Crónicas da América
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FBI liberta Hillary de acusação criminal e acaba com maior pesadelo da candidata

07 nov, 2016 - 00:09 • José Alberto Lemos, em Nova Iorque

A 48 horas das eleições, a ameaça que pairava sobre Clinton chega ao fim. Novos emails não conduziram a conclusões diferentes das de Julho. Se Clinton vencer, exercerá mandato sem o fantasma do "impeachment".

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O maior pesadelo que pairava sobre Hillary Clinton parece ter chegado ao fim neste domingo, apenas 48 horas antes da eleição presidencial mais atribulada de que há memória.

O FBI decidiu não avançar com nenhuma acusação criminal à candidata no caso do emails, nove dias após ter lançado na campanha uma verdadeira bomba política. E se escrevemos “parece ter chegado ao fim” é porque esta é a segunda vez que o FBI iliba a ex-secretária de Estado de práticas ilícitas.

A agência federal tinha chegado à mesma conclusão em Julho passado, mas o aparecimento, há nove dias, de novos emails que poderiam estar relacionados com o caso levou o director do FBI a anunciar o retomar da investigação e a deixar no ar a hipótese de conclusões diferentes. E nesta lógica ninguém pode garantir que mais tarde não surjam outros emails suspeitos.

James Comey, o director do FBI, enviou este domingo à tarde (noite em Portugal) outra carta ao Congresso a informar que a agência mantém as suas conclusões iniciais de não recomendar acusação contra Clinton.

Os investigadores trabalharam dia e noite para reverem os milhares de emails que tinham aparecido no computador de Anthony Weiner, ex-marido de Huma Abedin, assessora de Hillary, e que poderiam eventualmente ser relevantes para o processo. Pelos vistos, nenhum elemento pertinente foi encontrado que pudesse alterar o juízo que o FBI já tinha feito em Julho.

Recorde-se que não estamos a falar de emails escritos ou recebidos por Hillary Clinton, mas sim de emails trocados entre o casal referido e onde poderia ter circulado informação classificada. Quando decidiu não acusar Clinton, em Julho passado, o FBI sublinhou contudo que a ex-secretária de Estado tinha sido “extremamente negligente” na forma como lidou com essa informação e também pelo facto de ter usado um servidor privado na sua casa de Nova Iorque, desobedecendo às normas em vigor para todos os membros da Administração de só usar os servidores oficiais.

No entanto, essa conduta de Clinton foi considerada isenta de dolo, de intenção em cometer uma ilegalidade, razão pela qual não foi acusada.

A decisão do FBI foi então muito criticada pelos republicanos que viram nela (mais) um exemplo do sistema político “viciado” de que tanto fala Donald Trump e que estaria montado para proteger os responsáveis políticos de Washington.

Bomba na campanha

Contudo, quando há nove dias, James Comey anunciou o retomar das investigações foi a vez de os republicanos o elogiarem e os democratas o criticarem. Trump disse num comício que “talvez afinal o sistema não esteja tão viciado quanto julgava”, enquanto os democratas acusavam Comey de ter violado um protocolo existente na área da Justiça segundo o qual não deve haver diligências judiciais relevantes sobre candidatos a cargos a menos de 60 dias das eleições.

O anúncio do retomar das investigações do caso dos emails há nove dias –e a onze dias do acto eleitoral – caiu na campanha como uma bomba, instalando algum pânico entre os democratas e insuflando bastante ânimo aos republicanos. Desde então as sondagens começaram a ser mais favoráveis a Trump, registando uma aproximação do magnata à sua rival, que em alguns casos chegou a um empate.

Houve claramente um aumento de intenção de voto em Trump, enquanto Clinton mantinha em geral a sua percentagem. Essa subida do multimilionário parece ter estancado no fim-de-semana e as sondagens publicadas no domingo voltavam a colocar Hillary numa posição relativamente confortável, que oscilava entre os três e os cinco pontos percentuais de diferença.

Na contabilidade feita estado-a-estado, Clinton continua a ter um caminho para a vitória muito mais fácil do que Trump, mantendo-se por isso como favorita para terça-feira. Mas a subida do republicano em alguns dos estados oscilantes permite-lhe acalentar também a esperança de chegar à vitória, sobretudo se se confirmar um fenómeno de subavaliação de muitos eleitores de Trump que, segundo os republicanos, se inibem de confessar em sondagens que são seus eleitores.

O "forcing" final dos dois candidatos tem sido frenético com a campanha democrática a distribuir todas as suas vedetas pelos inúmeros locais onde os indecisos podem fazer a diferença. E, ao contrário dos republicanos onde apenas Trump é a vedeta – sobretudo porque todas as figuras de topo do partido se demarcaram dele e ninguém está a fazer campanha – nos democratas andam na estrada o presidente Obama, a mulher Michelle, o ex-presidente Bill Clinton e a filha Chelsea, o vice-presidente Joe Biden e a mulher, os senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren, além do candidato a vice-presidente Tim Kaine e a mulher.

Por outro lado, a máquina eleitoral democrata é bem mais eficaz do que a de Trump. Neste momento já votaram mais de 35 milhões de americanos no chamado voto antecipado e nalguns dos estados decisivos essa votação parece apontar claramente em favor de Clinton, como será o caso do Nevada onde os latinos estão a acorrer às urnas numa escala superior à de 2012 e 2008.

Livre agora do fantasma de uma acusação criminal, Hillary Clinton vê reforçarem-se as hipóteses de chegar à Casa Branca, mas também de exercer a presidência, caso vença, sem o cutelo permanente de uma acusação criminal que lhe poderia vir a custar o cargo.

Esse fantasma de a sua presidência se transformar num novo Watergate, o escândalo político-judicial que levou o presidente Richard Nixon a resignar em 1974, estava aliás a ser explorado por Donald Trump na campanha. O magnata repetia nos seus comícios que Clinton nunca poderia exercer o cargo legitimamente porque mais tarde ou mais cedo o seu mandato seria impugnado (impeached) como consequência do processo judicial desencadeado pelo caso dos emails.

Na verdade, um presidente sob tal ameaça seria sempre um presidente vulnerável e politicamente fragilizado. Dessa condição, Hillary Clinton parece estar agora livre. Resta saber se não haverá mais emails suspeitos algures num outro computador ou servidor privado.

Comentários
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  • Joana
    07 nov, 2016 Lisboa 18:06
    Força Hillary! Eu também votaria em si, se pudesse! Em bom Alemão: weiter so :-).
  • rosinda
    07 nov, 2016 palmela 01:41
    devia existir uma tabela no governo !Mas pelos vistos nao existe cada ano que passa pagamos mais impostos.

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