21 jun, 2017 - 18:55
O presidente executivo da Uber apresentou a demissão. Travis Kalanick sai pressionado pelos investidores, depois de uma série de escândalos na plataforma de transportes que faz concorrência aos táxis.
“Amo a Uber mais do que tudo neste mundo e, neste um momento difícil na minha vida pessoal, aceitei o pedido dos investidores para me afastar”, disse Kalanick num email de despedida enviado aos trabalhadores.
O co-fundador da Uber, de 40 anos, espera que a sua saída permita à empresa concentrar-se em “construir”, em vez de andar “distraída com outras lutas”.
Num comunicado citado pela agência Reuters, o conselho de directores da empresa elogia a “decisão corajosa” de Kalanick, que “dá espaço à empresa para abraçar um novo capítulo na história da Uber”.
Travis Kalanick e Garrett Camp criaram a empresa em 2009, com um pequeno investimento e uma ideia: ligar motoristas aos clientes através de uma plataforma móvel.
Descrito como ambicioso e de personalidade abrasiva, Kalanick sai de cena - mas fica no conselho de directores - numa altura em que a Uber está avaliada em mais de 60 mil milhões de euros, mas também vive mergulhada numa tempestade de polémicas.
“Cultura tóxica”
O empreendedor natural da Califórnia, que integra a lista dos americanos mais ricos, tem um passado de declarações sexistas.
Também tem sido criticado por implementar uma cultura de empresa que encoraja a competitividade exacerbada entre os trabalhadores, “bullying” e discriminação.
Este ano foi noticiado que Travis Kalanick teve conhecimento de casos de assédio sexual e outros crimes cometidos por motoristas da Uber, mas não fez nada para lidar com o problema.
Em Fevereiro, foi divulgado um vídeo em que Kalanick aparecia a repreender um motorista da Uber que se queixava do baixo salário. O CEO da empresa fez depois de um pedido de desculpas público e prometeu procurar "ajuda de liderança".
A demissão acontece depois de uma investigação interna liderada pelo antigo procurador-geral Eric Holder, que concluiu que a autoridade do fundador da empresa devia ser reduzida e que o papel do conselho de directores devia ser reforçado.
A Uber contratou o antigo procurador para analisar a cultura e as práticas na empresa, depois de Susan Fowler, uma antiga colaboradora, ter denunciado publicamente que foi alvo de assédio sexual enquanto trabalhou na empresa.
O que se seguiu foi uma montanha de escândalos, incluindo uma investigação criminal ao alegado uso de tecnologia para enganar os reguladores em algumas cidades e um processo em que um executivo da Uber é acusado de roubar segredos a Waymo, a empresa que desenvolve os carros sem condutor da Google.
A Uber também enfrenta outros processos judiciais apresentados por motoristas por causa dos salários e da forma como são tratados.
A empresa despediu, no último mês, cerca de 20 trabalhadores por incidentes relacionados com discriminação, assédio sexual e comportamento desadequado.
“A Uber encaixa na definição de uma cultura de liderança tóxica” e Kalanick “define o tom”, defende Jason Hanold, um especialista em recursos humanos.