão difícil lutar por justiça durante todo este tempo [28 anos] em que tivemos de lutar", confessou, à saída do edifício do Ministério Público inglês.