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“Aumentar salários sem produtividade é criar uma ficção"

02 set, 2016 - 20:28

Pedro Braz Teixeira defende, em entrevista à Renascença, o congelamento salarial.

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O Fórum para Competitividade mostra grande pessimismo quanto ao crescimento económico para este ano e sugere o congelamento de salários no privado e a manutenção do valor do salário mínimo.

Na nota de conjuntura, divulgada esta sexta-feira, o organismo que congrega várias empresas de relevo antecipa um crescimento de apenas 0,75% este ano, um valor bem distante das metas do Governo.

Em entrevista à Renascença, o director do gabinete de estudos estratégicos do Fórum para Competitividade, Pedro Braz Teixeira, esclarece as razões de tanto pessimismo no universo empresarial e avança como uma das soluções o congelamento salarial.

O que motiva o pessimismo do Fórum para a Competitividade?

A primeira razão é a primeira metade do ano em que a economia só cresceu 0,9%. A segunda razão passa pelas más perspectivas para o segundo semestre. Ainda hoje o FMI vem dizer que está a rever em baixa as perspectivas da economia internacional, está a diminuir, tivemos o impacto do Brexit que não foi muito significativo mas poderá manifestar-se no segundo semestre. Por outro lado, até 15 de Outubro, o governo vai ter que apresentar medidas adicionais para 2016 e o Orçamento do Estado para 2017, ou seja, vamos ter meses de grande incerteza o que não é bom para a economia. A 21 de Outubro a agência de rating de que o país depende (DBRS) vai divulgar as perspectivas para o país e não esperamos boas notícias daí. Portanto, será um segundo semestre pior que o primeiro que já foi muito fraco.

É neste quadro que o Fórum sugere o congelamento de salários no privado e para que não haja alterações no salário mínimo. Quanto ao privado, é um apelo que fazem a todos os empresários?

Sim, e apelamos também para que no Orçamento de 2017 se mantenham os escalões de IRS para dar indicação que não deve haver aumentos nos salários. Estamos a falar do salário base, pois quanto a promoções as empresas são livres de o decidir.

Temos um problema de competitividade há muito tempo, foi possível recuperar o equilíbrio externo mas estamos já de novo com problemas nas contas e precisamos de corrigir. Já a inflação, não sendo muito alta, está entre as mais elevadas da Zona Euro pelo que precisamos de controlar os custos, como faz a Alemanha. Aliás, a Alemanha teve uma grande contenção salarial quando entrou no euro. Grande parte do superavit alemão deve-se a essa contenção. Se a Alemanha o faz, por maioria de razão Portugal terá que o fazer.

Mas cortar rendimento, não aumentar o poder de compra, não é um entrave ao crescimento económico?

Aumentar o rendimento com base num crescimento da produtividade que não existe é criar uma ficção. É dar rendimento às pessoas que vão gastar em importações e voltamos a agravar as nossas contas externas. Foi isso que nos levou à troika. Não convém repetir os erros do passado.

O Fórum culpa o governo pela ausência de investimento, mas onde está o investimento dos privados? Por que não investem?

Quanto ao investimento privado, começou a cair logo no primeiro trimestre por razões que com facilidade identificámos: o governo tomou uma série de medidas anti investimento e anti-empresários ao reverter contratos de concessões, a privatização da TAP, etc.

O PS, na oposição tinha chegado a acordo com o PSD e CDS para uma reforma do IRC e agora este governo voltou atrás. Tudo isto são sinais que revelam uma atitude anti-empresarial e isso vê-se também entre empresários internacionais.

Mas mesmo assim, não há capacidade no tecido empresarial português para investir mais, para mexer com a economia?

A questão não é haver capacidade. A questão é não haver confiança para se fazer os investimentos. Dado que a economia não está bem, os empresários preferem esperar até que o ambiente económico e político se torne mais favorável.

Já quanto ao investimento público, o governo tinha orçamento um grande aumento para 2016. Mas agora como a economia está a crescer muito pouco as receitas fiscais estão a ressentir-se. O IVA, por exemplo está a ter um comportamento horrível, as receitas estão a crescer 0,5% o que é pouquíssimo, menos do que a economia está a crescer. Ora para controlar as contas o executivo está a sacrificar o investimento público que está a cair imenso mais de 10%. É responsabilidade do Governo.

Comentários
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  • Macacos me mordam
    03 set, 2016 Setubal 20:31
    Esta entrevista demonstra a incompetência e falta de coerencia do Sr. PBT e daqueles que representa. Defende que apostar no consumo interno é um erro, mas depois também critica a baixa de "rendimento" do IVA. A conversa da baixa produtividade, é velha e dá muito jeito. Que fizeram os empresários nos últimos anos para aumentar a tão apregoada baixa competitividade? Poruqe motivo são os nossos colaboradores tão apreciados no estrangeiro pelas suas elevadas competências e rendimento? Só mesmo quem nunca contactou com o mundo do trabalho e emprego lá fora é que se deixa enganar por estas velhas histórias. Dá muito jeito, ao estilo antigo da inquisição, apregoar o medo para fazer vencer as vontades... Contudo, de velha a estória já tem pernas curtas. Inovem, inventem outra aldrabice qualquer para continuar a convencer os colaboradores a receber pouco pelo seu elevado nivel, empenho e qualidade que dia a dia fazem as empresas andar para a frente. Já é altura de formarmos os nossos empresários e de lhes ensinarmos como podem ter sucesso nos seus negócios sem depender das "esmolas" dos governos. Cresçam e apareçam...
  • Mário Cardoso Leitão
    03 set, 2016 S João da Talha 17:08
    Se a maioria dos Empresários em vez de mudarem de BMW AUDIS ETC TODOS OS ANOS SE NÃO COMPRASSEM GRANDES CASARÕES NO ALGARVE NOS OS LUCROS DAS EMPRESAS E EM VEZ DISSO SUBSTITIISSEM AS MÁQUINAS ABSOLETAS E POUCO PRODUTIVAS,ALGUMAS COM MAIS DE 20 E 30 ANOS POR MAIS EVOLUIDAS E MODERNAS,DE CERTEZA QUE A PRODUTIVIDADE AUMENTAVA! PORQUE SE OS PORTUGUESES NO ESTRANGEIRO SÃO RECONHECIDOS PELO SEU PROFISSIONALISMO E PRODUTIVIDADE....
  • victor
    03 set, 2016 lx 11:06
    Deixar pessoas na miséria não é ficção, é realidade...,produtividade aumenta-se por outros meios, não através de salários muito baixos.
  • LIBAR
    03 set, 2016 Vila Real 10:54
    Este confunde confiança com INCOMPETÊNCIA dos empresários.
  • Jose
    03 set, 2016 Sto Tirso 10:42
    Impressionante!Como a mente desta gente está cativa do neoliberalismo desbragado! Para este, a "culpa" da situação em que estamos é da "falta de produtividade" = pouco trabalho e ordenados altos! E muito do povo continua a acreditar nisto ...Pobre povo! Uma pergunta final: Que produzirá de concreto este sujeitinho?!!...
  • José António
    02 set, 2016 Setubal 23:11
    BOA!....vá dizer isso ao alucinado do Sr. Marques Mendes!
  • Jorge
    02 set, 2016 Coimbra 22:25
    Claro que quando não há confiança nos agentes políticos não há investimento! Temos pena, mas é assim!
  • Fausto
    02 set, 2016 Porto 22:21
    Que grande bandido!
  • Luiz Silva
    02 set, 2016 Lisboa 21:57
    Efectivamente houve durante o último governo um aumento de produtividade acompanhado de uma diminuição de salários, tendo como consequência uma redistribuição da riqueza produzida, em detrimento dos assalariados. Se agora se procura corrigir essa situação, não me parece mal. Relativamente ao enorme problema da dívida, ela não foi gerada pela massa salarial, como se verifica, mas fundamentalmente vpelos negócios criminosos em torno do sistema financeiro.
  • desatina carreira
    02 set, 2016 queluz 21:42
    muda o disco toca mesmo

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