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50 anos do 25 de abril

87% dos portugueses prefere a democracia a “qualquer outro regime”, mas apoio a governos autocráticos está a crescer

18 abr, 2024 - 16:36 • Salomé Esteves

A vasta maioria dos portugueses mantém-se leal a um governo democrático, 50 anos depois do 25 de Abril. Nos jovens, a percentagem sobe para os 96%. Apesar disso, quase metade da população aceitaria “um líder forte”, mesmo sem ato eleitoral.

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A democracia é “preferível a qualquer outro regime”, ainda que tenha “muitos defeitos”. É o que dizem quase 90% dos inquiridos no estudo 50 anos de Democracia em Portugal: Aspirações e Práticas Democráticas, do ISCSP, realizado em colaboração com o jornal Público, que avança as conlusões.

Entre os jovens, o apreço pela democracia é maior, uma vez que, nesta faixa etária, 96% das pessoas concordam que a melhor forma de governo é um sistema democrático. Porém, quase metade dos mesmos participantes também acredita que um executivo composto por “tecnocratas” seria vantajoso para o país.

Apesar de ambas as percentagens serem muito altas, a equipa de investigação não deixa de sublinhar que 47% dos inquiridos admite apoiar “um líder forte”, mesmo sem recurso a um ato eleitoral. Esta proporção, combinada com os 70% que concordam com um executivo composto por especialistas, ou tecnocratas, leva os investigadores a concluir que “hoje coexiste a preferência pela democracia com as preferências por formas autocráticas de governo”.

A afirmação é de Conceição Pequito, em entrevista ao jornal Público. Pequito é investigadora coordenadora estudo 50 anos de Democracia em Portugal: Aspirações e Práticas Democráticas - continuidades de Mudanças Geracionais, realizado no Centro de Administração de Políticas Públicas (CAPP) do Instituto de Ciências Sociais e Políticas da ULisboa (ISCSP), em parceria com o Público.

No mesmo artigo, a investigadora acrescenta que as duas formas de governo mais antiéticas à democracia têm ganhado terreno, em Portugal, desde 2011, e sublinha que se mantém forte a lealdade à ideia de um governo democrático.

Mas quem, entre os inquiridos, demonstra maior tendência para apoiar um sistema não-democrático? Ao analisar os dados demográficos, a equipa concluiu que são os adultos entre os 35 aos 64 anos e, depois, os mais velhos, que vivem em grandes vilas ou cidades, aqueles que se sentem mais inclinados a rejeitar a democracia.

Por outro lado, quem prefere um sistema de governo democrático mostra outras tendências, que não demográficas. As pessoas leais à democracia sentem-se, descobriu a equipa de investigação, representadas por um ou vários partidos políticos e capazes de participar no discurso político. Estes cidadãos também estão geralmente posicionados ao centro, têm mais acesso a informação fidedigna e têm uma visão positiva sobre o funcionamento do país, da democracia e das instituições.

É neste ponto que a equipa de investigação chega a uma conclusão relevante: o grau em que um cidadão sente que pode participar ou contribuir para a vida democrática ou discutir os assuntos do país vai influenciar a sua confiança da democracia. Se, por um lado, quem tem acesso a informação se sente leal à democracia, quem se sente excluído ou incapaz de compreender assuntos políticos complexos, alinharia com um “governo de especialistas” ou “com um líder forte”. No artigo do Público, os investigadores defendem, então, uma “democracia mais participativa”.

Na primeira parte da investigação, publicada no final de março, os investigadores já tinham concluído que os jovens valorizam mais o legado do 25 de Abril do que as outras faixas etárias.

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