Santana Lopes. "Brexit e Trump podem ser vitaminas para Europa se encontrar"

O antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes está agradado com o debate que tem surgido na Europa sobre os caminhos da União. O comentador lembra que esteve em Roma como chefe de governo numa cerimonia solene de assinatura do Tratado Constitucional europeu que não vingou.

Santana acredita que até os ventos adversos de hoje podem ajudar a reverter o "impressionante défice de tónus" na Europa.

"Há males que vêm por bem, como diz o povo. Isto do Brexit e do senhor Trump podem ter sido as vitaminas de que a União Europeia precisava para se reencontrar consigo própria", afirma o antigo primeiro-ministro na Renascença.

Santana observa que o debate caminha para uma discussão que ultrapassa algumas barreiras tradicionais como a " dialéctica que entre a liberdade no Estado-Nação e o aprofundamento da superestrutura. É acabar com esta dicotomia que tem havido entre entusiastas do projecto europeu e cépticos".

O antigo líder social-democrata elogia uma reflexão que "repense os preconceitos e os conceitos com margem de liberdade na base, não descurando uma maior integração possível nalguns domínios a nível europeu".

Citando uma expressão cara a Marcelo Rebelo de Sousa, Santana aconselha alguma descompressão, "descrispando estas questões europeias, como diria o nosso Presidente da República. Acho que pode ser útil. Estou a gostar de ver o que se esta a passar, se continuar a ser bem feitinho".

O comentador social-democrata arrisca um cenário para o Reino Unido que pode passar pelo regresso do "encanto" europeu às Ilhas Britânicas.

"Não é fácil, mas basta aparecer um chefe político ou um novo líder que diga que o seu projecto é continuar na União Europeia. Não se sabe quais serão as circunstancias para isso poder acontecer. Depende da vitalidade do projecto europeu. O projecto europeu foi muito sedutor ao longo de anos e anos. E se voltar a ser sedutor, isso tem uma força atractiva absolutamente impressionante. Se hoje em dia quase metade do Reino Unido tem muita pena de sair do projecto europeu, apesar de ele estar como está, imagine-se se ele voltar a crescer a 3 % ou a 2,5% e a conferir paz em tempos de sentimentos positivos. Pode acontecer", alerta Pedro Santana Lopes.