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“Achavam que éramos racistas?”. Trump colocou os Óscares em perspectiva

27 fev, 2017 - 08:51 • Catarina Santos

A questão da diversidade é tão 2016. Quase sem se ouvir pronunciar o seu nome, este ano foi Donald Trump o alvo dos discursos políticos da noite de entrega dos Óscares.

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“Achavam que éramos racistas?”. Trump colocou os Óscares em perspectiva

Não houve, propriamente, a enxurrada de alfinetadas políticas contra Donald Trump que muitos aguardavam, mas houve "farpas q.b.", na noite mais longa de Hollywood. Logo no monólogo de abertura, o anfitrião Jimmy Kimmel não perdoou: “Esta cerimónia está a ser vista em directo por milhões de americanos e um pouco por todo o mundo, em 225 países – que agora nos odeiam.”

O comediante seguiu para o único momento sério de toda a intervenção. “O país está dividido. As pessoas têm-me pedido que diga algo que nos una. Eu não sou o homem que vai unir este país. Mas não é uma tarefa impossível. Se cada pessoa que está a ver esta cerimónia dedicar um minuto a uma pessoa com a qual não concorda e se tiverem uma conversa positiva – não como liberais ou conservadores, mas como americanos –, se todos fizermos isso, podemos tornar a América grande outra vez. Começa connosco.”

De volta às piadas, Kimmel ousou “agradecer ao Presidente Trump” e justificou a atitude impopular: “Lembram-se que, no ano passado, parecia que os Óscares eram racistas? Isso acabou, graças a ele. Foi um ano incrível para os filmes: pessoas negras salvaram a NASA e pessoas brancas salvaram o jazz.”

O apresentador foi salpicando a noite com intervenções no mesmo tom. Chegou mesmo a escrever um tweet, projectado numa grande tela para toda a sala ler, destinado a Donald Trump. Dizia qualquer coisa como “hey @realDonaldTrump, estás acordado?”, seguido da “hashtag” #Merylsayshi (“a Meryl [Streep] diz olá”). Recorde-se que a actriz foi bastante crítica do Presidente nos Globos de Ouro, o que levou o próprio a considerá-la depois “uma das actrizes mais sobrevalorizadas de Hollywood”.

Contra os muros

Antes de entregar o Óscar para Melhor filme de Animação ao filme “Zootrópolis”, o actor Gael Garcia Bernal arrancou palmas de pé com três frases: “Os actores de carne e osso são trabalhadores migrantes. Viajamos por todo o mundo, construímos famílias, histórias, vidas que não podem ser divididas. Como Mexicano, como latino-americano, como trabalhador migrante, como ser humano, sou contra qualquer tipo de muro que nos queira separar".

Rich Moore, um dos autores de “Zootrópolis”, seguiu a mesma linha de discurso no agradecimento da distinção, sublinhando que quis fazer “uma história que mostra que a tolerância é mais forte que o medo do outro”.

Recados do Irão: “Dividir cria medo”

O discurso mais político da noite veio do Irão. O realizador Asghar Farhadi, que ganhou pela segunda vez o Óscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira, pelo filme "O Vendedor" (tinha vencido já em 2011 com “Uma Separação”), tinha anunciado que não iria comparecer na cerimónia, em protesto contra o decreto da administração de Donald Trump para impedir a entrada de nacionais de sete países nos Estados Unidos. Cumpriu, mas enviou recados.

Num texto lido por Anousheh Ansari, astronauta de origem iraniana, Asghar Farhadi disse que era “uma grande honra receber este prémio valioso, pela segunda vez” e lamentou não poder estar presente. “A minha ausência tem a ver com o respeito que tenho pelas pessoas do meu país e das outras seis nações que foram desrespeitadas pela lei desumana que proíbe a entrada de imigrantes nos Estados Unidos”.

O realizador escreveu que “dividir o mundo em duas categorias - nós e os nossos inimigos - cria medo” e sustentou que se trata de “uma explicação enganadora para a agressão e a guerra”.

Atitudes que, continua, “impedem a democracia e os direitos humanos em países que têm sido vítimas de agressão”.

A iraniana que leu a mensagem de Farhadi foi acompanhada no palco por Firouz Naderi, ex-cientista da NASA e também de nacionalidade iraniana.

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