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Centro Histórico do Porto enfrenta “novos desafios”. Investigadores não estão satisfeitos

05 dez, 2016 - 10:07

Na passagem dos 20 anos da classificação como Património Mundial, há algumas reservas face ao que tem sido feito, mas a Sociedade de Reabilitação Urbana garante que tem cumprido “escrupulosamente” o compromisso assumido com a UNESCO.

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O Centro Histórico do Porto “não é só epiderme” e tem que ser pensado para lá das intervenções que destroem o que está por trás das fachadas dos edifícios, dizem investigadores, no dia em que se assinalam 20 anos da classificação do centro da cidade como Património Mundial.

Em declarações à agência Lusa, o professor da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto Francisco Barata Fernandes diz não ter uma “visão optimista” sobre os 20 anos que passaram desde a classificação do centro da cidade.

O professor catedrático acreditava, na altura, que "a classificação iria introduzir alguma disciplina e até algum estímulo para que a recuperação fosse feita com critérios que mantivessem o valor patrimonial dos edifícios e não parece ser isso que está a acontecer".

Já o presidente da Porto Vivo - Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU), Álvaro Santos, diz que a cidade tem cumprido "escrupulosamente" o compromisso assumido com a UNESCO.

"A SRU é a guardiã do cumprimento da gestão urbanística e das leis de salvaguarda e protecção do património, juntamente com Direcção Geral do Património Cultural. Fiscalizamos e, quando tivermos de actuar, actuamos", diz Álvaro Santos, em entrevista à Lusa.

Questionado sobre se é o preço da obra que motiva as decisões de construção, Francisco Barata Fernandes responde que “em muitas empresas é mais convidativo não pensar tanto, mandar abaixo o que está e fazer como fazem sempre, quer seja uma casa do século XXI como do século XX”.

O arquitecto acrescentou ainda que “preservar o património exige uma coisa que qualquer pessoa que queira mesmo reabilitá-lo e não esteja a fazer negócio à pala do património acha natural: primeiro é estudá-lo". O centro histórico ”não é só a fachada, mas o entrar em cada uma das casa e perceber a sua organização interna”, acrescentou Francisco Fernandes.

O presidente da SRU admite que o Centro Histórico da cidade enfrenta “novos desafios”, sobretudo pelo aumento do turismo, mas rejeita as críticas de "plastificação" do território classificado.

Francisco Barata Fernandes admite que se esteja perante "uma atitude onde o que se privilegia é a imagem da fachada porque é isso que permite fazer o negócio turístico". Não se opondo ao fluxo turístico, o professor da FLUP acredita que os excessos podem "deixar mazelas" no tecido urbano.

O arquitecto afirma ainda que é necessário perceber se os fundos investidos na reabilitação urbana, sendo públicos, estão "a produzir uma melhor cidade ou se [estão] a acelerar estes processos de fachadismo e de concentração económica em poucas empresas".

O Centro Histórico do Porto recebeu, nos últimos três anos, cerca de 150 a 200 obras por ano, afirmou Álvaro Santos.

Para comemorar os 20 anos passados desde a classificação dada pela UNESCO, os sinos de todas as Igrejas do Centro Histórico do Porto tocam às 12h00, esta segunda-feira.

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