26 mai, 2017 - 13:30
O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, classificou, em declarações à Renascença, a greve geral desta sexta-feira como “uma jornada de luta memorável”, apontando para uma adesão na ordem de 90%.
O líder sindical considera que os bons indicadores que a economia portuguesa tem registado nos últimos meses não se reflectem na vida dos portugueses. “O Governo tem de olhar para o que se passa na rua”, afirma Arménio Carlos.
Convocada pela Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FNSTFPS), a greve nacional de na Função Pública foi anunciada no início de Abril para reivindicar aumentos salariais, pagamento de horas extraordinárias e as 35 horas de trabalho semanais para todos os funcionários do Estado.
O regime das 35 horas foi reposto em Julho de 2016, mas excluindo os funcionários com contrato individual de trabalho, sobretudo os que prestam serviço nos hospitais EPE.
A FNSTFPS, afecta à CGTP, é composta pelos sindicatos do norte, centro, sul, regiões autónomas e consulares e representa 330 mil funcionários.
A última greve geral convocada pela FNSTFPS com vista à reposição das 35 horas semanais realizou-se em Janeiro do ano passado, e teve, segundo a estrutura, uma adesão média entre 70% e 80%, incluindo os hospitais.
Lisboa
A greve da Função Pública está a ter efeitos diferentes na região de Lisboa, com várias escolas encerradas, centros de saúde e hospitais a cancelarem as consultas e outros a funcionarem a meio gás ou normalmente.
Exames adiados, consultas por realizar e dúvidas dos utentes sobre a presença dos médicos marcaram hoje de manhã o cenário nas consultas externas do Hospital de São Francisco, em Lisboa.
Já no Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, os serviços estão a funcionar normalmente, sem qualquer perturbação, segundo informou o hospital.
Na Unidade de Saúde Familiar (USF) da Venda Nova, na Amadora, todas as consultas foram desmarcadas devido à greve dos funcionários públicos.
Na Unidade de Saúde familiar Rodrigues Miguéis, em Benfica, Lisboa, o cenário era completamente diferente, com as pessoas a serem atendidas pelos funcionários e depois consultadas pelos médicos à hora marcada.
Apesar de muitas escolas estarem a funcionar normalmente, há outras que encerraram as portas esta manhã, como é o caso das escolas Professor Delfim Santos, Filipa de Lencastre ou Pedro Santarém, em Lisboa.
Em Loures, mais de três mil alunos ficaram de manhã sem aulas em Loures, em Lisboa, devido à greve da função pública que originou o encerramento das quatro principais escolas da cidade.
Porto
A adesão à greve convocada para pelos sindicatos da função pública foi de 75% no Hospital de São João, no Porto, segundo fonte sindical.
No Hospital de São João, de acordo com o dirigente do STFPS Mário Sobrinho, a "adesão rondou os 75%", num impacto que foi "contornado pelo hospital com a mobilidade de alguns funcionários para outros serviços" e pelo facto de "haver gente a trabalhar sem contracto".
"Estão fechados os blocos de estomatologia, de oftalmologia, de otorrinolaringologia - aqui também não houve consultas - e ainda o bloco de neurocirurgia, enquanto o bloco de torácica encontra-se a 50%", afirmou à Lusa aquele responsável sindical.
Em declarações à Lusa, um dirigente sindical salientou que também os hospitais de Penafiel, Pedro Hispano (Matosinhos), Vila Nova de Gaia e Santo António, no Porto, estão com adesões acima dos 75%, destacando-se o caso de Vila Nova de Gaia onde a adesão é de "100%, não estando, sequer, a ser respeitados os serviços mínimos".
Na educação, dez escolas da cidade estavam, cerca das 9h00, encerradas devido à greve geral da Função Pública que está a afectar, sobretudo, os sectores da Educação, Saúde e Justiça, segundo o sindicato do sector.
"Temos 160 agrupamentos de escolas no distrito do Porto, ainda é um pouco cedo para sabermos o número em concreto de escolas encerradas, mas, pelo que já pudemos confirmar, há pelo menos dez estabelecimentos encerrados", afirmou Orlando Gonçalves, coordenador dos Sindicatos dos Trabalhadores da Função Pública, que falava junto à Escola Clara de Resende, uma das que encerrou.
Segundo Orlando Gonçalves, há casos de escolas que, não estando encerradas, funcionam só parcialmente, como é o caso da "Fontes Pereira de Melo", onde apenas os alunos do 7º ano e cursos profissionais.
Coimbra
Alguns autocarros dos transportes urbanos estão a circular em Coimbra, incluindo na zona do pólo dos Hospitais da Universidade, onde há pessoas que lamentam o impacto da greve da Função Pública no acesso aos serviços de saúde.
Proveniente de Castelo Branco, Susana Esteves chegou cedo à cidade do Mondego, para uma consulta e realização de análises numa unidade do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).
A viagem de autocarro demora geralmente mais de duas horas, ao longo de 225 quilómetros, só que desta vez a utente perdeu o tempo e o dinheiro do transporte sem resultados.
"Não estou contra a greve, mas nós não temos culpa. Nós é que sofremos", afirma à agência Lusa Susana Esteves, auxiliar de acção educativo numa escola da sua terra.
Algarve
A greve da função pública no Algarve está a ser visível na Saúde e na Educação, mas afecta também tribunais e serviços de Finanças, disse uma fonte sindical, à porta das consultas externas do hospital de Faro.
Rosa Franco, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e das Regiões Autónomas (STFPSSRA), disse que o balanço feito até às 10h00 permite dizer que, nos hospitais da região, "a adesão à greve ronda os 80%" e é visível num "maior atraso para as consultas", por falta de pessoal administrativo e auxiliar, estando apenas a ser garantidos os serviços mínimos.
Vila Real
A Escola EB 2,3 Diogo Cão, em Vila Real, fechou deixando cerca de 300 alunos sem aulas e tornando-se no sinal mais visível das consequências da greve da função da pública na cidade transmontana.
Luís Lopes ia deixar o filho de 11 anos na Diogo Cão e deparou-se com a escola fechada.
"Tenho mais dois filhos e esses tiveram aulas. Tive que vir confirmar se este tinha, porque as outras escolas estão a funcionar. Agora, vou ter de arranjar alguém que possa ficar com ele para eu ir trabalhar", afirmou o pai aos jornalistas.
No Tribunal de Vila Real também não se verificou adesão à greve e os serviços estavam, esta manhã, a funcionar com normalidade.
Beja Açores
O fecho da Escola Básica de Santiago Maior, em Beja, devido à greve nacional da Função Pública, obrigou os pais a um "jogo de cintura" para encontrarem soluções para um dia de trabalho com filhos sem aulas.
Devido aos avisos colocados na quarta-feira nos dois portões da escola - já que na quinta-feira foi feriado municipal em Beja -, alertando para o facto de poderem não estar asseguradas as condições para o normal funcionamento das aulas por causa da greve, foram poucos os pais e alunos que se deslocaram à escola.
Já no Centro de Saúde de Beja, três utentes abordados pela Lusa contam que não foram afectados pela greve.~
Açores
Centenas de alunos concentraram-se no exterior da Escola Secundária Antero de Quental, um dos principais estabelecimentos de ensino na ilha de São Miguel, nos Açores, onde não houve aulas na sequência da greve da função pública.
Sem funcionários suficientes para assegurar o normal funcionamento da escola, Maria Medeiros, 46 anos, funcionária pública há 19, foi das poucas funcionárias que não aderiu à paralisação porque tem o marido desempregado e não pode ver o seu vencimento penalizado, para além do facto da greve de 2016 "não ter resolvido nada."
Jorge Augusto, administrador judiciário, declarou à que nos tribunais dos Açores, a greve "não teve o mesmo impacto" do que uma paralisação convocada pelo Sindicato dos Funcionários Judiciais, tendo os concelhos que registaram maior adesão à paralisação sido Ribeira Grande (de 21 aderiram 11), em São Miguel, e Angra do Heroísmo (de 29 funcionários aderiram 19), na Terceira.
Nas consultas externas do hospital de Ponta Delgada, vivia-se, apesar da greve, a rotina diária, tendo Ana Isabel Pavão, que é funcionária daquela unidade há 27 anos, conhecimento de colegas que optaram por não trabalhar, e só não fez o mesmo porque "o ordenado já é pouco", uma vez que "há dez anos que não se sobe de carreira".
Madeira
A adesão à greve nacional d oscila entre os 50% e os 55% na Madeira, disse o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública da Região Autónoma da Madeira (STFPRAM).
Segundo Ricardo Gouveia, a greve atinge particularmente os sectores da Educação (escolas e infantários) e da Saúde (centros de Saúde) mas "não se verificam serviços públicos encerrados". "É uma adesão que deixa o Sindicato minimamente satisfeito e um pouco desiludido pelo facto de o movimento sindical não se ter unido nesta grave", observou.
A Secretaria Regional da Saúde, contudo, diz desconhecer essa situação porque "não houve pré-aviso de greve para a Saúde na Região". A greve nacional da Função Pública teve poucas repercussões no funcionamento do Tribunal Judicial da Comarca da Madeira.
"Dos 152 oficiais de justiça, fizeram greve 13 e das 28 diligências marcadas para hoje apenas três foram adiadas", revelou Paulo Barreto, presidente do Tribunal Judicial da Comarca da Madeira.
Fenprof ameaça
A Fenprof vai avançar com uma manifestação nacional ou greve em Junho, caso o Ministério da Educação continue sem apresentar respostas a reivindicações dos professores, informou hoje o secretário-geral da federação, Mário Nogueira.
"Apela-se ao Ministério da Educação e ao Governo a antecipação da reunião prevista para 6 de Junho. Antecipação essa que deverá levar a que a reunião se realize até 31 de maio, ou seja até à véspera das decisões da Fenprof relativamente à posição e à luta a desenvolver", afirmou Mário Nogueira.
Caso não haja "respostas ou sendo insatisfatórias, o que está em cima da mesa será a realização de uma grande manifestação de professores ou, em alternativa ou até cumulativamente, de greve ou greves durante o mês de Junho", realçou.
A Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FNSTFPS) prometeu, hoje, continuar a "luta" caso o Governo não dê respostas às reivindicações dos trabalhadores.
"A luta é sempre algo que está em aberto. Se o Governo não der respostas, os trabalhadores vão responder com luta, disse o dirigente sindical Artur Sequeira.
Para Artur Sequeira, o Governo tem todas as condições para dar passos no sentido de melhorar as condições dos trabalhadores.
"Não parece correto que depois de lutar tanto para derrubar um governo (PSD/PP) que tanto roubou aos trabalhadores, este governo (PS) tenha criado tantas expectativas e não tenha posto as expectativas em prática. Repôs algumas coisas mas é insuficiente e pode fazer muito mais", acrescentou Artur Sequeira.