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Hora da Verdade

​“Não estamos irritados” no PSD, diz Marco António Costa

17 mai, 2017 - 23:55 • Raquel Abecasis [Renascença] e David Dinis [Público]

Em entrevista à Renascença e ao "Público", o vice-presidente social-democrata considera que o Governo foi pragmático e mudou de estratégia. O PSD "sente sempre satisfação" quando há boas notícias, sublinha.

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“Não estamos irritados” no PSD, diz ​Marco António Costa
“Não estamos irritados” no PSD, diz ​Marco António Costa

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O PSD não está "irritado" com os bons resultados económicos do país, garante o vice-presidente social-democrata, Marco António Costa, em entrevista ao programa "Hora da Verdade", da Renascença e do "Público".

O Governo foi pragmático e mudou de estratégia e o PSD "sente sempre satisfação" quando há notícias positivas, diz Marco António Costa. Mas "em 2009 também vivíamos uma euforia sem fim", avisa o dirigente do PSD que não acredita no "diabo".

À beira das autárquicas, o PSD tem sido "vítima" das boas notícias económicas que contrariam as previsões feitas pelo partido nos últimos meses. Ficou surpreendido com o crescimento do PIB de 2,8% no primeiro trimestre?

Queria começar por corrigir algumas palavras que disse na sua introdução: nós não estamos a ser vítimas de nada, o país está a beneficiar de um conjunto de decisões e reformas que foram feitas ao longo dos últimos anos. O PSD não se sente vítima, sente sempre satisfação quando há boas notícias.

Mas com alguma surpresa...

E não contraria as nossas previsões. Confirma é que o Governo mudou de estratégia orçamental na Primavera do ano passado, face ao que estava a acontecer nos primeiros meses do ano. A Comissão Europeia alertou o Governo que estava a caminhar para não cumprir o défice e que a estratégia de induzir crescimento pela devolução de rendimentos não estava a ter resultados. Aí o Governo foi pragmático: lançou mão de cativações definitivas, que bloquearam investimentos; lançaram o programa PERES e a reavaliação de activos para obter receitas extraordinárias. O Governo meteu travão a fundo na despesa e procurou por todos os meios obter receita extra, para assegurar um défice mais baixo do que aquele que previa. Aquele fundamentalismo de que o PS nos acusava? Conseguiu ultrapassar-nos com o que fez na segunda metade de 2016.

E com isso o PSD deixou de ter razões para desconfiar de que viria o diabo. Ou não?

Com isso começou a haver sinais de que se atingiriam os objectivos, mas não da forma adequada. Porque atingimos um défice nominal positivo, mas o saldo estrutural degradou-se.

O Governo anterior, em 2015, também não foi brilhante.

Mas nós pegámos num país em bancarrota que tivemos que recuperar. O que deixámos foi um país numa situação com uma perspectiva de futuro diferente.

Dizendoque o Governo corrigiu o tiro e alinhou no essencial, o PSD não tem que concluir que este Governo de esquerda se normalizou?

O Governo remediou a situação no ano passado. Uma das coisas que procurou fazer foi injectar fundos comunitários na economia alterando as regras. A execução em si mesma é fraca, o que tem havido é um adiantamento de fundos para tentar recuperar o que foi travado de investimento público. O que estamos a ter são resultados que realinham com o essencial: controlar o défice, procurar que o Estado tenha uma aposta este ano no investimento (o Governo está a tentar recuperar o investimento).

E que estes dados do INE confirmam.

Estes dados confirmam. O que o Governo fez foi realinhar a estratégia, a nosso ver bem, embora tenha perdido o ano de 2016 naquilo que era uma perspectiva de crescimento mais ambiciosa.

Essa mudança de estratégia não foi radical, as pessoas sentiram que havia uma política diferente.

O que aconteceu, de facto, é que o Governo acelerou medidas que nós já tínhamos previstas. Foi o nosso Governo que começou a devolução de rendimentos em 2015, que continuaria de acordo com as capacidades orçamentais - sem colocar em risco a recuperação e o crescimento económico.

Portanto, menos acelerado.

Nós fomos bastante conservadores, não tivemos a ousadia de prometer o que não tínhamos a certeza de que era possível. E portanto, paga-se isso em política. Se calhar pagámos isso com a não obtenção de uma maioria absoluta.

E pelos vistos o PS foi ousado e tem tido razão.

Não sei, vamos ver - espero que sim, que para o país o Governo tenha sucesso. Essa é sempre a nossa perspetiva, o PSD não tem uma visão dicotómica e negativista. Mas nós, também nos anos da crise, mantivemos o aumento das pensões mais baixas, que foi congelado em 2010 pelo PS. É que a história tem um curso e às vezes há uma certa incapacidade de ter uma visão mais alargada para percebermos onde começam os problemas. E em 2009, que foi um ano com três eleições, vivíamos uma euforia sem fim. E eu queria recordar isso.

Maria Luís Albuquerque reagiu aos dados do INE dizendo que receia que o Governo desista de fazer as reformas que o país precisa. Quais?

O Governo tem estado a gerir com um mínimo de impacto possível a governação do país. Porque tem problemas dentro da aliança política que estabeleceu.

E que reformas é que pararam?

Por exemplo, várias vezes nos disponibilizámos para nos sentarmos à mesa para discutir as matérias da Segurança Social. Todos temos noção que o problema de sustentabilidade é sério - basta haver um ciclo económico menos favorável para termos desequilíbrios estruturais fortíssimos. Era importante olharmos com tempo, sem radicalismo ideológicos, estudando os problemas e apresentando soluções. Fizemos três propostas para nos sentarmos, recebemos sempre uma indisponibilidade do PS.

Mas também não vimos uma proposta do PSD que lançasse essa discussão.

Temos as nossas propostas, mas também nos dá o benefício de não sermos ingénuos. Não estamos no Governo. E se apresentarmos a nossa proposta, o Governo aproveitará para nos atacar.

Não era uma maneira de mostrar que o PSD tem alternativas?

Vou-lhe responder com uma proposta que o primeiro-ministro usou na fase negocial a seguir às legislativas, quando procurámos construir um Governo com apoio do PS: ele dizia que o ónus da solução estava do nosso lado. É normal que em democracia o ónus da solução esteja do lado do Governo - e nós já nem exigimos isso. O que exigimos é que o Governo tenha disponibilidade para se sentar à mesa connosco. E o Governo, enquanto fala de fazer pequenas alterações à reforma antecipada, que são mais simbólicas, ou vai falando avulsamente de soluções, o que gostávamos era que houvesse uma abordagem estrutural, com todos presentes e apoio técnico. Isso não é um assunto só ideológico. Dou-lhe outro exemplo: falou-se da reforma do Estado, fizemos um roteiro e foi amplamente criticado porque era pouco ambicioso. Onde está o do PS? Onde estão as reformas do PS? A descentralização não avança.

Se não vem o diabo e se o PSD esconde as suas propostas, que espaço resta ao PSD?

Eu sou um católico, não me revejo no diabo. Tenho sempre uma visão positiva. Ao longo desta entrevista vocês têm repetido uma ideia subliminar, que é que nós estamos irritados por as coisas estarem a correr bem ao país. Nós não estamos irritados, estamos satisfeitos por uma razão muito simples...

É uma ideia que não é nossa, é a que passa do PSD.

Eu falo pelo PSD, porque estou autorizado a fazê-lo, e falo por mim. E digo o seguinte: nós trabalhámos tanto, lutámos tanto, passámos tantas dificuldades para libertar o país de um programa de ajustamento duríssimo - que em 2014 terminou, mas que outros queriam que continuasse... recordam-se que o PS queria um programa cautelar. E hoje estaríamos como está a Grécia. Portanto, temos todo o crédito para dizer que não nos façam essa acusação que é injusta. E é uma forma bastante desonesta de nos tentar posicionar no debate. Não nos vamos deixar diminuir no debate.

E a crítica que tem sido feita ao PSD de estar sem discurso e sem estratégia.

É completamente falsa. Nós, quando foi discutido no ano passado o Plano Nacional de Reformas apresentámos 222 propostas. 222. Não sei se tiveram oportunidade de as ler.

Se nós não tivermos, imagine os portugueses.

Mas nós também sentimos que há uma certa dificuldade em passar a nossa mensagem. Este Governo beneficia de uma docilidade absoluta do PCP e BE que, por norma, acicatam sindicatos e sectores da sociedade contra os governos. E desta vez não só aceitam o que criticavam como ainda vêm justificar. Mas para além das 222 propostas de 2016, aquando do Orçamento do Estado de 2017 apresentámos propostas em três sectores: na descentralização, todas chumbadas pela esquerda, que agora está a reapresentar algumas que nós apresentámos; outras na reforma da Segurança Social, também chumbadas; e no caso do crescimento económico, para que se mantivesse a reforma do IRC, que teve apoio do PS e dos parceiros sociais, mas foi revertida.

Temos apresentado propostas, há um discurso coerente. Mas temos muitas dificuldades em passar uma mensagem quando nós e o CDS temos 20 minutos e os outros têm 100. Passámos de dois partidos a defender um Governo e quatro a atacar para o contrário. Sabemos que a democracia é isto e aceitamos com naturalidade. Nós não vivemos com estados de alma. Por isso, às vezes, muitos dos nossos observadores olham para a atitude serena da comissão política e do seu líder e acham estranhamente serena.

Comentários
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  • isidoro foito
    19 mai, 2017 elvas 16:26
    Eu pensava que so o coelho era mentiroso no PSD , mas afinal são todos então este corrupto agora vem dizer que fizeram o que prometeram? que eu saiba na campanha eleitoral prometeram mundos e fundos e depois só não nos tiraram a pele porque não deixamos , ou o PSD mete estes jotinhas todos na rua ou nunca mais volta a ser o PSD que eu conheci , estes so mentirosos , vingativos e tem mau perder podem emigrar estão a mais neste pais
  • Nuno
    18 mai, 2017 V.N.Gaia 17:26
    Este Sr. a bem do PPD/PSD devia era estar calado, e fazer um apelo à sua consciência do mal que fez aos Portugueses. principalmente aos mais desfavorecidos. Mas desenganem-se os defensores deste actual governo que são melhores qualquer coisita por enquanto, mas quando chegar a hora da verdade, serão sempre os mesmo a sofrer, com estes políticos não dá para confiar em nada.
  • Filipe Orta
    18 mai, 2017 Chaves 17:20
    Lindo ver os laranjas com uma azia do tamanho do mundo.
  • joao123
    18 mai, 2017 lisboa 17:11
    Em 2010 o país nas mãos do socrates gastava 20 mil milhões de euros/ ano emprestados... pois. Os 78 mil milhões que felizmente a troika ( ou seja praticamente a mal falada Europa) nos emprestou ,quando ninguém mais o fazia a taxas de juro razoáveis foi para termos 4 anos para fazer o desmame, isto sem contar com os 6 mil milhões que voaram para a madeira e os novos encargos com as ppp's rodoviárias do socrates quando se acabaram os 5 anos de só pagar juros e tiveram de começar também as amortizações (aliás a última começou em 2016 ) . É o que se chama fazer dívida para os próximos pagarem... O que é obra é existir quem pense que depois do país ter ido á falência em 2011 era só mudar de primeiro ministro e estava tudo resolvido, não haveriam consequências nos anos seguintes LOL...
  • Jorge
    18 mai, 2017 Seixal 16:20
    Valeu a pena ir para a televisão dar uns “bitates” naqueles programas semanais sobre a política nacional, rapidamente chegou a vice-presidente dos pafalhados. Sobem na hierarquia do partido não pela competência mas sim pela imagem. Os incompetentes do PSD no seu melhor.
  • Luis
    18 mai, 2017 Lisboa 14:04
    Pois não. Irritadissimos, azedos, assanhados, deseperados e descrentes do pote por pelo menos vinte anos. Nem conseguem disfarçar e já só fazem rir.
  • ao joão 123
    18 mai, 2017 lis 13:39
    Foram o PSD\CDS que financiaram os 78 mil milhões de empréstimo? Já agora uma pequena questão de somenos importância! O que fizeram ao guito se durante 4 anos e meio a divida que em 2010, era de 92% do PIB passou para 129% do PIB em 2015? Em 4 anos aumentou 37%...É obra!...do PSD\CDS depois de 4 anos do maior aumento de impostos!
  • ó joão 123
    18 mai, 2017 lx 13:24
    o teu problema é confundires matemática com aritmética!...não são bem a mesma coisa! Não devias ter sido sacrificado nem mandado emigrar à força, daí teres mantido a tua zona de conforto! Não seguiste os conselhos do teu líder!...
  • daqui a 10 anos
    18 mai, 2017 13:23
    Para joao123- Meu caro com 78 mil milhões de apoio para arrumar a casa, até um estagiário de economia fazia o trabalho, e, se calhar com menos sacrifícios para muitos portugueses! Mas mesmo assim, não retiraram o pais do deficit abaixo de 3%.
  • questão pertinente
    18 mai, 2017 pt 12:45
    O que irão fazer estes figurões se forem sacudidos dos lugares de liderança que ocupam? O que é que sabem fazer mais na vida, para além de enganarem o zé pagode com retórica estafada?

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