22 mai, 2017 - 15:27
Contra o insucesso escolar no primeiro ciclo, que atinge 14% das escolas públicas, segundo um estudo da Empresários pela Inclusão Social (EPIS) revelado esta segunda-feira, os directores de escolas defendem um ensino mais personalizado, menos alunos por turma e mais envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos.
O presidente da Associação dos Directores de Escolas, Filinto Lima, sublinha que “devemos virar as nossas energias ao nível do primeiro ciclo para que seja um ciclo com um ensino mais personalizado possível, ou seja, diminuindo, nitidamente, o número de alunos por turma”.
“É muito importante também que os pais acompanhem aquilo que se passa no dia-a-dia e que se interessem na vida escolar dos seus filhos através de acções de formação ao nível da parentalidade. Ou seja, há aqui um conjunto de factores que, se funcionarem ao mesmo tempo, poderão contribuir para que esses valores sejam menores”, considera Filinto Lima.
O estudo da EPIS conclui que o insucesso escolar se manifesta, sobretudo, no interior do país e na periferia de Lisboa e que 541 escolas públicas do primeiro ciclo têm níveis de repetência superiores à média nacional em todos os anos de escolaridade. Seis em cada 10 destas escolas estão em 40 concelhos, com maior incidência no Sul e menor no Norte.
A primeira causa de repetência no segundo ano, aponta o estudo, é o défice de competências de leitura dos alunos.
Luís Filipe Redes, da Associação de Professores, defende que reprovar os alunos é uma má solução que gera um fosso entre os alunos que aprendem mais depressa e aqueles que aprendem mais devagar.
“O principal problema que vejo aí é de haver uma cultura de retenção em Portugal. É uma má solução para um problema que é comum”, diz.
“Essa ferramenta tem resultados contraproducentes, porque faz com que as crianças se atrasem mais ainda. Vão para a escola aprender que não conseguem aprender. Umas aprendem mais devagar, outras aprendem mais depressa, e é aqui feita uma clivagem logo no primeiro ciclo entre aquelas que conseguem passar e aquelas que não conseguem”, lamenta.
O projecto de investigação da EPIS, denominado "Aprender a ler e escrever em Portugal", tem como principal objectivo aprofundar o conhecimento sobre o problema do insucesso escolar nos primeiros anos de escolaridade.
Em Elvas, Beja, Silves, Crato, Serpa, Sines, Moura e Castro Marim, concelhos do interior com baixa densidade populacional, a maioria das escolas são de insucesso.
No Norte e Centro destacam-se os concelhos de Mirandela, Idanha-a-Nova, Penamacor, Sabugal, Freixo de Espada à Cinta, Vila Velha de Rodão, Vila Flor, Seia e Bragança, onde a maioria das escolas são de insucesso.
O estudo identifica ainda incidência e disseminação mais forte em alguns concelhos da periferia da cidade de Lisboa, nomeadamente em Loures, Amadora, Almada, Setúbal, o que contrasta com menor incidência noutros como Vila Franca de Xira, Oeiras, Odivelas, Cascais e Sintra.