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Fidel Castro, o "último revolucionário"

26 nov, 2016 - 08:42 • José Bastos com Redacção

Nos últimos anos, a figura de Fidel Castro, heróica e simbólica, para alguns, anacrónica e ultrapassada, para outros, continuou a atrair atenções, mesmo entre quem o considerou o exemplo acabado do autocrata antidemocrático.

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Fidel Castro. O "último revolucionário"
Fidel Castro. O "último revolucionário"

Último dos grandes românticos revolucionários ou ditador implacável, o ângulo de observação pode variar, mas os analistas seguramente consagram Fidel Castro Ruz como um dos actores políticos mais polémicos e longevos do século XX. Morreu esta sexta-feira aos 90 anos, anunciou o seu irmão Raúl Castro, presidente cubano, decretando nove dias de luto nacional.

Destacado líder estudantil da Faculdade de Direito de Havana, onde ingressou em 1945, em 1953 encabeçou o frustrado ataque ao quartel de Moncada que lhe valeu a cadeia e também a celebridade.

Na sua defesa, Fidel pronunciou o célebre discurso “a história absolver-me-á”. Mais tarde é libertado e no México, ao lado de Che Guevara, organiza o movimento guerrilheiro que derruba a ditadura de Baptista em 1 de Janeiro de 1959.

As primeiras medidas levam-no a enfrentar os Estados Unidos e acolhe-se nos braços da antiga União Soviética, tardando pouco a instaurar em Cuba o primeiro estado comunista da América Latina.

Fidel Castro suprime a oposição, sovietiza a economia e tenta exportar a revolução cubana para outras latitudes. Na década de 90 aguentou o impacto do derrube da União Soviética e aliviou a sensação de isolamento com novos amigos como Hugo Chávez, decisivo para a sobrevivência do castrismo.

Debilitado fisicamente a 31 de Julho de 2006, Fidel delegou a Chefia do Estado ao seu irmão mais novo Raúl Castro, que viria a assumir com plenos poderes a 24 de Fevereiro de 2008.

Nos últimos anos a figura de Fidel Castro, heróica e simbólica, para alguns, anacrónica e ultrapassada, para outros, continuou a atrair atenções, mesmo entre quem o considerou o exemplo acabado do autocrata antidemocrático.

O resistente que enfrentou dez presidentes norte-americanos

Fidel Castro nasceu a 13 de Agosto de 1926, em Birán, uma pequena localidade do município cubano de Mayari, no seio de uma família de origens galegas. Apenas aos 17 anos foi reconhecido pelo pai e registado com o nome definitivo: Fidel Alejandro Castro Ruz.

Frequentou escolas de jesuítas e, depois, a Universidade de Direito de Havana, onde começou a participar em acções de agitação.

Teve dois filhos, um com a mulher com quem casou em 1948 e Alina, fruto de um caso extraconjugal, que só aos 10 anos soube ser filha de Fidel e se exilou nos EUA.

Após um longo e conturbado período como opositor do regime de Fulgêncio Batista (um aliado dos Estados Unidos), o guerrilheiro Fidel Castro e o seu companheiro de luta Che Guevara chegaram a 1 de Janeiro de 1959 a Havana e a Revolução Cubana fazia a sua entrada na História.

Em 1961, declarou Cuba um Estado socialista e os EUA cortaram relações diplomáticas com Havana, que se prolongaram até 2015. Em Março deste ano, Barack Obama tornou-se no primeiro Presidente norte-americano em funções a visitar a Cuba em 88 anos.

No entanto, dura até hoje o embargo económico dos EUA a Cuba, iniciado também em 1961.

Fidel resistiu à oposição de dez presidentes norte-americanos (Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon, Ford, Carter, Reagan, Bush pai, Clinton e Bush filho), numa relação com os EUA que transportou a Guerra Fria para o continente americano.

Desde o triunfo da revolução, Cuba manteve relações estreitas com o bloco socialista europeu. Até à queda da União Soviética, em 1991, recebeu ajuda económica e militar do país, mas o fim do bloco comunista fez Cuba mergulhar numa crise económica.

Fidel chegou ao poder apoiado pela maioria dos cubanos, prometendo reinstaurar a Constituição de 1940, criar uma administração honesta, restabelecer liberdades civis e políticas e realizar reformas moderadas. Mas recebeu acusações da comunidade internacional de autoritarismo, radicalismo e violação aos direitos humanos, além de perseguição a religiosos e homossexuais.

Milhares de cubanos deixaram o país, de maneira legal ou ilegal, por não estarem de acordo com o governo ou por causa da situação económica.

A 31 de Julho de 2006, Fidel Castro afastou-se devido a problemas de saúde e delegou o poder em Raul Castro, que começou um processo de abertura e de reformas no país, reconhecido em 2009 pela União Europeia, que levantou nesse ano as sanções a Havana.

"Desejo só combater como um soldado das ideias. Continuarei a escrever (...). Será mais uma arma do arsenal com que se poderá contar", escreveu Fidel no dia em que renunciou.

Durante a última década, fez poucas aparições públicas, foi dado como morto várias vezes na Internet e nas redes sociais e manteve um contacto regular com o mundo através dos seus artigos.

Também era um anfitrião para Presidentes e outras personalidades que visitavam a ilha caribenha, como aconteceu no mês passado com o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, que foi recebido por Fidel quando visitou Cuba.

Os mais assíduos foram os aliados bolivarianos, os Presidentes da Bolívia e da Venezuela, Evo Morales e Nicolas Maduro (e o seu antecessor Hugo Chávez) respectivamente, mas também recebeu o Papa Francisco em Setembro de 2015, o chefe de Estado francês François Hollande quatro meses antes e o patriarca ortodoxo russo Kiril em Fevereiro deste ano.

Num país em crise económica e desafiado pelas consequências da normalização das relações com os Estados Unidos, a figura e as palavras de Fidel Castro continuavam a ter eco na política e na sociedade cubanas, sendo ainda uma inspiração para os que querem manter uma ortodoxia revolucionária face à crescente pressão para uma maior abertura política e económica.

"Reiteramos o compromisso de permanecermos fiéis às ideias pelas quais [Fidel Castro] lutou ao longo da sua vida", afirmou este ano o "número dois" do Partido Comunista Cubano (PCC).

Foi a 13 de Agosto, quando fez 90 anos, que apareceu pela última vez publicamente.

Meses antes, em Abril, no VII Congresso do Partido Comunista de Cuba, fez um discurso que soou a despedida.

"Talvez esta seja a última vez que falo nesta sala. Em breve cumprirei 90 anos, não em resultado de nenhum esforço mas por capricho do destino. Sou como todos os demais: também chegará a minha hora", disse.

"A todos chegará a sua vez, mas as ideias dos comunistas cubanos permanecerão como prova de que neste planeta, se trabalharmos com fervor e dignidade, podemos produzir os bens materiais e culturais que os seres humanos precisam e devemos lutar incansavelmente para obtê-lo", defendeu.

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  • Azedo
    30 nov, 2016 cascais 13:31
    Infelizmente.............Gostava que o título tivesse sido "O Último ditador !!", mas no funeral estavam lá alguns e bem vivos Quanto à palavra REVOLUCIONÁRIO....para mim são aqueles que derrotam ditaduras e criam Democracias....por exemplo os Capitães de Abril....a estes sim....OBRIGADO !!
  • Mafurra
    28 nov, 2016 Lisboa 17:16
    Mais um ditador que morreu. E que tinha os seus seguidores...
  • Paulo silva
    26 nov, 2016 PORTO 22:53
    HASTA SIEMPRE COMANDANTE!!!!!
  • Antonio João
    26 nov, 2016 Betembourg 22:02
    Com que então defensor, defensor dos mafiosos com os quais se rodeou e os outros que vivem na maior das misérias e sem poderem sequer sair do país, será isto uma boa maneira de governar, só posso dizer coitados dos cubanos.
  • Eborense
    26 nov, 2016 Évora 20:27
    Falso. O último revolucionário é o António Costa.
  • 26 nov, 2016 14:25
    Senhor heitor eu estou com pouco vagar! Mas estive a ver a sic e agora a cmtv fiquei satisfeita por saber que ha mais gente que pensa como eu . Penso que joao pereira coutinho teve vergonha de dizer mais qualquer coisa sobre quem acha que fidel e um lider controversio!
  • rosinda
    26 nov, 2016 palmela 13:12
    Quem e amigo de ditadores so pode ser ditador tambem ou sera que depois velho deixa de ser ditador?
  • Rosinda
    26 nov, 2016 palmela 12:12
    Assim que li esta noticia pensei com os meus botoes so vais ser enterrado no fim de estares podre! Pelo vistos nao me enganei!

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