24 abr, 2017 - 21:45 • Ângela Roque
Este “é um grande livro sobre um grande Papa”, disse o Presidente da República esta segunda-feira durante a apresentação de “Papa Francisco- A Revolução Imparável”, dos jornalistas António Marujo e Joaquim Franco.
“Encontrei aqui grande convergência de percursos e de análise”, sublinhou Marcelo Rebelo de Sousa, lembrando como viveu de perto e foi influenciado pelo Concílio Vaticano II, “naquela idade em que se passa da fé recebida por educação para o debate da fé”.
O Presidente considerou que este é um livro escrito “com paixão” pelos dois autores, “bem documentado”, e que pode ajudar à reflexão e ao debate, que em sua opinião até tem ficado empobrecido em Portugal no que à religião diz respeito.
E exemplificou: “há mais gente conservadora no mundo católico do que não conservadora. E eu sempre pensei que faz falta mais esquerda católica. Não estou a dizer que não seja bom que haja direita católica, mas faz falta mais esquerda católica”, sublinhou.
Marcelo destaca os dois factores que considera claramente diferenciadores neste Papa: “o ser um Papa como se fosse um pároco, porque é pároco na forma, na pastoral, na preocupação com as periferias”.
E depois o facto de vir do Sul, o que em sua opinião faz dele quem é. “É um latino-americano que fala para o resto do mundo. É preciso conhecer bem a América Latina para perceber bem o Papa Francisco”, e as mudanças que já provocou.
“Quem anda por Roma já vê uma diferença abissal, há hoje muitos mais sacerdotes não europeus”, sublinhou o Presidente, considerando que depois de Francisco “os próximos Papas, não quer dizer que sejam todos de fora da Europa, já não podem ser é eurocêntricos, isso é irreversível”.
Marcelo Rebelo de Sousa falou, ainda, no facto do actual Papa ser “um jesuíta franciscano, o que é raríssimo”, lembrando que ninguém deve menosprezar a forma como comunica: “aquela linguagem terra a terra não significa que não seja capaz de ter uma linguagem intelectual. Ele é um jesuíta. A sua forma de comunicar simples e directa é intencional”, por isso “tem chegado a um universo que vai muito para além dos crentes”.
Referindo-se às divergências que o Papa tem enfrentado na questão da família, e do acesso à comunhão por parte dos divorciados recasados, Marcelo lembrou que no direito há várias formas de olhar a lei, “ou como um conjunto de regras, que se aplicam às situações de facto”, ou então “procurar a situação mais justa para o caso concreto”, e em sua opinião é o que o Papa tem tentado fazer.
Admitindo que a questão “é sensível”, o Presidente lembrou que houve um debate intenso a vários níveis, antes, durante e depois dos Sínodos sobre a Família que tiveram lugar. No fundo “há preocupação do Papa em ir abrindo caminhos” e um “apelo à consciência dos fiéis, e dos sacerdotes que acompanham as várias situações concretas”, referiu.
Mas, nestas e noutras áreas, com este Papa estaremos, de facto, a assistir a “uma revolução, como dizem os autores neste livro, ou é apenas um espírito reformista?”, perguntou Marcelo, para acrescentar de seguida: “quem aprecia o que há de novo dirá que é uma revolução, quem não vibra tanto com o que há de novo dirá que é uma reforma”. E concluiu: “numa coisa concordo com os autores, seja revolução ou reforma, é irreversível”.