18 dez, 2016 - 23:35
Um grupo de pessoas manifestou-se este domingo contra o Circo Cardinali por usar animais, alegando que estes são espancados com ferros nos treinos, uma acusação negada pela empresa, que diz ensiná-los "com festinhas e alimentos".
Faltava mais de meia hora para o início do segundo espectáculo da tarde e os dois portões de entrada para o recinto do Circo Vitor Hugo Cardinali já tinham centenas de pessoas concentradas, que pareciam ignorar a presença dos cerca de 30 manifestantes que se deslocaram ao Parque das Nações Norte, em Lisboa.
A concentração silenciosa fazia-se ouvir apenas através dos cartazes que criticavam o uso de animais em espectáculos: "Artistas humanos sim; animais nos circos não" ou "Açoitados e confinados sem direitos e sem protecção" eram algumas das frases dos activistas que distribuíram panfletos pelos presentes.
Para os manifestantes, o circo é um grande espectáculo do ilusionismo que esconde também os maus-tratos feitos aos animais durante os treinos para que realizem performances perfeitas.
"No espectáculo não se nota. Eles até lhes dão festinhas, mas o problema são os treinos. Eles são espancados com paus, picados com ferros em brasas, são privados de alimentos. Estes animais fazem vários espectáculos por dia... E vivem uma vida fechados numa jaula até à sua morte", alertou Camilo Soveral, dos Veganos de Sintra, uma das entidades que organizou a manifestação.
A Lusa confrontou o representante do Circo Cardinali, que negou todas as acusações: "Os nossos animais são muito bem tratados. Já não são animais selvagens, são todos de cativeiro. Nasceram aqui no circo e não são treinados com violência, senão seriam muito mais agressivos. Os treinos começam por ser uma brincadeira e é através de estímulos positivos. Damos-lhes caricias e alimentos", disse à Lusa Gonçalo Dinis.
O porta-voz da organização garantiu que as pessoas gostam de assistir a espectáculos com animais e que há cada vez mais adesão ao Circo Hugo Cardinali: "Neste momento temos 3.200 pessoas lá dentro a assistir ao espectáculo, e 20 cá fora a manifestar-se contra", resumiu.
Apesar de estarem em clara minoria e de serem raras as famílias que se mostraram sensibilizadas, os manifestantes acreditam que estas iniciativas têm resultados.
"A ideia é deixar as pessoas a pensar. Sabemos que não vamos conseguir mudar a cabeça dos mais velhos, mas os mais novos, se calhar, chegam a casa e vão à internet ver uns vídeos e provavelmente não voltam", explicou à Lusa Eduardo Araújo.
Entre os espectadores, a Lusa encontrou uma mulher que se disse arrependida de levar o neto ao circo: "Realmente, nem pensei. Sou contra as touradas, mas nunca tinha pensado na perspectiva dos animais do circo", disse Maria Amélia, que acabou por entrar para o espectáculo.
Dentro do recinto do circo, a polémica parecia esquecida. As crianças ficavam deslumbradas logo na primeira tenda, onde estavam os presentes oferecidos por empresas aos filhos dos respectivos funcionários, mas o ponto alto era na segunda barraca, onde foi montada uma mini-feira popular, com cheiro a algodão doce, pipocas e churros feitos no camião de "Farturas da Família Morador".
Dentro da tenda gigante de napa vermelha e estrelas douradas, há carrinhos de choque para crianças, um carrossel infantil, um twister com helicópteros ao tamanho dos mais pequenos e, até, um recinto com três póneis. Há também uma máquina de ler a sina que parece abandonada.
Os manifestantes garantem que não são contra nada disto. Só mesmo contra a utilização dos animais em espectáculos.